Theresa Catharina de Góes Campos

 

A LIÇÃO do CAÇADOR DE ANDRÓIDES

 

Poema  inspirado no filme "Blade Runner" - uma fábula para o século XXI, um filme  para pessoas inteligentes e responsáveis.

 

 As imagens, os sons e as palavras do cinema-fábula,

 lenda e saga futurista,

 cintilante de beleza plástica e filosófica

 provocaram uma reflexão crítica

 sobre a vida: ontem, hoje e amanhã.

Com ação e suspense de conto policial,

 este filme especialíssimo narrou uma história de amor

 cintilante de sentimento e emoção.

 No labirinto mágico do coração-mundo,

 nas sombras das luzes diurnas da cidade-universo

 e no mistério de suas perguntas essenciais

sobre a razão e o destino da existência humana,

 embora reprimido, rejeitado e amedrontado,

 o amor se impôs finalmente...

derrubando a frieza e a desilusão,

 a desmotivação e o desinteresse,

 o choro escondido, o terror disfarçado,

 o amor se impôs...

 abriu os lábios, os braços, as mãos;

 juntou os olhos, uniu os corpos, humanizou, SALVOU.

 A melodia inebriante do sentimento

 dobrou a força esmagadora

 e sacudiu as ilusões do progresso amoralmente cego.

 O amor destruiu a teia do desencanto,

 enfrentou as dúvidas e o desconhecido.

 Perturbador, inquietante e envolvente,

 o amor se impôs...

 atingindo as camadas mais profundas da alma em coma;

 identificando e diferenciando, movendo, transformando,

 o amor se impôs...

e resgatou os sentimentos aprisionados.

 O mundo tenebroso, artificial e violento

 deixou de ser aceitável, pois o amor o rejeitou.

 Num contexto aterrador, o amor contestou...

 e venceu. Ressuscitou. Calou a descrença.

 Como evento extraordinário e redentor,

 o amor resgatou da inércia e da solidão,

 transformando a existência deprimente, restritiva,

 sem horizonte,

 em paisagem libertadora

onde reina a esperança das árvores

e a promessa do espaço azul, infinito,

acima das montanhas mais inacessíveis.

Amando e confiando,

somos capazes de enfrentar as perguntas

 que antes não ousávamos formular,

mas que devem ser colocadas diante de nós,

seres humanos e, portanto, capazes

de perguntar, escolher e AMAR.

E nos momentos decisivos,

transfiguradores de nossa existência,

os sentimentos se revelam

 com tal poder e sinceridade

 que a coragem nos envolve,

nos fortalece e

nos faz caminhar com decisão.

 Convictos, confiantes no amor,

ILUMINADOS E TRANSFIGURADOS POR SUA CHAMA,

frágeis e fortes, trêmulos e fortalecidos,

 empreendemos uma caçada ao íntimo de nós mesmos

 e, procurando conhecer o nosso espírito,

e buscando compreender o próximo

(ouvindo, também, o seu coração...),

em toda a dimensão sombra-luz do ser humano,

chegamos, afinal, a entender,

à luz da reflexão,

a diferença fundamental

 entre andróide e pessoa humana:

o amor é, antes de tudo, um ato de fé e coragem.

 

Brasília, 13 de junho de 1997

Theresa Catharina de Góes Campos

Departamento de Fundamentos

Faculdade AEUDF

 

Jornalismo com ética e solidariedade.