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REYNALDO FERREIRA
Date: 05/04/2007 07:07
Subject: É isto um país?
Theresa Catharina Campos
ALCINO LEITE NETO
A barbárie brasileira
UM DOS constrangimentos a que o brasileiro é
submetido atualmente no exterior consiste em
tentar explicar o estado da violência no país.
Você entra no táxi e, conversa vai, conversa
vem, o motorista indaga: "O Brasil é muito
perigoso, não é?". Você está em um jantar,
cercado de executivos, e, de repente, um deles
lhe pergunta: "Como fazem os brasileiros para
viverem em meio a tanta violência?".
As TVs e a imprensa também adoram as notícias da
barbárie brasileira. A prestigiosa revista "Vanity
Fair", em seu número de abril, que já está nas
bancas nos EUA, publica uma reportagem de 11
páginas sobre o PCC e o crime em São Paulo. A
matéria mereceu até mesmo uma chamada de capa,
que diz: "Como uma gangue de prisioneiros tomou
conta de uma cidade de 20 milhões de
habitantes".
Dentro, o título da reportagem é "Cidade do
Medo", e o texto descreve meticulosamente os
ataques do PCC em São Paulo no ano passado,
explica como surgiu a organização criminosa,
descreve como a pobreza é vasta e alienante no
país e como o Estado se revela fraco diante do
crime.
Durante décadas, o Brasil representou, aos olhos
estrangeiros, um país alegre, musical e até
utópico.
Esse Brasil já não existe mais. A fantasia do
país idílico e feliz deu lugar à imagem de uma
terra violenta, criminal, corrupta e à beira do
desgoverno. A nova imagem que os estrangeiros
fazem do Brasil está obviamente mais próxima de
nossa realidade social. É também mais condizente
com o modo como os próprios brasileiros agora
representam o país para si mesmos, entre o
cinismo e a má consciência.
Desde tempos coloniais, o Brasil foi marcado por
uma multidão de utopias -de políticas a
antropológicas, de culturais a religiosas. Todas
elas foram contrariadas, uma a uma, demonstrando
que nossa imaginação era muito mais fértil do
que nossa vontade política.
Hoje, esvaziados de utopias, decepcionados com a
realidade adversa, desconfiados dos ideais
políticos, os brasileiros também já não se
interessam por nada que possa levá-los
coletivamente a construir uma civilização forte
e respeitável.
Aqui e agora, todo ideal soa hipócrita ou
ridículo. Todo discurso parece inócuo ou
oportunista. Ninguém confia em mais ninguém. As
instituições públicas estão desacreditadas. As
elites políticas, econômicas e sociais servem
mais como contra-exemplos do que como modelos. A
vulgaridade se dissemina por todas as classes. O
arrivismo virou regra social. A inteligência
mergulha na desrazão. O trabalho perdeu a
dignidade. As ruas são perigosas. As casas estão
ameaçadas.
A vida foi rebaixada ao seu estado mais
rudimentar: o medo permanente.
É isto um país? É isto um povo? |
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