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QUANDO AS LÁGRIMAS DENUNCIAM...
(poema inspirado no filme "Mouchette" – "Mouchette, a virgem possuída" –
França,1967- de Robert Bresson)
De tão indiferentes, nem perguntaram:
- Quem matou o seu sorriso, querida irmã?
Quem vestiu você de preto?
Quem colocou todas essas lágrimas
nas estrelas de seus olhos?
Sim, alguém matou o seu sorriso
e apagou o brilho especial
de seu rosto jovem.
Quem fez isso?
Quem apagou o seu sorriso?
Quem deixou a sombra de um pôr-do-sol
no orvalho de seus lábios silenciosos,
revestindo de tristeza infinita
a ternura que poderia existir em seus gestos?
Quem colocou tantas lágrimas
nas estrelas de seus olhos
hoje cansados e desiludidos?
Porque não lhe disseram
- e repetiram –
que apesar de obstáculos, das derrotas
e da indiferença,
a busca do amor continua:
é preciso PROSSEGUIR,
continuar a viver
mesmo que as lágrimas
não cessem de cair e
molhar as nossas mãos fatigadas.
Ainda que o corpo se recuse,
o coração tem que reagir
e continuar a crer, a esperar,
mesmo que as lágrimas
se recusem a parar
de envolver nosso rosto
empalidecido e chocado
porque a solidariedade
não nos resgatou
do desespero.
É preciso prosseguir,
caminhar sempre,
até que as lágrimas silenciosas
se transformem
em palavras de vida...
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília, 06 de julho de 1989. |
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