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DÉJÀ VU
O filme "Déjà Vu", de Tony
Scott, dedicado à persistência dos
moradores de Nova Orleans, onde foi
rodado pós-Katrina, divulga a idéia
de um mecanismo de informática que
agiria sobre o passado para
solucionar questões difíceis de
serem elucidadas, mas serve a várias
leituras, inclusive a de uma tardia
tomada de consciência do governo
americano a respeito do que poderia
ser feito – e não se fez – para
evitar os efeitos catastróficos do
furacão que se abateu sobre aquela
região.
A expressão francesa "déjà vu"
significa o "já visto", isto é,
aquela impressão que se tem de já
haver conhecido, num passado
distante, um lugar que pela primeira
vez se visita. Não se trata
evidentemente de nenhuma sensação de
conotação religiosa. É simplesmente
um mecanismo psicológico que,
acionado pela emoção, provoca a
impressão do "já visto".
O filme de Scott trata de um
mecanismo fantástico de informática
– sucedâneo, portanto, do
psicológico - que abriria a
possibilidade de se avançar no
passado para solucionar questões
difíceis de serem elucidadas, como
por exemplo as de natureza criminal.
Só que o herói do filme – o agente,
Doug Carlin (Denzel Washington) –
acaba se convencendo de que a
memória é mais importante que o tal
mecanismo de informática.
É instigante, entretanto, a idéia
desenvolvida no filme no campo da
teoria da relatividade -
principalmente sob o ponto de vista
da criminalística - que se tivesse
tratamento cinematográfico adequado,
com cenas mais detalhadas, poderia
resultar num espetáculo de melhor
qualidade. E isso não acontece
porque é evidente o desentrosamento
das equipes técnicas deslocadas para
as áreas afetadas pelo furacão
Katrina, onde, ao que presumo, tudo
se improvisava durante a realização
da película.
Assim, o filme se ressente de
condução mais firme porque o roteiro
– assinado por Bill Marsilii e Terry
Rossio – apresenta várias brechas
que não são preenchidas pela
linguagem cênica titubeante de Tony
Scott, apenas preocupado com efeitos
de imagem e de pirotecnia. A que
mais se evidencia é a da
argumentação falha do agente Doug
Carlin, que deseja avançar no
passado para evitar que um crime
aconteça contra a bela Claire
Kurcheven (Paula Ratton) e que ele
consiga eliminar o criminoso, um
psicopata patriota, Carrol Oesrtad
(James Caviezel).
Como o argumento é vazio, o agente
Doug, para fazê-lo prevalecer, tem
de apelar para o grito e para o
autoritarismo contra a equipe de
técnicos e cientistas que, atônitos,
sob o comando de Andrew Pryawarra (Val
Kilmer), debatem a possibilidade de
se alterar o que já aconteceu no
passado. É nesse ponto que o
espectador percebe a impostura da
tese do herói do filme, mas deixa-se
levar para ver a conclusão a que ele
chega, isto é, aquela de que o
desenvolvimento da memória é mais
importante do que qualquer mecanismo
de informática, o que, como se há de
convir, é mais razoável.
Como também integrantes das equipes
técnicas do filme os atores estão
perdidos, a começar por Denzel
Washington, que já se viu recolhendo
lixo em saquinhos plásticos e
experimentando a densidade de óleos
destilados de frestas de pontes como
elementos de prova – que de resto
não provam nada - no local do crime,
em "O Colecionador de Ossos" (1999),
mas que desta feita não convence em
absoluto. De fato Washington está
longe de repetir, como Doug Carlin,
a magnífica atuação que teve, por
exemplo, em 2006, como detetive
Keith Frazer, no "Plano Perfeito",
de Spike Lee, um dos melhores filmes
do ano.
O mesmo se pode dizer de Val Kilmer,
numa atuação pouco inspirada,
burocrática, longe da polêmica
caracterização de Felipe da
Macedônia em "Alexandre", de Oliver
Stone, de 2004. E James Caviezel, no
pouco que aparece, se esforça ao
máximo na pele do psicopata Carrol
Oerstad para desvanecer a imagem
deixada por sua brilhante atuação
como Cristo, em "A Paixão de
Cristo", de Mel Gibson, também de
2004. E como não poderia deixar de
ser, Paula Patton aparece apenas
para exibir sua beleza e seu corpo
escultural porque, como atriz, não
tem nada a apresentar.
Em síntese, o filme "Déjà Vu", de
Tony Scott, além do mérito de haver
sido realizado em Nova Orleans,
pós-furacão Katrina, que deixou
rastros de destruição e miséria –
com figurantes recrutados no local
entre os desabrigados pelo temporal
- desenvolve idéia instigante sobre
o uso da teoria da relatividade no
campo da informática, porém, a meu
ver, como espetáculo cinematográfico
não entusiasma. Na verdade, deixa
muito a desejar.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Revista
www.noticiasculturais.com
www.arteculturanews.com
www.theresacatharinacampos.com
FICHA TÉCNICA
DÉJÀ VU
DÉJÀ VU
EUA/2006
Duração – 128 minutos
Direção – Tony Scott
Roteiro – Bill Marsilii e Terry
Rossio
Produção – Jerry Buckheimer, Terry
Rossio, Ted Elliott
Fotografia – Paul Cameron
Musica Origianl – Harry
Gregson-Williams
Edição – Jason Hellmann
Elenco – Denzel Washington (Doug
Carlin), Paula Ratton (Claire
Kurcheven), Val Kimer (Andrew
Pryawarra), James Caviezel (Carrol
Oarstad, Adam Goldberg (Denny)
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