BABEL
"Babel", de Alejandro González Iñarritu, com
base em roteiro de Guillermo Arriaga, que
desponta como um dos favoritos ao Oscar de
Melhor Filme do ano - depois de receber a
Palma de Ouro do Festival de Cannes e o
Globo de Ouro da Associação de Críticos de
Nova Iorque - é mera repetição da fórmula
bem sucedida de histórias interligadas de "CRASH
– No Limite", de Paulo Haggins, que também
ganhou o Oscar do ano passado.
A fórmula de "Babel" – cuja produção teve
orçamento de US$ 25 milhões - é,
entretanto, mais abrangente do que a de "CRASH-
No Limite", que tratava de questões sociais
e políticas apenas no âmbito da cidade de
Los Angeles. O filme de Iñarritu mostra
como, no mundo globalizado em que vivemos,
um acidente ocorrido no Marrocos pode afetar
a vida de várias pessoas naquele país, nos
EUA, no México e no Japão, colocando em
evidência, como causa, as falhas de
comunicação em todos os níveis à semelhança
do que ocorreria na Torre de Babel, de
origem bíblica.
Mas é evidente que o acidente ocorre com um
casal de americanos porque fosse outra a
nacionalidade dos acidentados, a repercussão
seria diferente, o que fica sugerido também
no filme. Isso pelo motivo de que a
questão política embutida é a da
constatação de que, diante da paranóia
terrorista e por não saber lidar com a
diplomacia, sob o governo Bush, os
americanos só fazem aprofundar, cada vez
mais, o distanciamento deles em relação aos
demais cidadãos do mundo. Esse tema vem
sendo perseguido por outros filmes,
inclusive pelo policial "Miami Vice", de
Michael Mann, que se reportava, entretanto,
de forma subjacente, apenas ao
relacionamento dos americanos com seus
vizinhos do Continente.
O filme de Iñarritu-Arriaga mostra um ônibus
repleto de turistas que atravessa a árida
região de montanhas do Marrocos. Há, entre
os viajantes, um casal de americanos -
Richard (Brad Pitt) e Susan (Cat Blanchett)
– em crise, causada certamente por ele, que
teria planejado a viagem sem o consentimento
dela a fim de tentar a reconciliação. Pelas
cercanias do caminho em que circula o
ônibus, dois meninos – Ahmed (Said Tarchani)
e Youssef ( Boubker Ait El Caid ) – manejam
um rifle que o pai, Abdullah (Armit Murjani),
acabara de adquirir para proteger a pequena
criação de cabras da família. Um tiro,
entretanto, atinge o ônibus, ferindo Susan.
Depois disso, usando artifícios dramáticos
pouco convincentes, a meu ver, o filme faz
ligação do fato ocorrido em Marrocos com a
situação dos filhos do casal nos EUA, onde a
babá, Amélia (Adriana Barraza), em companhia
do sobrinho, Santiago (Gael Garcia Bernal),
decide levá-los ao México, sem autorização
paterna e sem dar importância também a
eventuais dificuldades que enfrentaria, na
fronteira, ao regressar aos EUA. Mais
artificial ainda me parece o elemento de
ligação do fato ocorrido em Marrocos com os
problemas com que se debate um homem,
Yasujiro (Kôji Yakusho), em Tóquio, para
superar a morte trágica da esposa e ajudar a
filha surda, Chieko (Rinko Kikushi), nessa
triste circunstância, o que torna o episódio
um tanto destoante do contexto dramático do
filme.
E não só é destoante o episódio sob esse
ponto de vista, mas também pelos tratamentos
cênico e fotográfico – este a cargo do
competente Ricardo Prieto -, que lhe dão
característica própria. Pois de fato até o
argumento é mais denso e, como acredito, se
tivesse sido aprofundado, poderia ter
resultado num filme melhor porque é
inegável que as interpretações do elenco são
mais trabalhadas, ricas e convincentes do
que as dos demais intérpretes dos outros
episódios, como as de Brad Pitt, Cate
Blanchett, Gael Garcia Bernal, Adriana
Barraza e até a de Michael Peña, que
tivera destacada participação em "CRASH-No
Limite", no papel de um chaveiro mexicano, o
qual aparece como John, patrulheiro de
fronteira.
