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SEM RESERVAS
Os atores Catherine Zetha-Jones e Aaron Eckhart defendem com garra e brilhantismo seus papéis em Sem Reservas, de Scott Hicks, remake de um filme alemão-italiano de 2001, o qual narra a história de uma chef de cuisine, obcecada pela profissão, que ao se ver atingida por evento inesperado na família, uma perda, não sabe lidar com a adversidade, nem encontrar nova perspectiva para a vida.
No caso, a culinária é usada mais como metáfora de algum elemento vital que faz com que a protagonista, ao se reconhecer equivocada na maneira de conduzir a própria vida - que é imprevisível e não obedece a nenhum livro de receitas -, acabe por se encontrar e a oferecer caminho para dois outros seres que lhe são próximos.
Como tudo parece muito óbvio desde o início, o diretor Scott Hicks – indicado ao Oscar, em 1996, por seu filme Shine-Brilhante -, embora crie interessante ambientação para a história numa região de Nova York, esquina da Bleecker Street com a Charles, em West Village, reconstituída em estúdio, não consegue imprimir elementos na narrativa que a tornem original ou mesmo que a dinamizem, pois há momentos em que se tem nítida impressão de perda de ritmo e de motivação.
Para agravar a deficiência da narrativa, a conjugação, na trilha sonora, de um belo tema inicial de Philip Glass – menos ostentoso e bombástico do que o de Notas Sobre um Escândalo, com que foi indicado ao Oscar – com música lírica italiana e canções do francês Serge Gainsbourg, contribui para prejudicar ainda mais a apreciação do filme, que apesar disso tem fotografia esmerada, de muito bom gosto e tom, de Stuart Dryburgh, cujas lentes captaram também belas imagens da China em O Despertar de uma Paixão, de John Curran, visto recentemente.
A história que o filme narra – que nada tem de original, pois é uma variação do tema de A Megera Domada, de Shakespeare, com o uso da culinária como metáfora até mesmo para suprir questões de adaptação aos tempos atuais – é a de Kate Armstrong (Catherine Zeta-Jones) que impõe seriedade e disciplina à sua vida tal qual a que observa em termos profissionais, já que é chef de cuisine de um bem freqüentado restaurante de Manhattan.
Ao sofrer a perda de uma pessoa da família, Kate se vê forçada a assumir responsabilidades para as quais não estava preparada e, com isso, tem de se ausentar por algum tempo da cozinha do restaurante, à qual dedica sua vida e, de forma equivocada, se considera imprescindível e insubstituível. Quando retorna, porém, encontra um impetuoso subchefe, que passa, sem que ela o saiba, a integrar a sua equipe. Trata-se de Nick Palmer (Aaron Eckhart), de origem italiana, astro da culinária em ascensão, que ouve ópera enquanto trabalha e gosta de divertir as pessoas à sua volta.
Surge então o conflito porque Kate, como mulher que alcançou posição de sucesso num campo muito competitivo com poucas oportunidades, como é o da alta cozinha, a presença de Nick no restaurante representa, para ela, possível ameaça em termos profissionais. Ocorre, porém que Nick aceitou o emprego porque é grande admirador do trabalho de Kate, a qual, muito introvertida, não percebe que na verdade o que ele deseja é aprender mais com ela, o segredo, por exemplo, do seu famoso molho de manjericão.... Que ele, com persistência, coragem e tirocínio, acaba por descobrir ser o acrescento de folha de limão kiffer, comprada por dois dólares na banca de um chinês da esquina mais próxima.
É verdade que os dois personagens, desde sua origem, são régios presentes para quaisquer atores que estejam suficientemente preparados para interpretá-los. No caso, porém dessa nova versão do tema shakespeareano, é em Kate, bem como na sua obsessão pela culinária, que se centra a narrativa. Em outras palavras, o desenvolvimento da história depende quase que exclusivamente dela. E disso a atriz Catherine Zeta-Jones está mais do que consciente.
Bela, sensual e talentosa, Zeta-Jones sabe ocupar espaços e repassar as sutilezas da personagem, tanto nas cenas dramáticas, como nos momentos divertidos. É por isso no mínimo prazeroso ouvi-la falar ao terapeuta (Bob Balaban), ao som do tema musical de Philip Glass, de seus conhecimentos de foie gras, de codornas ao molho de trufas negras de Parma, de pato, de linguado, de enchova, de lagosta e de mexilhões. E de molhos. Muitos molhos!... É verdade que nada disso aparece, como devia, no filme. Afinal, Scott Hicks não é um Ang Lee!... Mas só pelo enunciado de Zeta-Jones, tudo se torna evidentemente uma delícia, uma tentação!.. E compensa evidentemente o ingresso pago do cinema.
Quanto a Aaron Eckhart como Petrucchio, ou melhor, como Nick Palmer, está mais solto do que em suas outras interpretações quase todas tensas, dramáticas. Aaron é desses atores disciplinados, criativos e corretos, que dessa feita exibe com naturalidade o lado romântico, o que não é qualidade de muitos, como se há de convir. Nick aceita o emprego de subchef, primeiro, porque precisa trabalhar, segundo, porque deseja aprender mais com Kate, que ele admira e, terceiro... Bem, ele pensa que a queda dela por ele é uma surpresa, mas na verdade, não é... Apesar da dúvida, o ator está mais do que certeiro nessa sua investida. O seu Nick Palmer acaba sendo por isso magnífico.
Em suma, Sem Reservas, de Scott Hicks, remake do filme Simplesmente Martha, da cineasta alemã Sandra Nettelbeck, de 2001, embora tenha alguns senões de ritmo, de narrativa e de uma trilha sonora não muito adequada, apresenta excelente ambientação, valorizada pela fotografia de Stuart Dryburgh e interpretações magníficas de Catherine Zeta-Jones e de Aaron Eckhart, constituindo-se por isso num agradável espetáculo, que merece ser visto.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
SEM RESERVAS
NO RESERVATIONS
EUA/2007
Duração - 104 min.
Direção – Scott Hicks
Roteiro – Carol Fuchs, baseado no filme Simplesmente Martha, de Sandra Nettelbeck
Produtores – Kerry Heysen e Sergio Aguero
Fotografia – Stuart Dryburgh
Música – Philip Glass
Editor – Pip Karmel
Elenco – Catherine Zeta-Jones (Kate Armstrong), Aaron Eckhart (Nick Palmer), Abigail Breslin (Zoe), Patrícia Clarkson ( Paula) e Bob Balaban (Terapeuta)
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