Theresa Catharina de Góes Campos

 

OS DONOS DA NOITE

O filme Os Donos da Noite, escrito e dirigido por James Gray, retrata, numa linguagem de estilo noir, tenso, porém sem ser rebuscado, e com excelentes interpretações, a crise que a Polícia de Nova York enfrentou, nos anos oitenta, quando ficou superada, em número de homens e de armas, pelos traficantes de drogas, perdendo, por isso, em média, dois de seus integrantes por mês.

Foi quando os policiais da cidade adotaram o lema We Own The Night (A noite nos pertence), título original do filme de Gray, que não deve ser confundido com outro, também intitulado, em português, Os Donos da Noite, o qual tem como intérprete principal o comediante Eddie Murphy. Trata-se, portanto, de um drama policial, narrado na linguagem clássica, que Gray já demonstrou querer preservar, com êxito, em seus dois primeiros filmes: Fuga para Odessa – premiado em Veneza - e Caminhos sem volta.

O roteiro, de certa fragilidade, narra a história de uma família, que, de repente, se vê atingida pela crise dos policiais de Nova York, uma vez que seu líder, Burt Grusisnky (Robert Duvall) é também o legendário Chefe de Polícia da cidade, que muitos comparam a J. Edgar Hoover.  O filho dele, mais novo, Joseph (Mark Wahlberg), acompanha os passos do pai, milímetro por milímetro, enquanto o mais velho, Bobby Green (Joaquin Phoenix), tido como ovelha negra da família, gerencia uma discoteca, El Caribe, de propriedade de Marat Bujayev (Moni Moshonov), que, sem saber de sua origem,  lhe dedica grande afeto.

Marat, porém é o chefe da máfia russa que controla, através de Vadim Nezhinski (Alex Veadov), o tráfego de droga na cidade mais cosmopolita dos EUA. Vadim, por sua vez, usa a discoteca El Caribe como base para suas operações, que são do conhecimento de Bobby, mas que, muito esperto, como certo "herói" nacional, finge que não sabe de nada. E vai em frente. Mesmo porque é também usuário de drogas - conhecedor da qualidade do produto negociado - e quer ter, em breve, uma discoteca própria no Brooklyn para poder casar com a porto-riquenha Amanda (Eva Mendes) por quem é apaixonado.

Tudo vai nesse ritmo, quando Joseph sofre grave atentado permanecendo em coma por vários dias no hospital, o que causa profunda crise de consciência em Bobby que fica ciente, ao mesmo tempo, de que os traficantes, com os quais convivem, preparam uma emboscada para eliminar seu pai, Burt Grusinsky. É nesse justo momento que Bobby é advertido pelo pai de que existe uma guerra. É preciso – ele afirma – que você decida de que lado pretende ficar!...

Como ocorre com o roteiro de Os Inflitrados, de Martins Scorsese, o de Os Donos da Noite peca, a meu ver, por pretender fazer com que o espectador acredite facilmente ser usual que, tanto policiais, como bandidos acolham pessoas, em seus respectivos meios, de antecedentes familiares desconhecidos. Por mais distante que se sinta em relação à família, Bobby é ligado a ela, o que se revela pelo estado de ânimo com que recebe a notícia de que o irmão sofrera um atentado mortal, o que não deveria deixar de ser notado, como se há de convir, por seus comparsas da noite.

Se sob esse aspecto o roteiro é frágil, a maestria com que Gray monta a cena da visita de Bobby a Joseph, no hospital, é digna de nota pela combinação de planos fechados, mediante os quais a figura do enfermo só é focalizada, quando o irmão, revoltado, dele se aproxima. Então o afeto de Bobby se evidencia, deixando antever que alguma mudança de comportamento nele poderá ocorrer. A seqüência é mais tocante ainda pelo comentário musical de Wojciech Kilar que a acompanha. E  só não é a melhor do filme, em termos de direção, porque existe outra, a da perseguição no trigal, de belo efeito visual, em que Gray conta também com a eficiente ajuda do fotógrafo Joaquin Baca-Asay.

O grande trunfo do filme, porém, são as interpretações, destacando-se em primeiro lugar a de Robert Duvall, no papel de Burt Grusinsky, sempre preparado, como pai, para receber a pior notícia sobre qualquer um dos dois filhos. Ele é tão firme na advertência que faz a Bobby, como rígido no aconselhamento que dá a Joseph para que receba de novo o irmão que desde algum tempo se desgarrara da família. Duvall está perfeito nas poucas, mas contundentes, cenas em que aparece.

Por sua vez, Joaquin Phoenex repete suas últimas boas atuações, compondo bem a figura de Bobby Green numa linha que lembra um pouco a de alguns intérpretes de O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, a qual lhe deve ter servido de inspiração. Embora tenha bons momentos, contracenando com Eva Mendes e Robert Duvall, é na seqüência da visita ao irmão enfermo no hospital que, ele, tendo como parceiro Mark Wahlberg – de quem é também sócio na produção do filme – brilha realmente. Quanto a Wahlberg, como já o fizera sob a direção de Scorsese, tem atuação correta, discreta -  talvez um pouco contida demais - seguindo à risca a linha determinada pela direção. Em suma, sem ter muita violência, Os Donos da Noite, de James Gray, apesar de ter pontos falhos de roteiro, é filme que se recomenda pela direção e pela atuação de seus intérpretes.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
OS DONOS DA NOITE
WE OWN THE NIGHT 

EUA/2007
Duração – 117 minutos
Direção e Roteiro – James Gray
Produção – Joaquin Phoenix, Mark Wahlberg, Marc Butan e Nick Wechsler
Fotografia – Joaquin Baça-Asay
Música – Wojciech Kilar 
Elenco – Joaquin Phoenix (Bobby Green), Robert Duvall (Burt Grusinsky), Marc Wahlberg (Joseph Grusinsky), Eva Mendes (Amanda), Moni Moshonov ( Marat Bujayev), Alex Veadov ( Vadim Nezhinsky)

 

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