Theresa Catharina de Góes Campos

 

CACHÉ

(Caché) França / Áustria / Alemanha / Itália, 2005, 1h57, 16 anos. Direção: Michael Haneke

Com Juliette Binoche, Daniel Auteuil, Maurice Bénichou, Annie Girardot, Lester Makedonsky, Bernard Le Coq, Walid Afkir, Daniel Duval.

Premiado no Festival de Cannes – Melhor Diretor, Prêmio Ecumênico do Júri e Prêmio FIPRESCI, “Caché” foi dirigido pelo polêmico Michael Haneke (de “A Professora de Piano”) e é protagonizado pelos astros franceses Juliete Binoche e Daniel Auteil. O filme conta a história de Georges, apresentador de um programa literário de TV, que recebe um pacote contendo vídeos dele com sua família, filmados secretamente em sua casa, de uma câmera instalada na rua. Depois disso, ele começa a receber desenhos sinistros. Assustado, ele e sua mulher tentam descobrir o autor daquelas misteriosas ameaças que perturbam a paz de sua família. Logo, percebem que quem os persegue conhece mais sobre o passado de ambos do que eles poderiam esperar.


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Adelaide Oliveira
Adilson Marcelino
Assessoria de Imprensa
Cinemas Embracine


 

 

 

 

(...) “Um filme sobre a imagem e seu efeito no homem contemporâneo. A princípio, esta parece uma definição simplista, mas quando o assunto é o cinema de Michael Haneke, nada costuma ser tão claro assim. “Caché” (2005), o longa-metragem do diretor austríaco, deixa latente o poder desestruturador da vigilância, porém vai mais longe ao questionar a natureza e o sentido das mídias audiovisuais, assim como o processo de criação delas. E como um bom artista que utiliza seu ofício para confrontar a realidade, Haneke não perde a oportunidade de estampar as relações ambíguas entres as classes socias, sempre partindo do ponto de vista do passado e da culpa.

 

 

(...) “Assim, outra imagem fundamental no filme ocorre na rua, por onde transitam os cidadãos desse mundo francês. Laurent, saindo da emissora pela calçada, atravessa distraidamente a rua, no que é surpreendido por um homem a mil em sua bicicleta. Situação ríspida, filmagem seca, em que o tempo conduz totalmente o plano: Laurent, ameaçador, enerva-se e grita com o homem, com vontade, com muita vontade. O homem é negro, e quase se revolta com a arrogância assustada de Laurent. É arrogância? Ele tinha seus motivos, a revolta é efêmera tanto quanto é justa. O fato é que Laurent grita pois gritaria com qualquer um, afinal sentiu-se ameaçado. Ou, seria mais correto: grita com mais vigor pois realmente acha que um atropelamento é um absurdo, mas, inseminada nele está a noção de que se quem estiver na garupa for um imigrante africano, tanto pior, por que haveria uma distância, como no caso do argelino da infância, incontornável. 

 

Pode ser, aliás, ficamos com essa porque estamos acostumados ao bombardeamento de signos das lógicas políticas, pode ser a mais conservadora ou ético-liberal. O mal-estar de classes, não importa quais, é tão mais sombrio e determinante do atual estado de coisas quanto sofisticado, mas onde está a verdade se Haneke filma o ato, sua própria forma, o seu volume e sua densidade? Daí que há em Caché, nada é certo. Somos levados a renovar crença no que acreditamos, no que aprendemos no modelamento dia-a-dia da pedagogia e dos signos políticos, mas somos, se olharmos profundamente para cada cena, compelidos a esquecer de tudo isso, para nos concentrar no físico, no que, afinal, existe, a única verdade.    

 

Hidden / Caché

 

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