SER AMIGO É SER JARDINEIRO
(poema inspirado no filme "The
Spanish Gardener" – 1956, Inglaterra – O
Jardineiro Espanhol – de Philip Leacock)
O menino louro sentia a
ausência da mãe,
mas rezava por ela sem
desespero,
entregando-a aos cuidados do
Pai Nosso.
Suas cartas tocavam seu
coração de garoto,
mas não extinguiam a amargura
de seu pai.
A mão do Deus criador tocou o
menino louro,
triste e solitário,
através da bondade de um
simples jardineiro,
que sabia cuidar bem das
plantas
porque amava as pessoas.
Podava, revolvia o terreno,
plantava,
e, trabalhando com
satisfação,
sem preguiça e sem amargura,
sorria e fazia amigos.
O garoto perdido entre as
paredes frias do
casarão
recebeu, de coração alegre,
a dádiva muito especial do
jardineiro:
sua amizade de moço humilde.
O menino louro, guiado pelo
jardineiro,
descobriu, com entusiasmo, o
esporte;
aprendeu a pescar e a gostar
do sol;
sua fragilidade
transformou-se em vigor;
sua timidez e insegurança
foram substituídas pela
maturidade precoce
que vem com a bênção do
sofrimento
e o toque insistente da dor.
Como a erva daninha que
aparece, ameaçadora,
a calúnia atacou o
jardineiro,
ainda que seu jovem amigo o
defendesse,
contra todas as evidências e
circunstâncias,
apesar das mentiras
proferidas
e das supostas provas...
A amizade acreditou na
inocência
porque a amizade vê além das
aparências
(muito além da superfície
enganadora!)
e vai direto aos corações.
A persistência confiante da
amizade
presenciou a vitória da
verdade,
que libertou o jardineiro
aprisionado
para que voltasse a cuidar
das flores,
cultivar as amizades
e apreciar o sorriso do sol.
Theresa Catharina de Góes
Campos
Pelotas, Rio Grande do Sul,
10 de julho de 1963.