De qualquer forma, porém, a direção de
Iñarritu, firme, segura - cheia de vida
e de luz em algumas seqüências do episódio
japonês, o mais aprimorado – supera as
deficiências de tudo o mais. É preciso
observar, a propósito, que Iñarritu tira
melhor efeito ao lidar com a questão do
tempo em "Babel" do que o fizera em "21
Gramas" – o segundo filme integrante da
chamada "Trilogia da Morte", iniciada com
"Amores Loucos" – porque de forma menos
seqüenciada.
Além do trabalho de direção, "Babel" tem a
seu favor uma trilha sonora primorosa do
argentino Gustavo Santaolalla, que - como o
fizera em "O Segredo de Brokeback Mountain",
de Ang Lee – cria um comentário musical de
muita expressividade e força dramática
principalmente na seqüência final em que
Yasujiro, ao retornar a casa, vai ao
encontro de Chieko, que, desnuda, sozinha,
transtornada, está na sacada, fixando a
noite luminosa de Tóquio. É de belíssimo
efeito a música de Santaolalla.
Acrescentem-se ainda a qualidade do som do
filme de José Antonio Garcia e a impecável
edição de Stephen Mirnone e Douglas Crise.
Enfim, "Babel", de Alejandro Gonzalez
Iñarritu, longe de ser obra-prima, é filme
que garante a diversão.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Revista
www.arteculturanews.com
www.noticiasculturais.com
www.theresacatharinacampos.com
"BABEL" e o artigo de Reynaldo Domingos
Ferreira
Data: Wed, 14
Feb 2007 11:45:38 -0800 (PST)
De: FC Leite Filho
Para: theresa.files@gmail.com
Assunto: Re: retorno do Reynaldo, ao meu
encaminhamento
Oi Theresa, obrigado pela sua acolhida. Você
acabou fazendo uma ponte entre mim e o
Reinaldo - que ótimo! Gostei também de sua
dica sobre o Dream Girls. Vi Rainha e
adorei. Beijos, FC Leite Filho
----------------------------------------------------------------------------------------------
Data: Wed, 14
Feb 2007 21:21:52 +0300
De: REYNALDO FERREIRA
Para: theresa.files@gmail.com
Prezada Theresa Catharina,
Fico satisfeito de saber que o Leite Filho
gostou do comentário sobre "Babel".
Obrigado. O mesmo comentário está publicado
na revista "Roteiro", do Adriano Lopes de
Oliveira, que chega hoje às bancas. Forte
abraço, Reynaldo
----------------------------------------------------------------------------------------------
From: theresa.files@gmail.com
Date: Wed, 14 Feb 2007 16:10:50 -0200
Subject: Ótimo saber que, como eu e muitos
outros, você apreciou o Artigo de Reinaldo
Prezado Francisco:
Ótimo saber que você, assim como eu e muitos
outros leitores, apreciou o comentário de
Reynaldo sobre o filme "Babel". Estou em SP,
onde permanecerei até 04 de março próximo.
Aproveito para dizer que o filme "Dream
Girls - Em busca de um sonho" me encantou -
que elenco talentoso!
Abraços cordiais de
Theresa Catharina
----------------------------------------------------------------------------------------------
Tue, 13 Feb
2007 10:23:29 -0800 (PST), FC Leite Filho
escreveu:
Oi Theresa,
Não resisti e chupei este artigo do
Reinaldo de seu cada vez mais delicioso blog.
Bjos, FC Leite Filho
Enfim, um filme, "Babel", e a ótica
(coerente) da globalização.
