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A NOIVA SÍRIA
Impressão pessimista, quase
sombria, sobre prováveis soluções para o
problema do Oriente Médio é a que deixa o filme
“A Noiva Síria”, do cineasta israelita, Eran
Riklis, em exibição na cidade, que por
apresentar também boas qualidades técnicas, com
algumas excelentes interpretações e uma trilha
sonora magistral, recebeu diversos prêmios da
Academia de Israel, além de várias distinções do
Cinema Europeu e dos Festivais de Locarno,
Montréal e Bangkok.
O filme narra a história de Mona (Clara Khoury),
uma jovem druza das Colinas do Golan, dominadas
por Israel, que se compromete, por intermédio de
um irmão residente em Damasco, a casar com um
astro da televisão síria, Tallel (Derar Sliman),
o qual só conhece por fotografia. Existe ainda
outro problema, que é o fato de ela saber que,
ao atravessar a fronteira de sua cidade, Majdal
Shams, jamais poderá voltar ao convívio de seus
familiares. O dia do seu casamento, portanto,
pode ser o mais feliz e, ao mesmo tempo, o mais
triste de sua vida.
O patriarca da família, Hammed (Makram Khoury)
– pai também, na vida real, da atriz que
interpreta o papel de Mona – é um ativista
político, posto sob liberdade condicional pelas
autoridades de Israel. Ele corre risco, porém,
de ser preso novamente se comparecer às
despedidas da filha, na fronteira com a Síria,
já que existe proibição formal dos israelenses a
esse respeito.
O primogênito, Hattem (Eyad Sheety), ausente há
muitos anos, veio da Rússia, com mulher, Evelyne
(Evelyn Kaplun) e filho, mas foi mal recebido
pela família, à exceção da mãe (Marlene Bajali)
e da irmã, Amal (Hiam Abbas). Esta é casada com
Amin (Adnam Tarabshi), mas sonha em libertar-se
das amarras das tradições druzas e estudar numa
universidade de Israel. É ela quem procura criar
condições para que Hattem e a mulher participem
da cerimônia de casamento da irmã mais nova.
O filho mais novo, Mawan (Ashraf Barhoun),
vendedor, solteiro, que, ao que se diz, com
orgulho, entre os anciãos da cidade, se
aproveita de mulheres de várias nacionalidades –
até judias – mas que sabe que, para casar, terá
de escolher uma druza, é por isso o “queridinho”
da família. Isso fica evidente principalmente no
momento em que as autoridades sírias criam
empecilhos para que o casamento se realize e
Mawan procura exercer seu fascínio sobre a
francesinha, Jeanne (Julie-Anne-Roth), da Cruz
Vermelha, responsável pela intermediação entre
as partes conflitantes, como elemento neutro.
Como se vê, o roteiro, de Suha Araaf e Eran
Rilkes, explora mais o perfil dos personagens,
exigindo assim trabalho competente dos
intérpretes, os quais, em sua maioria,
apresentam desempenhos à altura. É preciso
destacar, porém, as atuações de Makram Khoury,
como o pai e, mais que tudo, a de Hiam Abbas,
como a filha, Amal, que recebeu vários prêmios
por esse seu trabalho, em Israel e no exterior.
Além de ser uma mulher bonita, Hiam Abbas tem a
postura das grandes atrizes trágicas - como
Katina Paxinou - que se vão tornando cada vez
mais raras no panorama mundial.
A linguagem cênica de Eran Rilkes é também digna
de nota pela preferência por seqüências curtas,
bem marcadas, com diálogos breves, como a do
agradecimento de Hattem à irmã, Amal, por lhe
haver enviado cartas, incentivando-o a
permanecer em Moscou a fim de concretizar seus
objetivos longe da família ou, a dela, com o
pai, revelando-lhe haver procurado, contrariando
sua vontade, as autoridades israelenses na
tentativa de obter salvo conduto para ele estar
presente às despedidas da irmã na fronteira com
a Síria. Ambas as seqüências têm cenário
natural, valorizado pelos arvoredos das Colinas
de Golan, famosas por sua produção de maçãs.
A fotografia de Michael Wiesweg, com mudança de
tonalidade para o documental, além da qualidade
técnica que apresenta, tem o sentido de adequar
a trama ao contexto político do filme, inspirado
num documentário que Rilkes realizou sobre as
fronteiras de Israel. Dentro do quadro de
incertezas que se criam para que se realize o
casamento, a caminhada de Mona em direção à
fronteira pode ser interpretada como sinalização
de que dificilmente também se encontrará
solução para os problemas da região em que vivem
árabes e judeus. O final é marcado
principalmente pela excelência da música
original do maestro Cyril Morin, executada pela
Orquestra Sinfônica da Bulgária sob sua
regência, cuja gravação recebeu vários prêmios
internacionais.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
Roteiro, Revista
www.arteculturanews.com
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FICHA TÉCNICA
A NOIVA
SÍRIA
THE SYRIAN BRIDE
França, Alemanha,
Israel/ 2004
Duração – 97 min.
Direção – Eran Rilkes
Roteiro – Suha Araf e Eran Rilkes
Fotografia – Michael Wiesweg
Música original – Cyril Morin
Edição - Tova Asher
Elenco – Hiam Abbas (Amal), Makram Khoury (Hammed),
Clara Khoury (Mona), Eyad Sheety (Hattem),
Ashraf Barhoun (Mawan), Marlene Bajali (mãe),
Evelyn Kaplun (Evelyne), Derar Sliman (Tallel)
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