Textos para as
orelhas do livro
AS RAPARIGAS DA RUA DE BAIXO II –
Lembranças da Mocidade
Diverti-me muito com a leitura de
AS RAPARIGAS DE RUA DE BAIXO – Memórias
de Infância, de Reynaldo Domingos
Ferreira. É impressionante como a vida
nas pequenas cidades mudou nos últimos
anos. A aceitação que vem tendo o livro
se explica, a meu ver, por duas razões:
é muito bem escrito e sincero. Esse
negócio de sinceridade é para mim muito
importante. Quando a gente começa a ler
alguma coisa e percebe que o autor não
está sendo autêntico, nasce
imediatamente uma certa rejeição pelo
que está lendo por mais bem escrito que
seja. Terminada a leitura de AS
RAPARIGAS DA RUA DE BAIXO – Memórias de
Infância, por absoluta coincidência,
comecei a ler VIVER PARA CONTAR, de Gabriel Garcia Márquez. É
impressionante como são parecidos!... Na
forma de olhar o passado e no ritmo
também. São duas obras que enriquecem a
gente. NEY CURVO, jornalista,
ex-Assessor de Comunicação Social da
Presidência do Banco do Brasil, em
Brasília.
AS RAPARIGAS DA RUA DE BAIXO –
Memórias de Infância, de Reynaldo
Domingos Ferreira, que acabo de ler, é
muito bem escrito, cheio de dados
fascinantes, de sacadas incríveis. É
livro dos melhores que já li no gênero.
Apesar de ter sido criado em outra
região do país, muitas das situações
descritas no livro também me foram
familiares. Os sapateiros, os alfaiates,
os ciganos, as tempestades, os
adultérios e honra, os desertores, a
história do veneno, as três irmãs que
foram obrigadas a viver com o mesmo
homem. A questão dos leprosos em
particular me pareceu impressionante. A
história dos gatos remete ao Grande
Massacre dos Gatos, de Danton. (...)
Mas, o final do livro – as duas últimas
páginas – é cinematográfico e promove
inesperada tristeza no leitor. EZIO
FLAVIO BAZZO, Doutor em
Psicologia-Clínica e escritor, autor de
Vagabundo na China, Dymphne a
santa protetora dos loucos, Ecce
Bestia, entre outros livros.
Os entusiastas das viagens de ônibus,
principalmente aquelas dos anos 40 e 50,
irão se deliciar com o ótimo texto de
AS RAPARIGAS DA RUA DE BAIXO – Memórias
de Infância , novo livro do escritor
mineiro, Reynaldo Domingos Ferreira. Ele
rememora viagens em antigas jardineiras
e sua infância em Uberaba. Revista
ABRATI, n.39, da Associação
Brasileira das Empresas de Transporte
Terrestre de Passageiros, editada pelo
jornalista CIRO MARCOS ROSA.
Texto de apresentação do livro:
SABOR DE VIDA II
De Campo Florido, cenário do
primeiro volume de As Raparigas da
Rua de Baixo, transferimo-nos com o
autor, nesta continuação de suas
memórias, de volta a Uberaba, sua terra
natal, onde assistiremos, como num
filme, ao desenrolar de sua
adolescência. Já não se trata, pois, de
"Memórias de Infância", mas de
"Lembranças da Mocidade". A transição de
uma etapa à outra se faz naturalmente,
sem quebra do fio narrativo, pois, como
advertíamos na apresentação do tomo
inicial, Reynaldo Domingos Ferreira,
excelente memorialista que é, tem também
o domínio da técnica do romance.
Notável, desde logo, a riqueza da
exposição de situações normalmente
vividas, em cidade do interior,
particularmente do interior mineiro, na
época em que se passam esses fatos e
essas vivências – há pouco mais de meio
século. Como o mundo mudou, de lá para
cá, e como o homem continua basicamente
o mesmo, se bem que investido de novas
roupagens, novas tecnologias, novas
aberturas no campo social...
Desde o começo, com a descrição
minuciosa da casa das avós Amélia e
Sinhá (avó e bisavó), do caminho da rua
dessa casa à praça "do Grupo" e de
tantos outros detalhes, passa-nos o
autor a segurança de quem traz a
paisagem e as figuras dessa quadra de
sua juventude perfeitamente vivas na
memória. Essa geografia, essas coisas,
essas pessoas são de uma riqueza que
impede seja tomado o leitor de qualquer
sensação parecida com o tédio. Vamos,
assim, acompanhando a narração com a
entrega de quem saboreia deliciosas
invenções, multiplicado o interesse pela
ciência de que é tudo verdade, de que
tudo aconteceu, a mostrar como a vida
pode alimentar a ficção, fornecer-lhe
estrutura e tutano.
É marcante, nestas memórias, a paixão do
menino e do moço Reynaldo pela música,
desde os primeiros bancos escolares.
Pela música clássica (erudita,
diz o escritor, mas estou entre os
que simpatizam pouco com essa
adjetivação...), particularmente pela de
Tchaikovsky e, dentre suas obras, pelo
Concerto n. 1 para Piano e Orquestra.
(Mais tarde, é claro, o jovem Reynaldo
vai descobrir outros compositores de
gênio, e ampliar o leque de sua formação
musical.)
