Theresa Catharina de Góes Campos

 

A NOIVA SÍRIA

Impressão pessimista, quase sombria, sobre prováveis soluções para o problema do Oriente Médio é a que deixa o filme “A Noiva Síria”, do cineasta israelita, Eran Riklis, em exibição na cidade, que por apresentar também boas qualidades técnicas, com algumas excelentes interpretações e uma trilha sonora magistral, recebeu diversos prêmios da Academia de Israel, além de várias distinções do Cinema Europeu e dos  Festivais de Locarno, Montréal e Bangkok.

O filme narra a história de Mona (Clara Khoury), uma jovem druza das Colinas do Golan, dominadas por Israel, que se compromete, por intermédio de um irmão residente em Damasco, a casar com um astro da televisão síria, Tallel (Derar Sliman), o qual só conhece por fotografia. Existe ainda outro problema, que é o fato de ela saber que, ao atravessar a fronteira de sua cidade, Majdal Shams, jamais poderá voltar ao convívio de seus familiares. O dia do seu casamento, portanto, pode ser o mais feliz e, ao mesmo tempo, o mais triste de sua vida.

O patriarca da família, Hammed (Makram  Khoury) – pai também, na vida real, da atriz que interpreta o papel de Mona – é um ativista político, posto sob liberdade condicional pelas autoridades de Israel. Ele corre risco, porém, de ser preso novamente se comparecer às despedidas da filha, na fronteira com a Síria, já que existe proibição formal dos israelenses a esse respeito.

O primogênito, Hattem (Eyad Sheety), ausente há muitos anos, veio da Rússia, com mulher, Evelyne (Evelyn  Kaplun) e filho, mas foi mal recebido  pela família, à exceção da mãe (Marlene Bajali) e da irmã, Amal (Hiam Abbas). Esta é  casada com Amin (Adnam Tarabshi), mas sonha em libertar-se das amarras das tradições druzas e estudar numa universidade de Israel. É ela quem procura criar condições para que Hattem e a mulher participem da cerimônia de casamento da irmã mais nova.

O filho mais novo, Mawan (Ashraf Barhoun), vendedor, solteiro, que, ao que se diz, com orgulho, entre os anciãos da cidade, se aproveita de mulheres de várias nacionalidades – até judias – mas que sabe que, para casar, terá de escolher uma druza, é por isso o “queridinho” da família. Isso fica evidente principalmente no momento em que as autoridades sírias criam  empecilhos para que o casamento se realize e Mawan procura exercer  seu fascínio sobre a francesinha, Jeanne (Julie-Anne-Roth), da Cruz Vermelha, responsável pela intermediação entre as partes conflitantes, como elemento neutro.

Como se vê, o roteiro, de Suha Araaf e Eran Rilkes, explora mais o perfil dos personagens, exigindo assim  trabalho competente dos intérpretes, os quais, em sua maioria, apresentam desempenhos à altura. É preciso destacar, porém, as atuações de Makram Khoury, como o pai e, mais que tudo, a de Hiam Abbas, como a filha, Amal, que recebeu vários prêmios por esse seu trabalho, em Israel e no exterior. Além de ser uma mulher bonita, Hiam Abbas tem a postura das grandes atrizes trágicas - como Katina Paxinou  - que se vão tornando cada vez mais raras no panorama mundial.

A linguagem cênica de Eran Rilkes é também digna de nota pela preferência por seqüências curtas, bem marcadas, com diálogos breves, como a do agradecimento de Hattem à irmã, Amal, por lhe haver enviado cartas, incentivando-o a permanecer em Moscou a fim de concretizar seus objetivos longe da família ou, a dela, com o pai, revelando-lhe haver procurado, contrariando sua vontade, as autoridades israelenses na tentativa de obter salvo conduto para ele estar presente às despedidas da irmã na fronteira com a Síria. Ambas as seqüências têm cenário natural, valorizado pelos arvoredos das Colinas de Golan, famosas por sua produção de maçãs.

A fotografia de Michael Wiesweg, com mudança de tonalidade para o documental, além da qualidade técnica que apresenta, tem o sentido de adequar a trama ao contexto político do filme, inspirado num documentário que Rilkes realizou sobre as fronteiras de Israel.  Dentro do quadro de incertezas que se criam para que se realize o casamento, a caminhada de Mona em direção à fronteira pode ser interpretada como sinalização de que dificilmente também se  encontrará solução para os problemas da região em que vivem árabes e judeus. O final é marcado principalmente pela excelência da música original do maestro Cyril Morin, executada pela Orquestra Sinfônica da Bulgária sob sua regência, cuja gravação recebeu vários prêmios internacionais.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
Roteiro, Revista
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FICHA TÉCNICA
A NOIVA SÍRIA
THE SYRIAN BRIDE

França, Alemanha, Israel/ 2004
Duração – 97 min.
Direção – Eran Rilkes
Roteiro – Suha Araf e Eran Rilkes
Fotografia – Michael Wiesweg
Música original – Cyril Morin
Edição - Tova Asher
Elenco – Hiam Abbas (Amal), Makram Khoury (Hammed), Clara Khoury (Mona), Eyad Sheety (Hattem), Ashraf Barhoun (Mawan), Marlene Bajali (mãe), Evelyn Kaplun (Evelyne), Derar Sliman (Tallel)

 
 

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