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CARTAS DE IWO JIMA
PRECIOSAS CARTAS DE IWO JIMA
Reynaldo Domingos Ferreira
“Cartas de Iwo Jima”, de Clint Eastwood, baseado
nas correspondências dos soldados japoneses, que
lutaram na cruenta batalha de 40 dias, em
fevereiro de 1945, a fim de não perderem para os
americanos o último forte antes da ilha
principal de seu território já no final da II
Guerra Mundial, é um filme memorável, que se
coloca desde já entre os clássicos do gênero,
tão desconcertante e reflexivo, como “Além da
Linha Vermelha”, de Terrence Malick.
O filme foi rodado de forma simultânea para
completar e servir de contraponto a “A Conquista
da Honra” – também de Eastwood - baseado no
bestseller de James Bradley e Ron Powers, que
narra como foi feita por Joe Rosenthal a foto de
cinco fuzileiros e um marinheiro, erguendo a
bandeira dos EUA no monte Suribachi, a qual se
tornaria imagem-símbolo da batalha e viraria
monumento a alimentar o orgulho nacional e a
indústria bélica sempre voraz dos americanos
Embora os dois filmes funcionem isoladamente, é
aconselhável que ambos sejam vistos, dando-se
ordem de preferência, contudo, a “A Conquista da
Honra” e depois a “Cartas de Iwo Jima”. Assim, o
espectador poderá verificar que algumas tomadas
feitas sob a ótica dos americanos, no primeiro,
são repetidas e se tornam explicativas, no
segundo, sob a ótica dos japoneses. Mas nenhum
dos intérpretes está nos dois filmes.
Por sinal, em termos de realização
cinematográfica, o primeiro destaque que se deve
fazer é a da inegável superioridade de qualidade
interpretativa do elenco japonês – constituído
de atores novos, desconhecidos, sob a liderança,
entretanto, do experiente Ken Watanabe – em
relação ao americano, integrado por atores
famosos em Hollywood, mas nem por isso
competentes, como é o caso de Ryan Phillippe.
Como as cenas de ação para Clint Eastwood são
apenas episódicas nos dois filmes, pois o que
lhe interessa é estudar o comportamento humano
numa situação extrema como a da guerra e, mais
que tudo, em “Cartas de Iwo Jima”, como ele diz,
a psicologia dos japoneses, obedientes a códigos
de honra e de dignidade, o trabalho dos atores
se torna de fundamental importância. E é esse
trabalho um dos elementos que fazem a diferença
entre os dois filmes.
“Cartas de Iwo Jima” é baseado principalmente na
correspondência do General Tadamichi Kuribaiashi
(Ken Watanabe), compilada por Tsuyoko Yoshida e
publicada em livro sob o título Pictures Letters
From Commander in Chief. Homem dedicado à
família, Kuribaiashi, que vai para a guerra
preocupado por não haver deixado terminado o
trabalho que fazia na cozinha, tem na
personificação que lhe deu Watanabe sua exata
dimensão. O ator, que já dera mostra de sua
competência e talento em “O Ultimo Samurai” e “
Memórias de uma Gueixa”, com a composição de
Kuribaiashi entra para a galeria das
interpretações mais perfeitas da atual safra de
filmes concorrentes ao Oscar. Pena que não tenha
sido também lembrado.
Outro ator que se destaca no elenco – todo ele,
como já disse, notável – é Kazunari Ninomiya,
que interpreta o papel de Saigo, jovem padeiro,
também inveterado escritor de cartas à família,
recrutado no momento em que ficara sabendo que a
mulher estava grávida do primeiro filho. Saigo
chega a Iwo Jima, como os demais soldados, dias
antes dos americanos, para preparar-lhes a
recepção. Irreverente, sem papas na língua, ele
cava o solo árido, infértil, da ilha, para fixar
as casamatas, dizendo que, a seu ver, seria
melhor entregar Iwo Jima logo aos americanos, em
razão do que é punido pelo superior, que manda
lhe aplicar chibatadas.
Saigo é salvo, entretanto, por Kuribaiashi, que
suspende também o trabalho que ele vinha
fazendo, pois, de acordo com sua estratégia,
melhor seria aproveitar as cavernas naturais das
montanhas, deixando que os americanos ocupassem
toda a extensão da praia de areia negra a fim de
eliminá-los em massa. Embora crítico à decisão
do general, na suposição de ele estar do lado
dos americanos por haver estudado nos EUA, Saigo
se instala numa das cavernas, desconfiado de
tudo e de todos e queixoso da qualidade da
comida e da pouca água servida para beber,
possivelmente causadora, a seu ver, da
disenteria que acaba por dizimar boa parte de
seus companheiros.
Outro elemento que faz a diferença entre os dois
filmes de Eastwood, é o roteiro de “Cartas de
Iwo Jima” - meticulosamente bem preparado por
Íris Yamashita e Paul Haggis – o qual deu a
Eastwood oportunidade de trabalhar o tema
recorrente em quase todos os seus filmes – o de
homens abandonados à própria sorte –
principalmente em sua obra-prima,“Os
Imperdoáveis”. É sob esse aspecto que Yamashita
e Haggis mostram a obediência dos japoneses aos
códigos de honra, dignidade e idolatria ao
imperador, pois grande parte dos soldados se
suicida ante a falta de armamento e munição,
apesar do insistente pedido em contrário de
Kuribaiashi no sentido de que morressem, mas
lutando em defesa da pátria, como ele o fez.