De há muito este blog se propunha a entrar
na crítica cinematográfica. A oportunidade
surgiu com o artigo do jornalista e escritor
Reinaldo Domingos Ferreira, publicado no
blog de Theresa Catharina Campos , outra
grande cinéfila e crítica de cinema. "O
filme de Iñarritu" - diz Reinaldo - "mostra
como, no mundo globalizado em que vivemos,
um acidente ocorrido no Marrocos pode afetar
a vida de várias pessoas naquele país, nos
EUA, no México e no Japão, colocando em
evidência, como causa, as falhas de
comunicação em todos os níveis à semelhança
do que ocorreria na Torre de Babel, de
origem bíblica.
Mas é evidente que o acidente ocorre com um
casal de americanos porque fosse outra a
nacionalidade dos acidentados, a repercussão
seria diferente, o que fica sugerido também
no filme. Isso pelo motivo de que a questão
política embutida é a da constatação de que,
diante da paranóia terrorista e por não
saber lidar com a diplomacia, sob o governo
Bush, os americanos só fazem aprofundar,
cada vez mais, o distanciamento deles em
relação aos demais cidadãos do mundo".
Texto integral
http://cafenapolitica.blog.br/
NOTAS DA EDITORA
O filme "BABEL" não tem como objetivo
divertir, nem exerce esse efeito no público.
Trata-se de uma narrativa tensa e dramática,
do início ao fim, que não diverte em nenhum
momento, e sim, provoca reflexão crítica e
conscientização.
Com emoção e sensibilidade, chegamos, mais
uma vez, à compreensão dos perigos causados
por toda arma, capaz de percorrer distâncias
e provocar danos irreparáveis.
Refletimos, a cada cena, sobre a situação
econômica e político-social dos personagens.
Entendemos, analisando-se o conteúdo, as
circunstâncias e os temas abordados em
"Babel", a tragédia da incomunicabilidade
entre as pessoas. Lamentamos, como
espectadores e testemunhas, as
incompreensões tão visíveis nos
relacionamentos entre cidadãos e
autoridades.
Atitudes de solidariedade e desapego ao
dinheiro, registradas no filme, também nos
comovem, sobretudo porque as diferenças
culturais e materiais, em meio a tantas
divisões e ameaças,são gritantes.
Ressaltam a nossos olhos, os inúmeros e
constantes conflitos (entre indivíduos e
nações).
Ao mesmo tempo que nosso coração palpita, em
solidariedade aos seres humanos que vemos na
tela, sofrendo angústias e dores, confusos e
perdidos na "Babel" de nosso mundo. Eis que
é possível - na iminência de uma perda
pessoal - que se aproximem ou se tornem
intensamente preocupados com os seus entes
queridos.
Personagens aflitos e ansiosos, unidos por
seus laços e compromissos de amor, são
convocados, talvez para sua própria
surpresa, portanto, de forma inesperada para
eles, a deixar seu contexto individualista
...para reafirmarem a sua responsabilidade
afetiva e familiar.
Theresa Catharina de Góes Campos
FICHA TÉCNICA
BABEL
BABEL
EUA/México/2006
Duração – 142 minutos
Direção – Alejandro Gonzalez
Iñarritu
Roteiro – Guillermo Arriaga,
Alejandro Gonzalez Iñarritu
Produção – Steve Golin, John
Kilik
Trilha sonora – Gustavo
Santaolalla
Fotografia – Ricardo Prieto
Edição – Stephen Mirnone e
Douglas Crise
Elenco – Brad Pitt (Richard)
, Cate Blanchett (Susan), Gael Garcia Bernal
(Santiago), Adriana Barraza (Amélia), Rinko
Kikuchi (Chieko), Kôji Yakusho (Yasujiro),
Said Tarchani (Ahmed), Boubker Art El Caid (Youssef),
Amit Murjani (Abdullah), Clifton Collins Jr.
(Policial da fronteira) Michael Pena (John,
patrulheiro de fronteira)