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("Os INFILTRADOS")
OS INFORMANTES
Com “Os Infiltrados”, Martin Scorsese volta
ao estilo de seus primeiros filmes de gangster -
como “Os Bons Companheiros” - mas inova no uso
de algumas técnicas, como também abusa de
clichês e explora, como poucas vezes fizera
antes, a atuação de todos os seus intérpretes,
além de contar com primoroso trabalho de
fotografia e de edição.
O filme não é apenas a refilmagem de “Conflitos
Internos”, de Alan Mak e Andrew Lau - de origem
chinesa - , pois, ao que se sabe, há fatos no
roteiro de William Monahan inspirados na vida de
Whithey Bulger, que cumpriu pena em Alcatraz,
forneceu armas para o IRA e continua sendo
procurado pelo FBI.
É importante, nesse sentido, que o espectador
fique atento à frase inicial do chefe da máfia
irlandesa de Boston, Frank Costello (Jack
Nicholson) nestes exatos termos: “Eu não
quero ser um produto do meio. Quero que o meio
seja o meu produto”. Esta frase é dita no
prólogo, que decorre nos anos oitenta, quando
Costello adota um garoto para servi-lo no
futuro.
O futuro são os tempos atuais em que Colin
Sullivan (Matt Damon) - protegido de Costello -
é graduado com as melhores notas pela Academia
de Polícia e, com isso, tem assegurado um lugar
na Unidade de Investigações Especiais, podendo
ficar ao lado, portanto, dos oficiais de elite
que têm por missão lutar contra o crime
organizado.
Ocorre, porém, que, na mesma ocasião, um outro
jovem policial, sem família, sem apadrinhamento,
Billy Costigan (Leonardo de Caprio) se apresenta
à corporação, mas sente dificuldade em conseguir
um lugar de detetive antes de se submeter à
condição de informante, como lhe é proposto,
infiltrado na gang de Costello.
Então o que se tem é a ação paralela desses dois
personagens que se sentem tensos pelo trabalho
que desenvolvem em campos opostos, o que os
leva, contudo, a consultar a mesma psiquiatra,
Madeleine (Vera Farmiga) por quem ambos se
apaixonam.
Mas para que o espectador aceite e se divirta
com o argumento do filme – de coloração
comercial – é preciso que ele relegue algumas
evidências pouco lógicas, como, por exemplo, a
que surge desta indagação: se Dignam (Mark
Wahlberg) e Oliver Queenan (Martin Sheen),
encarregados da seleção de novos integrantes da
Unidade de Investigações Especiais, mostram-se
tão bem informados sobre os antecedentes até
mesmo familiares de Costigan, por que não
acontece o mesmo em relação a Sullivan?
Demais, os informantes de Scorsese não parecem
conscientes de que não é seguro passar
informações importantes por telefone celular.
Todo mundo sabe disso!... Até mesmo o
alucinado, mas inesquecível, tio Paulo, veterano
da guerra do Vietnam, de “Medo e Obsessão”, de
Wim Wenders... Pois eles utilizam esse tipo de
aparelho sem preocupação de que possam ser
identificados. No caso de Sullivan, por exemplo,
ele usa o celular, no âmbito da Unidade de
Investigações Especiais, para se comunicar com
Costello na maior tranqüilidade possível, sem
receio de estar sendo rastreado por seus pares,
já cientes da existência de um informante do
mafioso no meio deles.
A par disso, algumas cenas do ambiente policial
são por demais useiras, tanto assim que as
marcações se tornam óbvias, mecânicas, sem
qualquer originalidade. E os clichês se repetem,
sugerindo até a hipótese de que Scorsese os
teria incorporado ao seu trabalho por
considerá-los clássicos da linguagem policial do
cinema americano. De qualquer forma, porém, ele
inova na conjugação dessa linguagem com a
combinação do som do rock e da ópera, tirando
disso magnífico efeito.
Também o trabalho de Scorsese com os atores é
digno de nota. Mais do que em qualquer outro de
seus filmes ele soube valorizar o trabalho dos
atores, como o de Jack Nicholson que, como
sempre, está notável no papel de Costello. Mas
quem brilha intensamente é Leonardo de Caprio
que, em seu terceiro filme sob as ordens de
Scorsese, atinge o ápice de todas as suas
interpretações anteriores, tenso durante todo o
tempo, principalmente na cena de discussão com
Madeleine, a psiquiatra, por quem Coligan se
apaixona.
O mesmo pode ser dito em relação a Matt Damon,
que tem atuação destacada, com algumas cenas
que parecem haver sido escritas especialmente
para ele. Mas o que surpreende é como Scorsese
conseguiu satisfatórias atuações do trio Mark
Wahlberg, Alec Baldwin e Martin Sheen!... Que
feito notável, principalmente no que diz
respeito ao primeiro, que dá ponto final a toda
a intriga!...
Além disso, a fotografia, de Michael Balhaus, de
tons variados para caracterizar a personalidade
dos dois informantes é digna de menção e, com
certeza, o trabalho da editora, Thelma
Schoonmaker - que fez a edição de quase todos os
melhores filmes de Scorsese - já se credencia
como forte concorrente ao Oscar pelo jogo de
cenas simultâneas com a sintonização da
conversação de uma com a outra. Um belo
trabalho!...
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Revista
www.noticiasculturais.com
www.arteculturanews.com
www.theresacatharinacampos.com
FICHA TÉCNICA
OS INFILTRADOS
THE DEPARTED
EUA/2006
Duração – 149 minutos
Direção – Martin Scorsese
Roteiro – William Monahan baseado no roteiro de
Siu Fai Mak e Felix Chang
Produção – Jennifer Aniston,
Brad Pitt, Brad Grey, Graham King e Martin
Scorsese
Música – Howard Shore
Edição – Thelma Schoonmaker
Elenco – Jack Nicholson
(Frank Costello), Leonardo de Caprio ( Billy
Costigan), Matt Damon ( Collin Sullivan), Vera
Farmiga (Madeleine), Mark Wahlberg ( Dignam)
Martinn Sheen (Oliver Queenan), Alec Baldwin (Ellerby)
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