Não existe democracia plena num país
repleto de discriminações e
injustiças sociais. A discriminação
racial gerou manchas irreparáveis na
história da humanidade, como o
extermínio de povos, o escravagismo
e o nazismo. No Brasil, a população
negra e parda sofre as conseqüências
de uma política que por séculos
promoveu a desigualdade. E,
infelizmente, o jornalismo vem
colaborando para a difusão de
preconceitos. Refletir sobre esta
realidade e contribuir para sua
superação é tarefa inadiável para a
qual a FENAJ convoca todos os
jornalistas que clamam por um novo
mundo, possível e necessário.
O primeiro passo para tanto é
reconhecer que a democracia racial é
um mito no Brasil, principalmente
considerando a formação
sócio-cultural e econômica de seu
povo. A discriminação está entre
nós. Exemplo disso é o fato de que,
mesmo percebendo a inestimável
contribuição dos africanos e
afrodescendentes na cultura
brasileira, costuma-se usar o termo
“serviço de negro” para caracterizar
trabalho mal feito, classificar uma
situação difícil de “quadro negro”,
ou desqualificar uma denúncia como
tentativa de “denegrir” a imagem de
alguém.
A associação do negro ao ruim é um
elemento de inculcação ideológica
recorrente no país. Não por acaso,
homens e mulheres negros são maioria
nas prisões. Também no noticiário
policial de TVs, rádios, jornais e
internet, pessoas negras são
apresentadas como suspeitas, ou
previamente julgadas e condenadas
como culpadas. Por isso, somos
induzidos a pensar que negro é
“naturalmente bandido”, ou é pobre e
vive em favelas porque “é vadio”.
Os jornalistas estão convocados a
desconstruir tais ideologias. A
falta de oportunidades de condições
dignas de vida, principalmente para
os grupos étnico-raciais que sofrem
há séculos a discriminação e a
negação de direitos humanos
fundamentais é a raiz do processo de
exclusão ao qual estão submetidas
milhões de pessoas que fazem do
Brasil o país com a maior população
negra e parda do mundo. Por isso,
reivindicações como as de mais e
melhores empregos, cotas nas
universidades, acesso a políticas
públicas de saúde e educação,
combate ao assédio sexual e moral,
efetivo cumprimento da Lei Maria da
Penha e combate à violência
doméstica e familiar contra as
mulheres, e por reparação de
direitos a remanescentes de
comunidades quilombolas - bandeiras
levantadas por diversas organizações
do movimento negro brasileiro - se
revestem de imensa e inegável
legitimidade.
No dia Nacional da Consciência
Negra, a FENAJ saúda a constituição
da Comissão de Jornalistas pela
Igualdade Racial de Alagoas, que,
somando-se às já existentes nos
Sindicatos da categoria no Rio
Grande do Sul, São Paulo, Rio de
Janeiro e Brasília contribui para
uma alteração comportamental em
nosso meio. Uma tarefa básica que
todos podemos realizar, jornalistas
brancos e negros, é ler a tese
“(In) Formação em Relação Racial
para jornalistas e acadêmicos de
Comunicação”, constante no item
5.2 (página 35) das
Teses e Resoluções
aprovadas no 32º Congresso Nacional
da categoria, realizado em Ouro
Preto (MG), em 2006.
Saudamos, por fim, todos os
lutadores e lutadoras sociais que
travam cotidianamente o combate a
todas as formas de discriminação e
opressão. Estes são imprescindíveis!
Brasília, 20 de novembro de 2007.
Diretoria da FENAJ
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