Também visível é o encantamento do
menino com suas descobertas literárias,
do sitio dO Picapau Amarelo, de
Monteiro Lobato, à poderosa voz de
Gonçalves Dias, nos "Poemas Americanos",
e daí aos grandes nomes universais da
prosa de ficção. Simultaneamente,
descobria sua própria aptidão para as
letras, que viria a se concretizar em
obras de diversos gêneros.
Já então, conforme se percebe no segundo
capítulo, nascia também o interesse pelo
cinema, não somente como espetáculo e
diversão, mas como objeto do âmbito da
cultura e da arte, interesse que viria a
fazer do adulto um competente e sensível
comentarista de suas produções.
Verdadeira devoção, entretanto, dedicará
ao teatro, devendo-lhe Uberaba e seu
entorno, bem como aos colegas que reuniu
e orientou, a sua iniciação na
multimilenária arte cênica. Reynaldo D.
Ferreira, nesse terreno, fez de tudo:
formou e dirigiu atores, traduziu,
montou, escreveu peças de vário matiz,
chegando a cuidar da encenação, de
pormenores da decoração, da publicidade
e – até isso! – da construção de salas
teatrais. Em dado momento, foi-lhe
necessário deixar as lides do palco para
cuidar da própria vida... Não sei
da lacuna que terá essa deserção
significado para sua cidade.
Afortunadamente, para nós, esse
afastamento não foi definitivo. Anos
mais tarde, escreveria, publicaria e,
conforme as possibilidades, encenaria
peças de valor cênico e literário. Já em
Brasília, viria a lançar suas belas
produções dramáticas, de Dona Bárbara
(1983) até A Mulher de Lote (São
Paulo, 2006).
Mas – imagino que alguém pergunte – e as
raparigas da Rua de Baixo? Ficam no
título, prolongamento apenas sugerido
das memórias de infância? Nada disso.
Elas comparecem também aqui, só que de
modo discreto. É este, sim, como o
anterior, um livro com sabor de vida, e
elas são parte do tempero. Mas não quis
Reynaldo sobrecarregar suas confissões
de excessivo condimento; não se
pretende, o seu, um depoimento de sabor
picante, ao gosto boêmio, mesmo porque
sua vida se pautou, e se pauta, antes
pela tônica das coisas do espírito.
Diria, até, que estas são, de certo
modo, memórias culturais, se tal não
parecesse excluir outros aspectos,
talvez menos visíveis, mas não menos
importantes.
Conclui-se esta segunda parte com o
autor à procura de novos horizontes
vitais. Rio de Janeiro? São Paulo?
Brasília? É sintomática de seu estado de
espírito, nessa encruzilhada, a citação
que faz de Jack Kerouac:
Em algum lugar, ao longo da estrada,
eu sabia que haveria garotas, visões e
muito mais; na estrada, em algum lugar,
a pérola me seria ofertada...
Descartada a idéia, por algum tempo
acalentada, de seguir a carreira
diplomática, afastou-se o Rio como
destino. Uma visita à nova Capital
somente lhe deparou caminhos fechados,
sem falar na aversão que lhe causava o
clima de faroeste na nascente cidade.
Brasília teria de esperar... Antes de se
ver pronto para ela, a Paulicéia o
acolheria, lá completaria sua formação.
E para lá se foi, com um canudo na mão
(o diploma de Direito) e muitos sonhos
na cabeça.
No ônibus, ao passo que começa a assumir
os próprios rumos, atormenta-o a
angústia dos novos caminhos. Mas uma
sorte de visão interior lhe mostra que,
de algum modo, ele levava a pérola
no bolso... Resisto à tentação de
transcrever esse finale, belo e
poético. O leitor tem todo o direito de
o reservar para o momento certo, como
culminação do texto.
Com a ida para São Paulo fecha-se uma
etapa de sua vida. E abre-se outra.
Mas isso é matéria para o terceiro
tomo...
ANDERSON BRAGA HORTA
Poeta, contista, ensaísta
e crítico literário,
Prêmio Jabuti
Texto para a contracapa:
(...) Mas – imagino que alguém pergunte
– e as raparigas da Rua de Baixo? Ficam
no título, prolongamento apenas sugerido
das memórias de infância? Nada disso.
Elas comparecem também aqui, só de modo
mais discreto. É este, sim, como o
anterior, um livro com sabor de vida , e
elas são parte do tempero. Mas não quis
Reynaldo sobrecarregar suas confissões
de excessivo condimento; não se
pretende, o seu, um depoimento de sabor
picante, ao gosto boêmio, mesmo porque
sua vida se pautou, e se pauta, antes
pela tônica das coisas do espírito.
Diria, até, que estas são, de certo
modo, memórias culturais, se tal não
parecesse excluir outros de seus
aspectos, talvez menos visíveis, mas não
menos importantes.
Conclui-se esta segunda parte com o
autor à procura de novos horizontes
vitais. Rio de Janeiro? São Paulo?
Brasília? É sintomática de seu estado de
espírito, nessa encruzilhada, a citação
que faz de Jack Kerouack:
Em algum lugar, ao longo da estrada,
eu sabia que haveria garotas, visões e
muito mais; na estrada, em algum lugar,
a pérola me seria ofertada... (...)
ANDERSON BRAGA HORTA
Poeta, contista, ensaísta
e crítico literário
Prêmio Jabuti