O MERGULHO DO CORAÇÃO
Poema inspirado no filme
"Le grand bleu" (The Big Blue) – "Imensidão
Azul" – França,1988 – de Luc Besson
Olho o mar ou dentro do meu
coração?
Vejo os golfinhos ou a face
de Deus?
As ilhas, para mim, são
pegadas do Infinito;
não são acidentes
geográficos.
As ondas não representam
obstáculos:
são pontes e veredas.
A lua, às vezes, parece guiar
o oceano
tão mansamente como a chuva
que dança
e me dá a impressão de beijar
as flores.
O que sinto, realmente,
quando olho o mar?
O que vejo, na verdade,
quando brinco
e nado em companhia dos
golfinhos?
O que consigo atingir,
em termos de minha dimensão
humana,
quando admiro o oceano
e vou até o seu íntimo mais
desconhecido?
O silêncio do mar é canto de
sereia?
As vozes dos golfinhos
compõem
o meu silêncio interior?
Aqueles a quem amo me fazem
falta
em cada segundo de alegria ou
dor.
A pérola escondida que os
mergulhadores
procuram com risco de vida
é o amor secreto que meu
coração
tenta proteger,
desajeitadamente.
Por que arriscar tudo, com
tanto esforço,
por aquilo que não sabemos
expressar
em palavras ou medir?!
Que visão chega a meu coração
quando sinto o oceano me
envolver
nas mil e uma tonalidades de
verde e azul?
Toco o limiar de um mistério,
a fronteira de um enigma
que é meu tesouro desde a
infância
porque me desafia sem cessar
impresso em todos os anos de
minha vida
como o prelúdio do futuro que
não vejo
apesar de tocá-lo... no fundo
do mar.
Um prefácio para um grande
amor?
Ninguém responde... mas eu
pergunto
sem jamais me fatigar!
Somente eu sei
que guardo, nas paredes de
meu coração,
a pérola conquistada em todos
os mergulhos
na busca incessante do
sentido para a vida;
vale mais que todos os
troféus...
A minha pérola é como
estrela-guia
a multiplicar os sonhos
adormecidos
que não ouso cantar em voz
alta.
A visão dos golfinhos
brincalhões
que não conhecem a inveja
nem se envolvem em
competições
me faz vislumbrar um mundo
diferente:
mais belo porque mais
natural;
mais acolhedor porque sem
desconfiança;
hospitaleiro, apesar da
escuridão...
Guiada pelos golfinhos,
vejo através do que parece
névoa;
em terra firme, sinto-me cega
porque insegura
quanto aos sentimentos e aos
motivos
dos que me cercam,
me apressam, e me pressionam,
querendo me conduzir
aonde meu coração pode
morrer...
As águas coloridas fluem,
curam e cantarolam
canções de fontes múltiplas;
aqui, minhas mãos sabem
acariciar
porque são recebidas sem
reservas;
aqui, tenho segurança para
amar
porque acreditam em mim.
Nesta IMENSIDÃO
AZUL,
não sou invasora,
nem conquistadora:
sou IRMÃ , Amiga
e Companheira
no Reino de Deus;
nas mil e uma
tonalidades de azul,
não entro em
conflitos;
me harmonizo com
a natureza
da qual faço
parte...
Nesta imensidão azul,
a pérola que conquistei
tornou-se facho de luz
nas ruas silenciosas
e não invadidas
de meu coração.
A imensidão azul
me fez perseguir
sem descanso
a face
resplandescente do Amor.
Não mais experimento o medo
de viver com a minha solidão;
não mais receio perder o
rumo;
aqui, o amor não me
assusta...
O mergulho do
coração é o mais perigoso...
porque nas
profundidades desconhecidas
de si mesmo.
Aceito os desafios do oceano
ou mergulho nas mãos de Deus?
Quando mergulho, inebriado,
quais as
distâncias que supero?
Abandono-me à
imensidão azul
ou persigo a face
do Amor?
As vozes dos
golfinhos
se
comunicam com o meu silêncio?
Olho
o mar ou dentro do meu coração?
Vejo os golfinhos
ou a face de Deus?
Estou
apenas mergulhando
ou me
lançando, confiante,
nas mãos amorosas
de meu Criador?
Theresa Catharina de Góes
Campos
Brasília, 13 de julho de
1989.
