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CONDUTA DE RISCO
Em “Conduta de Risco”, Tony Gilroy, roteirista
da trilogia “Bourne”, faz bela estréia como
diretor, mas se excede, no roteiro e nos
diálogos, a fim de dar ao filme característica
de thriller político, aos moldes dos da década
de setenta, denunciador de crimes perpetrados
por grandes corporações industriais contra a
população, no caso, a dos EUA.
O que é bom no roteiro de Gilroy é que, desta
feita, ele não glamouriza o exercício da
advocacia, como o fizera antes, em “O Advogado
do Diabo”, no qual um profissional, chegado, do
interior, a Nova York, a convite de um grande
escritório, já se instalava com a bela mulher
num magnífico apartamento e, dentro de uma linha
fantasiosa, começava a dar as cartas como se
fora um jurista de top.
Em “Conduta de Risco”, porém, Gilroy criou um
anti-herói, mais consentâneo, a meu ver, com o
exercício da profissão, isto é, um ex-promotor,
Michael Clayton (George Clooney) que, também
convidado por um grande escritório, sabe das
dificuldades que teria de enfrentar daí por
diante com a imprevisibilidade do recebimento de
honorários, o que o leva a abrir um restaurante
a fim de obter numerário fixo para cobrir suas
despesas pessoais.
Quando se inicia o filme, entretanto, Michael
Clayton, também um inveterado jogador de cartas,
se questiona por seus costumes e é, da mesma
forma, questionado pela família. Isso porque
está em grandes dificuldades, afundado numa
dívida de 75 mil dólares com agiota, pois o
restaurante faliu, ele se divorciou, não tem
tempo para o filho, porém precisa manter a
aparência e a fleugma necessárias ao exercício
da advocacia.
Sob esse aspecto, a seqüência em que Clayton
recebe missão de ir atender a um grande cliente
do escritório que acidentara alguém numa estrada
é, a meu ver, exemplar, pois mostra não só a
maturidade do roteirista no trato do assunto,
como também o talento do diretor para compor a
cena, primorosa em termos de estilo. Diante do
histerismo do cliente, tem Clayton de manter a
calma para lhe explicar que, no caso, seria
necessária a presença de um criminalista para
atendê-lo e não a de um processualista, como
ele, que fora equivocadamente chamado.
Mas ao contrário do que se possa imaginar, não é
dessa seqüência propriamente que vai surgir o
fio condutor da história, que só começa, na
verdade, quando o grande amigo de Clayton, -
possivelmente quem o apadrinhou para ingressar
no escritório - Arthur Edens (Tom Wilkinson ),
sofre forte abalo emocional, capaz de levá-lo a
se despir durante a audiência de um processo,
que vinha defendendo há muitos anos, de uma
corporação industrial, na expectativa de auferir
honorários de milhões de dólares.
É Clayton quem fica encarregado, pelo
escritório, não só de tirar Arthur da cadeia,
como também de lhe prestar assistência
psicológica – uma vez que o amigo é
maníaco-depressivo e vive só -, além de se
entrosar melhor com as particularidades do
processo que ele acompanha, o qual poderia, numa
eventualidade, ficar sob sua responsabilidade,
conforme lhe antecipa Marty Bach (Sidney
Pollack). E vai ficar. É então que Clayton
começa a perceber as pressões que se exercem
sobre o colega e amigo, Arthur, as quais vão
sobrar também para ele.
Tem início a partir daí não só o duelo verbal
entre os dois advogados – que às vezes chega ao
exagero do exagero -, mas ainda o que se trava
entre os dois atores, Clooney e Wilkinson, para
que o espectador julgue qual deles tem melhor
atuação, o que é, a meu ver, tarefa difícil. Ela
se complica mais, quando surge em cena a atriz
inglesa Tilda Swinton no papel de Karen Crowdes,
secretária-executiva da criminosa indústria
química, U/North, a qual, prestigiada pela
direção, realiza excelente trabalho de
interpretação como vilã. Mas, na verdade, todo o
elenco - do qual faz parte Sydney Pollack –
tem boa atuação.
Como o núcleo dramático, na essência, não
comporta muitas ilações de ordem política,
Gilroy, com habilidade, boa trilha sonora e
ótima fotografia, além de soberbo trabalho de
edição, monta um esquema baseado numa sucessão
de flashbacks e de imagens de sentido
metafórico para passar a idéia conclusiva, um
tanto volátil, a meu ver, mas de ordem moral, de
que a família por mais dividida que esteja, no
momento de dificuldade por que passa um de seus
membros, se une para lhe prestar apoio. E
assim, como não poderia deixar de ser - e manda
o figurino de Hollywood - tudo termina bem... Ou
muito bem!
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
CONDUTA DE RISCO
MICHAEL CLAYTON
EUA/2007
Duração – 119 minutos
Direção e Roteiro – Tony Gilroy
Produção – George Clooney,
Steve Sodebergh, James Holt e Anthony Minghella
Fotografia – Robert Elswit
Trilha Sonora – James Newton Howard
Edição – John Gilroy
Elenco – George Clooney (Michael Clayton), Tom
Wilkinson (Arthur Edens), Tilda Swinton (Karen
Crowdes), Sydney Pollack (Marty Bach), Danielle
Skraastad (Bridget Klein) e Austin Williams (
Henry Clayton) |
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