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A Selvagem Perdição -
Erro e ruína na Ilíada
A poesia de
Homero foi e tem sido um
elemento fundamental na
formação da cultura do
Ocidente. A Ilíada
e a Odisséia têm
sido lidas e estudadas com
interesse desde a
antigüidade; têm instigado
nossa imaginação e inspirado
desde filmes B americanos
até o Ulisses de
James Joyce.
Contudo, a partir dos
estudos de Milman Parry
(publicados entre 1928 e
1937 e recolhidos no volume
The Making of the
Homeric Verse – The
Collected Papers of Milman
Parry ; Oxford, 1971)
houve uma revolução no modo
como compreendíamos essas
obras. Parry lançou nova luz
sobre o caráter oral da
poesia homérica. De fato, a
Ilíada e a
Odisséia foram
compostas em uma época na
qual os gregos não usavam o
alfabeto e a escrita. Esses
extensos poemas não só foram
compostos oralmente, como
também eram divulgados e
preservados oralmente por
aedos que memorizavam seus
versos. A composição oral,
todavia, exige da parte do
poeta certas técnicas
específicas, que não são
necessárias no caso da
composição escrita de uma
obra literária – por
exemplo, o uso da fórmula e
do epíteto.
Depois das descobertas de
Parry, a análise do fenômeno
da oralidade passa a ser uma
constante nos estudos
homéricos: o que
aquela poesia nos conta
passa a interessar menos do
que o modo como
aquela poesia foi feita.
Estudos técnicos sobre os
mecanismos da oralidade em
Homero tornam-se mais
numerosos e influentes do
que estudos sobre o conteúdo
moral, teológico, social
etc. de sua poesia – a ponto
de Jasper Griffin, no
prefácio de Homer on
Life and Death (Oxford,
1980), se queixar do fato de
que tais estudos técnicos
sobre oralidade, junto com
estudos históricos e
arqueológicos, quase nos
fizeram esquecer os próprios
poemas homéricos, seu
conteúdo, aquilo que eles
nos relatam.
O livro A Selvagem
Perdição – Erro e Ruína na
Ilíada , do jovem
pesquisador e professor da
USP André Malta, se situa
naquele terreno de
investigação cujo abandono
Griffin lamentava: embora
reconheça e leve em conta as
teses de Parry, A
Selvagem Perdição não é
um tratado árido sobre
questões técnicas referentes
à produção da poesia da
Ilíada , mas um
mergulho nos conteúdos e nos
sentidos dessa poesia. André
Malta toma como fio condutor
a complexa noção de áte
– um conceito
fundamental para a
compreensão do universo
moral e religioso de Homero
(como também fundamental
para que compreendamos o
espírito grego em geral) –
e, numa linguagem clara e
fluente, que não afugentará
aqueles que não forem
especialistas em literatura
grega, ilumina para o leitor
alguns aspetos centrais da
Ilíada .
A Selvagem Perdição
coloca numa perspectiva
correta as relações entre
deuses e mortais (que, em
Homero, são tão diferentes
das relações entre Deus e os
homens na tradição
judaico-cristã!) e, assim,
permite que o leitor do
poema compreenda o que move,
o que inibe e o que dá
sentido às ações dos heróis
no mundo homérico.
Flávio Ribeiro de
Oliveira
Instituto de Estudos da
Linguagem – Unicamp
SERVIÇOS:
Autor: André Malta
Nº de páginas: 428
ISBN: 85-88023-75-X
Preço: R$ 50,00 |