O drama policial "Testemunha ocular" (The
Public Eye - EUA, 1992 - 98 min. - de
Howard Franklin), cujo protagonista é um
fotógrafo especializado em registrar
cenas de crime, aborda, também, alguns
aspectos urbanos, existenciais e
psicológicos. Para ele, as vítimas,
fotografadas em seus cenários de morte,
são os sujeitos de sua câmera, e não, os
problemas a serem solucionados, pelos
detetives da polícia local.
Na Nova York de 1942, Bernzy está entre
os melhores do ramo. Como repórter
fotográfico, entretanto,tem pontos em
comum com os policiais: busca,
supostamente, comportar-se com
objetividade, numa atitude de frieza
profissional, diante de cadáveres e
tragédias.
Destaques: produção, direção,
interpretação, roteiro; fotografia;
tema principal e personagens;
reconstituição de época (figurinos,
adereços); o clima de romance policial "noir";
o amor numa perspectiva realista,
naturalista, de atração física e
afetiva, amadurecida na vivência do
dia-a-dia.
O êxito do diretor revela-se, é claro,
na eficiência do elenco: Joe Pesci,
Barbara Hershey, Stanley Tucci.
Uma bela dona de boate pode comprometer
a reputação profissional de Bernzy. Ela
quer saber quem sãos os homens dispostos
a tomar seu estabelecimento. Para isso,
acredita que o fotógrafo deveria usar,
para ajudá-la, as suas conexões...
Na interação com os detetives, em
circunstâncias de sangue e deformidade
dos corpos das vítimas, o fotógrafo se
torna, igualmente, uma "testemunha
ocular", embora o seu depoimento não
seja o que os detetives procuram, de
início, para montar as peças-chaves dos
quebra-cabeças.
A protagonista se impõe como figura
marcante de mulher - numa história em
que os homens predominam como
personagens sem sutilezas ou
ambivalências (com exceção do
fotógrafo). Ela oferece, todavia, uma
ambigüidade própria, burilada pelas
dificuldades vencidas com persistência,
numa astúcia aperfeiçoada pelos desafios
enfrentados.
O roteiro difere de outros enredos
policiais ao focalizar o fotógrafo como
foco principal, em nuanças de sombras e
luz, numa homenagem implícita aos
caçadores de imagens...em
metáfora/símbolo que, por si só, remete
ao cinema e seus fotogramas que
registram criativamente. O repórter,
como profissional, tem mais espaço para
a sua individualidade, exercendo,
portanto, maior liberdade que a polícia.
Daí a importância do fotógrafo no plano
da comunicação com o público.Seu
testemunho ocular não se expressa por
meio de palavras. Mas nem por isso deixa
de ser valioso.
Na observação que o público é
incentivado a fazer - numa outra forma
de testemunho ocular - a reflexão deve
incluir as questões éticas que envolvem
as ações, atitudes e decisões por parte
da polícia e do fotógrafo.
Agindo a princípio como adversários, vão
compreendendo, depois, os limites do
trabalho investigativo. Ângulos, planos
e perspectivas do repórter fotográfico
também despertam o público para a
realidade. Uma visão mais profunda, além
da violência e das simples aparências:
um enigma pessoal e coletivo.
(Obs. Assisti ao filme no cinema, mas
também pode ser encontrado em vídeo
CIC.)
( Fazer uma comparação e análise do
assassino profissional e fotógrafo,
personagem interpretado por Jude Law, em
outro filme para adultos, com temática
de violência, "Estrada para Perdição".
protagonizado por Tom Hanks e Paul
Newman.)
Theresa Catharina de Góes Campos
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