NÃO MATEM A ESPERANÇA!
Quem já ensurdeceu de dor
não pode mais ouvir
palavras ferinas.
Quem ficou cego de tanta tristeza
e maldade que viu
hoje tem os olhos embaçados de
lágrimas;
caminhos, beco e pontos se
confundem.
O corpo geme e vacila;
a alma também;
a voz enrouquece, desiludida;
a esperança vai morrendo
e a gente vira fantasma.
Entontecidos e amargurados,
mas ainda procurando defender
a Fé que, apesar de tudo,
não morreu dentro de nós,
corremos, assustados e
mortificados,
em busca de outros cegos,
à procura de loucos,
chamando os surdos,
questionando os mudos.
Brancos e negros, apesar do
apartheid,
somos irmãos na dor
da desilusão que se repete.
Somos todos fantasmas da vida.
A união jamais alcançada
na alegria e no amor
hoje é irmandade de sofrimento.
O coração ainda bate no peito,
embora os olhos não mais sorriam.
A boca ainda emite gemidos;
não diz mais palavras de amor.
Os olhos conseguem chorar
e as lágrimas banham
a voz transformada pela dor.
Não mais importa que o sangue
corra nas veias como vertente
natural.
Não mais importa que o nosso
andar
pareça indicar uma vida normal.
A verdade vem à tona, persistente
como o suor
que não se esconde;
já morremos dentro de nós...
porque matamos a esperança
em nosso íntimo
ao desistirmos de lutar
contra as injustiças
que não parecem nos atingir
pessoalmente...
Theresa Catharina de Góes Campos
Dacar, Senegal, agosto de 1960. |