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UM CARA QUASE PERFEITO
O ator Ben Affleck tenta, com relativo
êxito, dar uma guinada para melhor em sua
carreira, em “Um Cara Quase Perfeito”, de Mike
Binder, interpretando um agenciador de talentos
para televisão que, não satisfeito com a
natureza do seu trabalho, faz curso para se
tornar escritor, o que lhe acarreta uma série de
transtornos em sua vida particular.
O filme de Binder - que também atua e é autor do
roteiro - é uma comédia, com alguns lances
dramáticos, que narra a história, um tanto
extravagante, desse agente, Jack Giamoro (Ben
Affleck), que, ao tomar aulas com o
temperamental doutor Primkin (John Gleese) a fim
de criar um diário íntimo, está, na verdade, à
procura de meios para dar outro sentido à sua
vida.
Giamoro reside com a mulher Nina (Rebecca Romjin)
– uma atleta da natação – e o pai, Ben Giamoro (Howard
Hesserman), já senil, numa rica residência em
Malibu, a qual ele deixa todos os dias, num
suntuoso carro, de executivo bem sucedido, para
ir comandar sua empresa no centro de Los
Angeles, enfrentando engarrafamento de trânsito
e outros transtornos da vida de uma cidade
moderna. A propósito, a tradução do título mais
apropriada seria “Um Homem Na cidade”.
Ao escrever o diário, porém, Giamoro, a conselho
de seu impaciente orientador, mergulha em sua
própria realidade, o que o leva a desconfiar que
sua mulher, Nina, tem um amante. A confirmação
disso, entretanto, lhe vem de forma mais
avassaladora possível, uma vez que o amante dela
é o maior cliente de sua empresa, o roteirista
de televisão Phil Balow ( Adam Goldberg).
Apesar da estampa de homem fino e educado,
Giamoro é, na verdade, impulsivo, arrogante,
como qualquer juiz, recém-empossado na função,
que quer exercer a magistratura menos pela
observância da lei e mais na base do grito e do
faço-aconteço-e-aborreço. No caso da dispensa do
amante de sua mulher da agência, porém, os
sócios de Giamoro reagem de forma negativa à
sua imposição, o que o leva ao desespero.
A redação do diário, contudo, faz com que
Giamoro encare os seus problemas, inclusive uma
ação judicial originária de trapaças que o
levaram ao topo da carreira, bem como complexos
adquiridos durante a adolescência. Ele se vê
obrigado a exorcizar, na cadeia, os seus
fantasmas, procurando resolver daí por diante os
problemas da forma mais prática que lhe parece
ser possível.
Egresso da televisão – onde realizou a série
“Fantasias de Homem Casado” – Mike Binder deixa
perceber que sente dificuldade em trabalhar com
o espaço cênico da tela grande cinematográfica,
o que o leva a reparti-la em diversas imagens
pequenas, como a da televisão, que reproduzem
fatos sucessivos e simultâneos. Longe de ser
esse um defeito, o artifício - dada a habilidade
com que é manejado - acaba por criar uma
dinâmica própria para sua linguagem narrativa,
que ganha até certo charme.
É desse artifício que Binder se utiliza, por
exemplo, para fazer o eficiente jogo de portas
numa seqüência que lembra os equívocos de um
vaudeville e, além disso, é dele também que
decorre a harmonia de todos os elementos
cênicos, como a boa ambientação, o adequado
emprego de animação e o excelente comentário
musical de Larry Groupé, que valoriza
sobremaneira algumas cenas dramáticas do filme.
Pena que Binder não consiga explorar como devia
algumas cenas cômicas, como a que envolve a
jornalista Barbi Ling (Ling Bai), vingativa
depois de ter seu trabalho recusado várias vezes
pela agência de Giamoro,a qual ocorre num
restaurante de comida chinesa, de propriedade de
seus pais, que acaba de forma mais lastimável
possível.
De Ben Affleck pode-se dizer que, voltando às
origens de sua carreira, que foram as do cinema
independente – “Procura-se Amy”, de Kevin Smith
e “Gênio Indomável” de Gus van Sant – ele se
livra da canastronice de suas últimas atuações
para caracterizar bem Jack Giamoro dentro de uma
linha discreta que lhe impôs a direção.
É evidente que o trabalho de Affleck ganha mais
brilho quando ele contracena com Rebecca Romjin,
que além de ser uma bela mulher, lhe dá
convincente apoio nas cenas dramáticas. Todo o
elenco por sinal está bem, inclusive Binder, que
faz o papel de Morty, o sócio que cuida da
agência enquanto Giamoro se deixa envolver por
seus problemas pessoais. Em suma, embora esteja
longe de ser um grande filme, “Um Cara Quase
Perfeito”, por sua linguagem cênica dinâmica e
charmosa, resulta sem dúvida num bom
divertimento.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Revista
www.arteculturanews.com
www.noticiasculturais.com
www.theresacatharinacampos.com
FICHA TÉCNICA
UM CARA QUASE PERFEITO
MAN ABOUT TOWN
EUA/2006
Direção – Mike Binder
Roteiro – Mike Binder
Produção – Jack Binder, Rachel Zimmerman
Música Original – Larry Groupé
Fotografia – Russ T. Alsobrook
Edição – Roger Nygard
Elenco – Bem Affleck (Jack Giamoro), Rebecca
Romjin (Nina), Mike Binder (Morty), Jerry
O´Conneell (David Lilly), Howard Hesserman (Bem
Giamoro), Laura Soltis (Bárbara Giamoro), John
Gleese (Dr. Primkin), Gina Gershon (Arlene),
Adam Golberg (Phil Balow) |
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