LEÕES E CORDEIROS
Em Leões e Cordeiros, Robert
Redford usa diálogos incisivos, por
vezes excessivos, para levantar uma
série de questões políticas que
dividem a opinião pública dos EUA
sobre as guerras, no Iraque e no
Afeganistão, deixando para o
espectador em aberto, entretanto,
uma reflexão sobre os temas
abordados que envolvem a atuação de
políticos, de militares, de
educadores e principalmente da
imprensa.
Com base num roteiro bem estruturado
de Matthew Michael Carnahan, o filme
de Redford destaca, numa linguagem
enxuta, de dinâmica própria, a
responsabilidade da imprensa na vida
do cidadão americano, que, como se
observa, vive indiferente ao que
acontece no Oriente Médio. Atuando
como ator Redford já vivenciara o
tema, em, pelo menos, dois bons
filmes: O Candidato (1972),
de Michael Richtie e Todos os
Homens do Presidente (1976), de
Alan J. Pakula.
Desta feita, porém, quem vivencia o
tema é Meryl Streep que, no papel de
uma jornalista veterana de
televisão, Janine Roth, se recusa,
apesar da ameaça de perder o
emprego, a fazer o jogo dúbio do
ambicioso senador Jasper Irving (Tom
Cruise), que a convocara ao seu
gabinete para, às primeiras horas da
manhã, conceder-lhe uma entrevista
exclusiva a fim de abordar uma
operação em andamento, naquela
ocasião, numa nova ofensiva militar
no Afeganistão.
O filme tem início, portanto, com a
chegada de Janine ao gabinete do
senador, que, ao contrário do que
acontece com políticos, não a faz
esperar na ante-sala, recebendo-a de
imediato em seu gabinete. Pelas
declarações do senador, entretanto,
Janine percebe logo que se trata de
mais uma operação equivocada, como
tantas que ocorriam no Vietnam, no
que é contestada por Irving,
que pretende fazê-la crer que se
trata de uma nova estratégia,
especialmente estudada para
enfrentar os talibans. Para tanto,
Irving usa a linguagem bombástica de
sempre:
- Vivemos um momento crítico. Você
quer vencer a guerra contra o
terrorismo: sim ou não? É esta a
pergunta importante destes nossos
dias – ele afirma.
No Afeganistão, entretanto, pelos
preparativos da operação, da qual
participam poucos soldados,
destacando-se, entre eles, dois
amigos, Ernest Rodriguez (Michael
Peña) e Arian Finch (Derek Luke),
percebe-se que Janine tem razão,
isto é, que os soldados,
voluntários, estão sendo levados a
uma operação suicida, como as que
ocorriam contra os vietcongs,
preparada pelo governo desta feita
para fazer - com a esperada ajuda do
senador - desviar o enfoque dado
pela imprensa aos recentes fracassos
ocorridos no Iraque.
A narrativa se transfere então para
a Califórnia, onde, numa
Universidade, leciona o Dr. Stephen
Malley (Robert Redford), um veterano
de guerra, patriota, que induzira
seus alunos Arian e Ernest a se
oferecerem para lutar no
Afeganistão. Naquele momento,
entretanto, ele recebe, em seu
gabinete, outro aluno, Todd Hayes (
Andrew Garfield), que resiste a
aceitar suas idéias, pois prefere
perseguir o sonho americano de
casar, ter um bom carro, uma mansão
de muros altos e participar de
alguma instituição de assistência
social. Sem poder supor o que está
acontecendo, naquele momento, com
Arian e Ernest, Malley tenta quebrar
a resistência de Todd,
perguntando-lhe: De que vale você
possuir um belo carro, se não tem
combustível para acioná-lo ou então
ter estradas em pandarecos como as
dos países subdesenvolvidos?... De
que vale?...
O filme, rodado em estúdio, com
exemplar economia de meios, é o
primeiro da United Artists sob a
gestão de Tom Cruise, depois que ele
rescindiu o contrato milionário que
tinha com a Paramount Pictures.
Embora tenha sido mal recebido pelo
público costumeiro do ator, o filme
representa, na verdade, uma guinada,
para melhor, em sua carreira. Bem
dirigido Tom Cruise enfrenta, em bom
nível, o embate que tem, como
senador Irving, com aquela que pode
ser considerada a primeira dama do
cinema americano da atualidade,
Meryl Streep, em mais uma de suas
soberbas atuações no papel da
jornalista Janine Roth.
Pois de fato a seqüência em que
Janine faz, de táxi, o percurso da
televisão para casa, passando pelo
cemitério de Arlington e refletindo
sobre as inúmeras vidas ceifadas ao
longo dos anos por atitudes
destemperadas de políticos
irresponsáveis como o senador
Irving, que acabara de entrevistar,
dá bem o tom de pessimismo do filme
de Redford, que se completa, quando
o jovem Todd chega em casa, agastado
com a conversa que tivera com Malley,
encontra o companheiro apegado ao
vazio noticiário da televisão, que
aliena cada vez mais a juventude
americana, o qual lhe indaga: Então,
você já sabe qual vai ser a sua
nota?...
Os intérpretes por sinal são, no
geral, o ponto alto do filme, pois,
além das grandes estrelas – Meryl
Streep, Robert Redford e Tom Cruise
- , também se destacam Michael Peña,
em mais uma excelente atuação, como
Ernest Rodriguez e Andrew Garfield,
que, como Todd, surpreende no duelo
verbal que tem com o professor
Malley, principalmente no momento em
que lhe diz que quem não sabe fazer,
ensina. A fotografia de Philippe
Rousselot consegue belos efeitos
visuais nas cenas de guerra nas
montanhas geladas do Afeganistão e o
comentário musical de Mark Isham é a
todo tempo adequado, além de
bastante sugestivo em relação à
proposta instigante do filme.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
LEÕES E CORDEIROS
LIONS FOR LAMBS
EUA / 2007
Duração – 105 minutos
Direção – Robert Redford
Roteiro – Matthew Michael Carnahan
Produção – Matthew Michael Carnahan,
Tracy Falco, Andrew Hauptman e
Robert Redford
Fotografia – Philippe Rousselot
Música – Mark Isham
Elenco – Robert Redford (Dr. Stephen
Malley), Meryl Streep (Janine Roth),
Tom Cruise (senador Jasper Irving),
Michael Peña ( Ernest Rodriguez ),
Andrew Garfield (Todd Hayes) e Derek
Luke (Arian Finch).