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(Depoimento)
TEATRO EM UBERABA
NAS DÉCADAS DE TRINTA A CINQÜENTA
Tenho notícia da existência, nas décadas de
trinta e quarenta em Uberaba, de um grupo de
teatro musicado, liderado pelo Barão (Lourival
Balduíno de Castro) - autor da letra do Hino do
Uberaba Sport, de Rigoletto De Martino - que
percorria as cidades da redondeza, como
Veríssimo, Conceição das Alagoas e Campo
Florido, aproveitando artistas dessas
localidades para suas apresentações. Tenho
também notícia de espetáculos, compostos de
esquetes e números musicais, que as famílias
Nascimento e Novaes – com as quais tenho
parentesco – lideradas por Sylvia Nascimento,
apresentavam no Cine Royal, na Praça Comendador
Quintino.
Talvez seja por isso – pela ausência por longo
período de atividade teatral na cidade – que, em
1954, quando criei, com ajuda de Pedro Santana,
presidente da União Estudantil Uberabense, o
Teatro do Estudante, “Grupo Quita Próspero”,
vinculado à entidade, tive de enfrentar certa
hostilidade da sociedade para levar a idéia
avante. É possível que essa hostilidade
estivesse também relacionada – hipótese que não
desprezo - com o rigorismo com que o bispo Dom
Alexandre Gonçalves do Amaral exercia seu
pontificado na Cúria Diocesana.
Superando, entretanto, todas as demais
dificuldades, a estréia do Teatro do Estudante
se deu com a peça de um autor da região,
Franklin Botelho, professor em Patrocínio, que
veio a Uberaba para ver a encenação, no
Cine-Teatro São Luiz, de sua comédia de
costumes, “A Incrível Genoveva”, levada também à
cidade de Sacramento. Seguiram-se as
apresentações de “O Maluco n. 04”, de Armando
Gonzaga e “Irene”, de Pedro Bloch, bem como as
visitas do Embaixador Paschoal Carlos Magno e da
atriz Luiza Barreto Leite para falarem sobre
teatro aos estudantes uberabenses.
Com a criação do Núcleo Artístico e Cultural da
Juventude – NACJ – que abrigava estudantes de
nível universitário, sob a presidência de Eleusa
Fonseca, foram apresentados, a partir de 1955,
sob minha direção, os espetáculos: “Casa de
Bonecas”, de Henrik Ibsen, “Pluft, o Fantasminha”,
de Maria Clara Machado, “O Banquete”, de Lúcia
Benedetti, “O Macaco da Vizinha”, de Joaquim
Manoel de Macedo, “O Pedido de Casamento”, de
Anton Tchecov e “Uma Lição de Botânica”, de
Machado de Assis. Em seguida, dirigi, em
parceria com Petrônio Borges, a peça “Assim é,
se lhe parece”, de Luigi Pirandello, também
levada a outras cidades da região.
O NACJ empreendeu então campanha pela construção
de um teatro de alumínio, com base em projeto do
arquiteto Germano Gutzgolf, para ser erguido na
pequena praça existente em frente à igreja de
Santa Rita. Embora já contasse com dotação do
governo estadual praticamente aprovada pela
Assembléia Legislativa, a campanha não foi
adiante por impedimento imposto pela Câmara
Municipal, motivada por trabalho, em sentido
contrário, do vereador Dioclécio Campos, da
extinta União Democrática Nacional – UDN.
Sem desistir de seu intento, o NACJ, presidido
por Iná de Souza, propugnou então pela
concessão, sob regime de comodato, de um
barracão abandonada, da Prefeitura Municipal,
localizado na Rua 13 de Maio, para nele instalar
o Teatro de Bolso. Com a concessão obtida, na
gestão do prefeito Arthur Teixeira, os próprios
integrantes do NACJ se encarregaram das obras de
construção do Teatro de Bolso, inaugurado, em
maio de 1958, com a peça “Cândida”, de George
Bernard Shaw, sob minha direção.
Seguiram-se dois espetáculos - ainda sob minha
direção - constituídos de peças em um ato - “O
Julgamento”, de Franz Kafka e “Os Cegos”, de
Michel de Ghelderode –, além de um recital de
poesia em coro, no estilo jogral, com poemas de
Cecília Meireles, Federico Garcia Lorca,
Langhston Hughes, Jorge de Lima e Murilo Mendes.
Depois desses espetáculos, a cortina do NACJ
fechou-se, para mim, para sempre!...
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
Brasília, maio de 2006 |
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