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ELIZABETH – A ERA DE OURO
O filme Elizabeth – A Era de Ouro, de
Shekhar Kapur, ao narrar o conflito ocorrido
entre a Rainha Elizabeth I, da Inglaterra, e o
Rei Felipe II, da Espanha, no século 16,
aproveita o episódio para aproximar a soberana
britânica, também conhecida como Rainha Virgem,
de Joana D'Arc – lembrada pela citação do filme
de Victor Fleming, com Ingrid Bergman - sob a
insinuação de haverem sido ambas vítimas do
fundamentalismo religioso que assolava a Europa
na época e que, hoje, ameaça igualmente a paz
mundial.
Trata-se, na verdade, da continuação de
Elizabeth, também dirigido por Shekhar Kapur,
em 1998, que mereceu sete indicações ao Oscar
por suas inegáveis qualidades de épico histórico
com abordagem contemporânea. Como se recorda,
naquele filme, de trilha sonora primorosa e
belos planos panorâmicos, eram narrados os
primeiros anos de reinado de Elizabeth I, em que
ela, ainda jovem, despreparada, lutava para
manter o trono sem saber em quem poderia
confiar.
Esse segundo filme tem início em 1585, três
décadas depois portanto, quando Elizabeth,
protestante, continuava lutando com a
remanescente disputa do trono no âmbito
familiar. Então, a irmã, Mary Stuart (Samantha
Morton), católica, que aspirava ao trono,
contava com o apoio de Felipe II (Jordi Molla),
da Espanha, devoto, religioso ao extremo, que
comandava o regime de terror, a Inquisição,
imposto pela Igreja Católica Romana.
Assim, enquanto se preparava para a guerra
iminente com a poderosa Espanha, Elizabeth, que
se conservava solteira, fora orientada por seu
fiel conselheiro, Sir Francis Walsingham
(Geoffrey Rush), a arranjar um casamento de
conveniência que pudesse eventualmente evitar o
conflito armado, que já se afigurava como
avassalador para a Inglaterra. Os vários
candidatos que se apresentam, entretanto, são,
no filme, ofuscados pela presença de Walter
Raleigh (Clive Owen), um aventureiro, que viera
do Novo Mundo, onde fundara um estado, ao qual
dera o nome de Virginia, em homenagem à Rainha.
De lá ele levara também, em seu navio, produtos
agrícolas, como a batata – vulgarmente conhecida
como “inglesa”, embora originária da Bolívia -
e muito ouro para presentear a soberana.
Além de receber presentes e homenagens de
Raleigh, Elizabeth deixa evidente que se sentira
seduzida não só por seus atributos físicos, mas
também pela verve de seu discurso feito na
oportunidade. Dá poucos ouvidos, portanto, aos
protestos da representação diplomática da
Espanha, a qual, em apartes solicitados,
assegurava que seria Raleigh um pirata do pior
jaez e que o ouro que a soberana inglesa recebia
dele, como presente, fora saqueado de navio
espanhol que circundava as costas da América.
Dessa querela toda resulta que Elizabeth, como
já se esperava, decide não se casar, mas se
entrega a uma paixão enrustida por Raleigh, a
quem outorga a incumbência de se tornar Chefe da
Guarda Real, recebendo assim a designação de Sir
Walter Raleigh.
Por tratar o superficial roteiro, de William
Nicholson e Michael Hirst, em grande parte, de
aspectos íntimos da vida de Elizabeth I, o
cineasta Kapur enclausurou, em planos fechados e
em imagens distorcidas e obscuras, a sua
narrativa, que se torna confusa, arrastada,
principalmente no tocante à abordagem da ação
insurgente, subterrânea, dos católicos ingleses,
os quais queriam a coroação de Mary Stuart –
esta reduzida a pó pelos roteiristas - como
Rainha da Inglaterra. Assim, por mais que Kapur
tenha se esforçado com a ambientação e com os
figurinos, falta à sua concepção cênica aqueles
elementos externos que induzem o espectador a
ter a ilusão de vida real.
A bela e talentosa Cate Blanchett é, na verdade,
a única força viva do filme. Por isso é para ela
que a atenção do espectador fica
obrigatoriamente voltada do começo ao fim. O
retorno à complexa personagem de Elizabeth I,
que interpretara em 1998, deu-lhe oportunidade,
sem dúvida, de aprofundá-la mais, se bem que,
apesar de sua disciplina, no relacionamento com
Raleigh, ela não demonstre a emoção que devia.
Mas é eletrizante, cheia de energia, quando
mostra o lado político da personagem que, entre
outras preocupações de uma soberana, avalia sua
incapacidade de amar – de se entregar a um homem
– porque seu corpo e sua alma já eram
comprometidos com a Inglaterra.
Lamentavelmente os atores que contracenam com
Cate Blanchett - Geoffrey Rush e Clive Owen -
apresentam desempenhos que não condizem com seus
trabalhos anteriores. O primeiro, Rush, reassume
o papel que fizera em Elizabeth, mas sem
garra e nenhuma inspiração. Passa o filme todo
em branca nuvem. O segundo, Owen, decepciona por
haver feito a composição do personagem de Sir
Walter Raleigh para uma linha épica de
narrativa, isto é, com adornos declamatórios,
relegando o seu outro lado, o do indivíduo
atrevido, impetuoso, que veio da América. Mas,
tropeço maior é o de Samantha Morton, a quem
coube ingrata tarefa de representar o papel de
Mary Stuart sob um perfil ridículo que, pelas
indicações históricas e literárias, nunca
existiu. Enfim, Elizabeth – A Era de Ouro –,
uma continuação, está longe de ter as qualidades
do primeiro filme, Elizabeth, também de
Shekhar Kapur, apesar da excelente interpretação
da atriz australiana Cate Blanchett, que
reassume o papel da Rainha Virgem.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
ELIZABETH – A ERA DE OURO
ELIZABETH – THE GOLDEN AGE
Inglaterra/ 2007
Duração – 110 minutos
Direção – Shekhar Kapur
Roteiro – William Nicholson, Michael Hirst
Produtores – Tim Bevan, Eric Fellner, Jonathan
Cavendish
Fotografia – Remi Adefarasin
Música – Graig Armstrong e Ar Rahman
Edição – Jill Bilcock
Elenco – Cate Blanchett (Elizabeth), Geoffrey
Rush ( Sir Francis Walsingham), Clive Owen (Sir
Walter Raleigh), Samantha Morton (Mary Stuart),
Abbie Cornish ( Elizabeth Throckmorton), Jordi
Molla ( Rei Felipe II da Espanha). |
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