Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
 LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO : APESAR DOS PESARES!



De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: qua., 25 de jun. de 2025

APESAR DOS PESARES!

O título não é meu, mas de um poema de Climério Ferreira com o qual nos brindou hoje o Correio Braziliense.

“Apesar dos Pesares” fala de esperança às vezes não merecida, pois a violência no mundo nem é notada. Permanecendo a crença de que o amor sobreviverá. “ Eu às vezes não mereço a esperança que tenho/ Nem noto a violência que o mundo insiste em respirar/ Creio até que o amor sobreviverá às solidões individuais/ E encaro o medo e o de todos – cara a cara/ Para que a emoção da minha crença particular sobreviva/ Abro a porta como quem dilacera o coração/ Ao notar que a luz que vem do sol traz notícias terríveis/ Mesmo assim a esperança dança como a chuva/ Molhando meus nervos de uma alegria morna/ Que insiste em me dizer que apesar de tudo eu sou feliz.”

Bendito seja! Aquele que, embora dilacere seu coração ao notar a chegada de notícias terríveis, encara o medo cara a cara, e reconhece que a esperança ainda molha seus nervos como a chuva, na certeza de que, apesar de tudo, ainda é feliz. O sofrimento, que escorrega pela alma em tantas ocasiões de nossas vidas, é aqui enfrentado mesmo com o coração agoniado, se partindo em pedaços, para ressurgir mais adiante com a esperança e a certeza da felicidade. Ah! Esta força da esperança que nos estimula e carrega para que nossos sonhos se realizem! Esta bendita e amorável certeza da felicidade. Nos atingirão a todos?

Às vezes, para alguns, por entre a alegria e a mornidão de se achar momentaneamente feliz, há um temor escondido. Uma angústia surda enredada nas tramas mais recônditas do coração. Uma certa dúvida diante da fragilidade e finitude de tudo. E do sofrimento que nos cerca. Sim. Talvez também vejam a vida por uma fresta da porta, como no conto “A mulher da fresta” de Adriana Kortlandt. Quem sabe, vencidos pelo medo. Ou por um sentimento de melancolia intensa, do qual fala Neruda em seu poema “Melancolia nas famílias”. Em uma de suas partes ele diz: “Vou pelas tardes, / chego cheio de lodo e morte, /arrastando a terra e suas raízes, / e sua barriga vazia onde dormem/ cadáveres com trigo, / metais, elefantes derrubados.” Ou como em “Doenças na minha casa”, no final: “Estou cansado de uma gota, / estou ferido em apenas uma pétala, / e por um buraco de alfinete sobe um rio de sangue sem consolo”. Drummond também fala da perda da esperança em seu “Soneto da perda da Esperança”, no primeiro verso: “Perdi o bonde e a esperança/ Volto pálido para a casa/ A rua é inútil e nenhum auto/ Passará pelo meu corpo!”

No entanto, é de esperança que nos fala Climério. Desta força, que segundo Augusto dos Anjos, faz os sonhos voltarem: “A esperança não muda, ela não cansa, / Também como ela não sucumbe a Crença, / Vão-se os sonhos nas asas da Descrença, / Voltam os sonhos nas asas da Esperança.” Cora Coralina diz o seguinte: “Diga o que quer com esperança/ Pense no que você faz com fé/ Faça o que você deve fazer com amor”. Rabindranath Tagore afirma: “Senhor! Dá-me a esperança, leva a tristeza e não a entrega a ninguém.” E nosso poeta hoje: “Mesmo assim a esperança dança como a chuva/ Molhando meus nervos de uma alegria morna/ Que insiste em me dizer que apesar de tudo eu sou feliz”. 06/2025/luiza)
 

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