O
espetáculo, “Família Muda-se” de
autoria de Odilon Wagner, também
diretor e intérprete, como
sabemos, é o cartaz do Teatro
Fecomércio, a nova, confortável
e bela casa de espetáculos de
São Paulo. Está localizada no
primeiro andar do prédio da
Federação do Comércio, na rua
Plínio Barreto, 285 no Edifício
Abram Szajman. Oferecendo
confortável e inovadora platéia
com 522 poltronas, a casa de
espetáculos possui um raro e
amplo palco. Proporciona assim
todas as condições técnicas para
o desenrolar da ação da peça
”Familia Muda-se”, uma das mais
instigantes obras artísticas
surgida nos palcos brasileiros.
A inspiração do argumento, a
semente para desenvolver a
temática, surgiu há sete anos,
como resultado das trocas de
idéias, vivências e experiências
entre Odilon Wagner e a atriz
Tânia Bondezan. Surgiram
inúmeras sessões de pesquisas,
análise e muita dedicação. Ao
contrário do que ocorre com os
autores de novelas, o trabalho
foi lento, na busca constante da
definição psicológica e social
das personagens. No início do
ano o mais novo dramaturgo,
concordou consigo próprio que o
texto estava pronto.
“Família Muda-se” em sua 5ª
apresentação no domingo dia 27
de agosto de 2006, tal como já
vinha acontecendo desde a
estréia, surpreendeu o autor,
elenco, produtores e técnicos. É
que poucas vezes ocorreram uma
participação tão calorosa por
parte da platéia.
É que bem nos moldes dos
espectadores que assistiam as
obras de Ésquilo, Sófocles,
Eurípides e Aristófanes, a
platéia do Teatro Fecomércio,
manifesta-se de modo inusitado,
ora rindo, chorando e
interferindo na ação como nunca
acontecera até então. Outro fato
comovente, no final o público se
recusa a deixar a sala de
espetáculos. É a catarse plena e
total, ou seja a Katharsis, que
significa a purgação e
purificação.
É o efeito que a ação do
espetáculo provoca no publico,
graças à identificação com os
personagens, como ocorria no
XXVl Séc. A.C.
Já que são manifestações
inusitadas da platéia como, por
exemplo, a manifestação, a
interferência, perguntamos quais
seriam as motivações. É a
constatação de personagens
profundamente definidos, vivendo
situações limítrofes em suas
vidas. Os moradores estão se
desfazendo de seus bens para
tentar recomeçar outra vida. Mas
no auge dessas atividades e
ações, eis que surge Jacques, o
pai da familia que se ausentara
há dois anos.
É nesse momento que
constatamos o surgimento do mais
novo dramaturgo brasileiro,
expondo uma capacidade rara de
criar personagens e burilar
sentimentos. À nossa frente
seres que poderemos encontrar em
todas as camadas sociais no
nosso dia-a-dia; humanos,
lutadores, carentes, inseguros e
verdadeiros. Daí a dimensão de
seus atos, sempre coerentes e
dispostos a ceder, abrindo mãos
de seus direitos quando
necessário e que demonstram no
transcorrer da ação.
A beleza e profundidade de
“Familia Muda-se” de Odilon
Wagner, proporciona aos
intérpretes a chance de serem
versáteis, engraçados e
extremamente humanos, daí a
identificação e participação da
platéia.
Tendo em mãos uma obra
explicitamente coerente e
profunda, com a vantagem e o
privilégio de ser de sua própria
autoria, não foi difícil para o
dramaturgo dirigir com
habilidade rara, criando
excelentes marcações e
seqüências, com resultados tão
espetaculares que mais parecem
improvisações repudiadas pelos
grandes diretores, como é o caso
de Odilon Wagner. Em seu
criativo trabalho teve como
assistente Alberto Soares,
profissional dos mais
competentes.
INTERPRETAÇÔES E RESULTADOS
CÊNICOS
Odilon Wagner há anos vem
participando de todas as
manifestações de
artes.Carismático e com forte
presença cênica, já defendeu no
palco, cinema e televisão, os
mais simples e os mais
enigmáticos personagens. Agora
enfrenta o que consideramos o
mais difícil papel de sua
carreira. Jacques, seu
personagem enfrenta diversas
situações aparentemente sem
solução. Como é um personagem
criado pelo próprio intérprete,
soube como conseguir contornar
todos os problemas. Como seria
recebido num lar a volta de um
dono-de-familia que ficara dois
anos ausentes? É a difícil, mas
compensada; daí a magistral
criação de Odilon Wagner, quer
como intérprete, cantor e
bailarino.
Tânia Bondezan numa
personagem que exige o máximo de
uma intérprete, atua com
soberba, amparada por seu
conhecido talento e
versatilidade. É a protagonista
plena com uma capacidade de
comunicação rara em nossos
palcos. Seus diálogos diretos
com a platéia, transformam a
ação em conivência.
Etty Fraser de família nobre,
teve uma educação rara. Etty
viveu e foi professora em
Londres. Tive o prazer de
assistir sua estréia no palco
com peça “Calúnia”, ao lado de
Tônia Carrero. Seguiram-se
trabalhos em “Os Pequenos
Burgueses”, televisão e cinema.
Falar de seu talento e
magnetismo é desnecessário.
Todos conhecem. A atriz Possui o
dom de imprimir verdade a todos
os personagens que vivencia. Tia
Cecília em, “Família Muda-se” é
comovente. O público aplaude e
vibra com suas interferências no
espetáculo. Manifestam-se
carinhosamente mesmo antes de
suas falas. É a mensageira do
apaziguamento no excelente
espetáculo do Fecomércio.
Mário Schoemberger é um ator
de imensos recursos. Revela-se
aos poucos e vai conquistando.
Sua comunicação é plena sem
nenhum recurso de caricatura,
daí a platéia ficar do seu lado.
Olívia Araújo é a personagem
Diva. Com força e garra consegue
enormes resultados, de seu
imenso talento. Durante o
transcorrer da ação, expõe sua
imensa versatilidade.
Taiguara Nazareth é um
personagem chave e o ator e
bailarino sabe disso e tira o
máximo de partido. Tem a seu
favor o físico e talentos.
Paula Weinfeld é uma
personagem difícil muita bem
defendida pela atriz. Sua
rebeldia inicial chega a irritar
a platéia. Mas a transição da
personagem, sua reconciliação
com o pai, provoca comoção. É a
atriz perfeita para uma difícil
personagem.
Hermano Moreira pelo tipo
físico e o talento é o perfeito
Biu. Corresponde pelo que a
personagem exige do ator. Seu
monólogo final é difícil, mas
defendido com precisão.
Tereza Pitter convence
plenamente em suas aparições
versátil e precisa.
Bela e funcional a cenografia
de Fábio Branco da FCR. Para
variar a iluminação de Wagner
Freire tinha que estar presente
em “Família Muda-se” Zienbinsky,
Sandro Polloni e Gianni Ratto
aplaudiriam sua magnífica luz.
Excelente e criativa a
cenografia de Jaime Arôxo. Belos
os figurinos do elenco,
principalmente as criações
masculinas de Ricardo de Almeida
e a Huis Clos que veste Tânia
Bondezan, revelando elegância e
charme. Parabéns para a
realização da Mascates Produções
Artísticas, para um espetáculo
que no final o publico se recusa
a deixar a sala de espetáculos.
“Família Muda-se” reflete a
maturidade da cultura
brasileira. |