From: REYNALDO FERREIRA
Date: 03/04/2008 12:52
O MERGULHO DO CORAÇÃO - Theresa Catharina de
Góes Campos
Prezada Theresa Catharina, Lembro-me bem o
quanto você gostou do filme de Luc
Besson!... O poema corresponde ao seu
encantamento pelo filme. De certa feita,
vimos a película na Embaixada da França.
Valeria a pena montar um diaporama com a
imensidão do mar e seus versos sobrepostos
sobre as imagens. Obrigado pela mensagem.
Abraços, Reynaldo
O FILME "Imensidão Azul" FOI
UM DIVISOR DE ÁGUAS EM MINHA VIDA
From:
Theresa Catharina de Goes Campos
Date: 10/04/2008 16:02
Não foi apenas encantamento o que senti com
o filme Imensidão Azul.
To: REYNALDO FERREIRA
Amigo Reynaldo:
A seguir, o texto que eu não ousei escrever
antes. Aliás, sinto-me assim, com pudor, em
relação aos poemas de minha autoria, muito
pessoais, íntimos, reveladores.
Abraços cordiais e a estima de
Theresa Catharina
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O FILME "IMENSIDÃO AZUL" FOI UM DIVISOR DE
ÁGUAS EM MINHA VIDA
Não foi apenas encantamento o que senti ao
assistir tantas vezes ao filme de Luc
Besson.
"Imensidão Azul" representou um divisor de
águas na minha vida!
Aprendi a me aceitar, a conviver comigo 24
horas, sem deixar que as rejeições, as
maldades e as indeferenças encontradas no
mundo me impedissem de me apreciar e viver
tudo que sou como pessoa, missão, vocação e
potencialidade.
Continuei convivendo. No entanto, deixei de
esperar aceitação, de aguardar retorno e até
de tentar mudar a frieza, alienação e
indiferença de alguns. Passei a gostar de
mim, a me valorizar.
A abertura para o meu próximo continuou a
existir, de minha parte, porque tal
disponibilidade para os outros é um dos
componentes fundamentais de minha
personalidade social.
Vivo como sou. Não mudei o que sou. A grande
mudança foi eu me sentir viva sem depender
do próximo. Passei a ser feliz em contemplar
meu íntimo, a ter orgulho de ser
independente interiormente, capaz de atender
às minhas necessidades, ao meu crescimento
pessoal, profissional e cultural.
Percebi, então, o significado positivo da
solidão: o tempo que ganhamos para ser,
refletir, apreciar, elaborar decisões,
planejar atitudes. Antes, eu perdia muito
tempo me esforçando demais em prol dos que
nem mesmo precisavam de mim... Para que
tanto esforço inútil? Compreendi que eu
precisava bem mais de atenção e carinho
interiores. E passei a não mais me
negligenciar!
Do mergulho nas imagens, nos sons e na
história de "Imensidão Azul", consegui
reverter a profunda tristeza que ameaçava me
afogar. Emergi inteira, disposta a não
repetir erros, amadurecida, revigorada, e
ainda mais fiel ao que sempre fui.
Theresa Catharina
Brasília-DF, 10 de abril de 2008
AS DÁDIVAS DA ARTE
From: Heloisa Guimaraes
Date: 12/04/2008 16:59
Subject: Re: Não foi apenas encantamento o
que senti com o filme Imensidão Azul.
estava...
To: Theresa Catharina de Goes Campos
Theresa Catharina,
Não pude ainda assistir ao belo Imensidão
Azul, tão justamente decantado, por tudo que
tenho lido e ouvido a respeito,
especialmente agora, à luz de suas
iluminadas impressões. Estarei atenta para
uma próxima oportunidade de também poder
aproveitar deste magnífico filme.
Posso profundamente concordar, desde logo,
com a linha de conscientização quanto à
sábia postura de vida a que você foi
induzida pela fruição dessa obra, conforme
expõe (o quanto pode ser dadivosa a arte,
não?).
Você já deve ter intuído, por minhas ações,
que partilho daquele mesmo credo.
Penso que o cultivo de uma saudável
autodeterminação, como reflexo de
dignificante auto-estima - sem ser
incompatível com a compaixão, nem aliado do
egoísmo - apraz ao Criador, podendo ser
indutor do engrandecimento pessoal.
Muito grata pelo encaminhamento do lindo
texto. Com afeto, sua amiga - Heloisa Helena