Como a maior parte de “Cartas de Iwo Jima” foi
rodada em estúdio – são poucas as cenas
externas, como as do desembarque das tropas
americanas na ilha, mostradas nos dois filmes,
que lembram as de “O Resgate do Soldado Ryan”,
de Steven Spielberg, também um de seus
produtores – uma outra oportunidade se ofereceu
a Clint Eastwood, qual foi a de fazer a
mise-en-scène ao seu estilo, com marcações muito
bem definidas. É verdade que em cinema quase
sempre os melhores efeitos se conseguem sem
serem planejados. É bem possível que isso tenha
ocorrido, por exemplo, numa cena noturna, feita
em estúdio, na qual Eastwood consegue que o
deslocamento dos soldados envoltos sob uma
cortina de fumaça ganhe efeito plástico
extraordinário.
Esse efeito Eastwood deve, não só à excelente
distribuição que fez dos atores em cena, mas
principalmente à qualidade do trabalho de
definição da fotografia em tom de cores
esmaecidas à exceção do vermelho do sangue que
jorra do ferimento dos soldados. De fato o
trabalho fotográfico de Tom Stern é outro
elemento precioso que contribuiu certamente para
que “Cartas de Iwo Jima” tenha sido considerado
pelos profissionais da indústria do cinema, do
National Board of Review, o Melhor Filme do Ano.
E também pelos críticos de Nova Iorque, que lhe
deram o Globo de Ouro de Melhor Filme
Estrangeiro. É, sem dúvida, uma jóia do cinema
atual.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.arteculturanews.com
www.noticiasculturais.com
www.theresacatharinacampos.com
www.politicaparapoliticos.com.br
cafenapolitica.blog.br
NOTAS DA EDITORA:
OBSERVAÇÕES SOBRE A COR NO FILME " CARTAS DE IWO
JIMA "
De: REYNALDO
FERREIRA
Enviada: sex 2/3/2007 00:17
Para: Theresa Catharina G. Campos
Assunto:Observações sobre a cor no filme "CARTAS
DE IWO JIMA"
Prezada Theresa Catharina,
(...) Você tem razão em sua observação sobre a
fotografia do filme "Cartas de Iwo Jima". O
vermelho não é apenas o do sangue que jorra dos
ferimentos dos soldados. Melhor teria sido que
eu dissesse principalmente para dar o destaque
que pretendi a esse elemento. Mas fico-lhe grato
uma vez mais pela ótima observação. Forte
abraço, Reynaldo
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Subject:
Observações sobre a cor no filme " CARTAS DE IWO
JIMA "
Date: Thu, 1 Mar 2007 19:48:06 -0300
From: theresa.files@gmail.com
To: Reynaldo
Amigo Reynaldo:
Agradecendo o seu texto , que tanto valoriza os
meus sites, quero lhe dizer que, sobre a cor no
filme "Cartas de Iwo Jima", observei que o
vermelho está presente, não apenas no sangue,
mas nas explosões e no detalhe vermelho do
uniforme imperial dos militares japoneses.
(...)
Abraços cordiais de
Theresa Catharina
FICHA TÉCNICA
CARTAS DE IWO JIMA
LETTERS FROM IWO JIMA
EUA/Japão/ 2006
Duração - 141 minutos
Direção - Clint Eastwood
Roteiro – Íris Yamashita e Paul Haggis
Produção – Clint Eastwood, Paul Haggis, Robert
Lorenz e Steven Spielberg
Música Original – Ky Eastwood, Michael Stevens
Fotografia – Tom Stern
Edição - Joel Cox e Gary Roach
Elenco – Ken Watanabe (General Tadamichi
Kuribaiashi), Kazunari Ninomiya (Saigo),
Tsuyoshilhara (Barão Nishi), Ryo Kase (Shimizu),
Shido Nakamura ( Ito), Hiroshi Watanabe (Fujita),
Takumi Bando (Capitão Tanida), Takashi Yamagushi
(Kashinara), Koji Wada ( Hashimoto)
FICHA TÉCNICA
A CONQUISTA DA HONRA
FLAGS OF OUR FATHERS
EUA/2006
Duração – 132 minutos
Direção – Clint Eastwood
Roteiro – William Broyles Jr., Paul Haggis,
baseado no livro de James Bradley e Ron Powers
Produção – Clint Eastwood, Robert Lorenz, Tim
Moore e Steven Spielberg
Fotografia – Tom Stern
Música Original – Clint Eastwood
Edição – Joel Cox
Elenco – Ryan Phillippe (James Bradley), Adam
Beach (Ira Hayes), Jessé Bradford (René Gagnon)
Jemie Bell (Ralph Ignatowski), Paul Walker (
Hank Hansen), Neal Mcdonough (Capitão Severance)
Barry Pepper (Mike Stank)
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