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Data: Mon, 26
Jun 2006 13:33:10 -0300
De: "Telma Sueli Aguilar"
Assunto: CARTA ABERTA AO BRADESCO
CARTA ABERTA AO BRADESCO
Senhores Diretores do Bradesco,
Gostaria de saber se os senhores aceitariam
pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela
existência da padaria na esquina de sua rua, ou
pela existência do posto de gasolina ou da
farmácia ou da feira, ou de qualquer outro
desses serviços indispensáveis ao nosso
dia-a-dia.
Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos
os usuários, pagariam uma pequena taxa para a
manutenção dos serviços (padaria, feira,
mecânico, costureira, farmácia etc,). Uma taxa
que não garantiria nenhum direito extraordinário
ao pagante. Existente apenas para enriquecer os
proprietários sob a alegação de que serviria
para manter um serviço de alta qualidade.
Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um
remédio, uns litros de combustível etc) o
usuário pagaria os preços de mercado ou,
dependendo do produto, até um pouquinho acima.
Que tal?
Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que
os senhores concordariam com tais taxas. Por uma
questão de equidade e de honestidade.
Minha certeza deriva de um raciocínio simples.
Vamos imaginar a seguinte cena: eu vou à padaria
para comprar um pãozinho. O padeiro me atende
muito gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o
embrulhar do pão, assim como, todo e qualquer
serviço. Além disso, me impõe taxas. Uma "taxa
de acesso ao pãozinho", outra "taxa por guardar
pão quentinho" e ainda uma "taxa de abertura da
padaria". Tudo com muita cordialidade e muito
profissionalismo, claro.
Fazendo uma comparação que talvez os padeiros
não concordem, foi o que ocorreu comigo em seu
Banco.
Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto
de seu negócio. Os senhores me cobraram preços
de mercado. Assim como o padeiro me cobra o
preço de mercado pelo pãozinho.
Entretanto, diferentemente do padeiro, os
senhores não se satisfazem me cobrando apenas
pelo produto que adquiri.
Para ter acesso ao produto de seu negócio, os
senhores me cobraram uma "taxa de abertura de
crédito" - equivalente àquela hipotética "taxa
de acesso ao pãozinho", que os senhores
certamente achariam um absurdo e se negariam a
pagar.
Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho,
digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma
conta corrente em seu Banco. Para que isso fosse
possível, os senhores me cobraram uma "taxa de
abertura de conta".
Como só é possível fazer negócios com os
senhores depois de abrir uma conta, essa "taxa
de abertura de conta" se assemelharia a uma
"taxa de abertura da padaria", pois, só é
possível fazer negócios com o padeiro depois de
abrir a padaria.
Antigamente, os empréstimos bancários eram
popularmente conhecidos como "Papagaios". Para
liberar o "papagaio", alguns gerentes
inescrupulosos cobravam um "por fora", que era
devidamente embolsado. Fiquei com a impressão
que o Banco resolveu se antecipar aos gerentes
inescrupulosos. Agora ao invés de um "por fora"
temos muitos "por dentro".
- Tirei um extrato de minha conta - um único
extrato no mês - os senhores me cobraram uma
taxa de R$ 5,00.
- Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de
R$ 7,90 "para a manutenção da conta" -
semelhante àquela "taxa pela existência da
padaria na esquina da rua".
- A surpresa não acabou: descobri outra taxa de
R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa para manter
um limite especial que não me dá nenhum direito.
Se eu utilizar o limite especial vou pagar os
juros (preços) mais altos do mundo. Semelhante
àquela "taxa por guardar o pão quentinho".
- Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil
funcionária que me atendeu, me entregou um
caderninho onde sou informado que me cobrarão
taxas por toda e qualquer movimentação que eu
fizer.
Cordialmente, retribuindo tanta gentileza,
gostaria de alertar que os senhores esqueceram
de me cobrar o ar que respirei enquanto estive
nas instalações de seu Banco.
Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora
não sei se comprei um financiamento ou se vendi
a alma?
Depois que eu pagar as taxas correspondentes,
talvez os senhores me respondam informando,
muito cordial e profissionalmente, que um
serviço bancário é muito diferente de uma
padaria. Que sua responsabilidade é muito
grande, que existem inúmeras exigências
governamentais, que os riscos do negócio são
muito elevados etc e tal. E, ademais, tudo o que
estão cobrando está devidamente coberto por lei,
regulamentado e autorizado pelo Banco Central.
Sei disso.
Como sei, também, que existem seguros e
garantias legais que protegem seu negócio de
todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de
uma padaria, que não conta com o poder de
influência dos senhores, talvez sejam muito mais
elevados.
Sei que são legais.
Mas, também sei que são imorais. Por mais que
estejam garantidas em lei, tais taxas são uma
imoralidade.
Brasília, 30 de maio de 2006.
Delman Ferreira
delman@senado.gov.br
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