Theresa Catharina de Góes Campos

 

O GRANDE TRUQUE

 

Em seu quarto filme,“O Grande Truque”, Christopher Nolan usa a história de dois mágicos rivais da época vitoriana, na Inglaterra, para mostrar como as pessoas sentem necessidade de serem enganadas e como o jogo do engano – da manipulação da verdade - pode se tornar obsessivo para os que o praticam em termos profissionais.

Com base na novela, “The Prestige”, de Christopher Priest, Nolan e seu irmão Jonathan elaboraram roteiro  - considerado pelo  autor como extraordinário -  que cria estrutura narrativa diferente da literária, esta de forma quase sempre epistolar, fazendo com que o filme se inicie quase ao final da contenda para depois retornar ao começo da rivalidade nascida entre os dois mágicos.

Obedecendo à técnica barroca de narrativa – que dera o tom de seu impecável primeiro filme, “Amnésia” – Christopher Nolan faz com que Cutter (Michael Caine), formulador de espetáculos teatrais de mágica, explique ao espectador, no prólogo que se repete ao final, em que consiste esse tipo de divertimento.

Segundo ele, o espetáculo de mágica compreende três partes distintas: a primeira, é a promessa, por meio da qual o mágico explica à platéia o que vai acontecer no palco, isto é, o desaparecimento de alguma coisa ou de uma pessoa; a segunda, o retorno, em que o mágico faz voltar à visão dos espectadores a coisa ou a pessoa desaparecida;e, a terceira, é o grande truque, o mistério, que só o mágico conhece. É o seu segredo profissional.

 

É desse segredo, contudo, que o mágico se torna escravo e cria para ele próprio um mundo à parte daquele em que vive, que o torna pessoa obsessiva e, às vezes, de dupla personalidade, tanto assim que nem as mulheres com quem convive conseguem identificar quando ele está sendo sincero ou falso em seus atos, palavras e atitudes.

 

A rivalidade entre Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) nasce durante o espetáculo de um mágico velho, decadente, em que ambos atuam, durante o qual, por um equívoco, a bela mulher de Angier, Julia (Piper Perabo) morre. Angier põe a culpa pelo acontecido em Borden, que, por sua vez, não sabe explicar como dera o nó na mão da vítima de tal forma que ela não conseguira dele se desvencilhar ao ser lançada no tanque cheio d'água.

Partindo cada qual para criar seu próprio grande truque, quem leva a melhor é Alfred Borden, que apresenta um número de grande sucesso denominado de “O Homem Transportado”, no qual ele é levado de um ponto para outro do palco. Robert se desassossega com o sucesso do inimigo, consulta Cutter que lhe diz estar seguro de que Borden usara um sósia em sua exibição. Ele, entretanto, não se convence e parte para Colorado Springs à procura do cientista sérvio, descobridor do campo magnético rotativo, Nikola Tesla (David Bowie) – único personagem real da história -, pois acredita ter sido ele que criara a máquina usada por Borden em seu grande truque.

A partir daí os reveses na vida particular de cada um dos mágicos rivais se sucedem, mas nem por isso eles dão trégua à disputa que travam entre si pela primazia de seus respectivos espetáculos perante o público. É quando a direção de Nolan, um tanto fria – é verdade - para contrastar com a exasperação obsessiva dos protagonistas, capricha nos detalhes da ambientação, como o fizera, também em muito bom tom, em “Batman-Begins”.

Mas não fica só nisso, pois, além de obter angulação perfeita de algumas seqüências, pela excelente fotografia de Wally Pfister, Nolan sabe dar o tom aos atores para extrair deles a interpretação adequada aos seus personagens. É inegável que Hugh Jackman é quem mais brilha sob a orientação de Nolan.  Mas Michael Caine, Christian Bale – em constante evolução – e David Bowie apresentam também interpretações admiráveis.  As atrizes, principalmente Rebecca Hall, como Sarah Borden e Scarlett Johansson, como Olívia Wenscombe, têm também boas atuações. Em suma, sem ser um grande filme, “O Grande Truque” impressiona pela competentíssima direção de Christopher Nolan e pela excelente atuação de todo o elenco sob o seu comando.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Revista*
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FICHA TÉCNICA

O GRANDE TRUQUE

THE PRESTIGE

EUA/Inglaterra/2006

Duração – 123 minutos

 

Direção – Christopher Nolan

Roteiro – Christopher Nolan e Jonathan Nolan, baseado na novela de Christpher Priest

Produtores – Christopher Ball, Christopher Nolan, Emma Thomas

Música Original – David Julyan

Fotografia – Wally Pfeister

Edição – Lee Smith

 

Elenco – Hugh Jackman (Robert Angier), Christian Bale (Alfred Borden), Michael Caine (Cutter), Piper Perabo (Julia Angier), Rebecca Hall (Sarah Borden), Scarlett Johansson (Olívia Wenscombe) David Bowie (Nikolas Tesla)

 

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