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								|  | LUND, O PESQUISADOR PIONEIRO DE GRUTAS 
								BRASILEIRAS 
 From: REYNALDO 
								FERREIRA
 Date: 19/05/2008 10:38
 Subject: FW: Lund
 To: Theresa Catharina Campos
 
 Repassando,
 Subject: Lund
 
 Peter Wilhem Lund, dinamarquês, chegou ao Brasil 
								em 1826 financiado pelo governo de seu país, 
								para trabalhar em pesquisa botânica. Três anos 
								depois voltou à Europa e em 1833 regressou 
								definitivamente ao Brasil para continuar o 
								trabalho que já realizara anteriormente. Nesse 
								mesmo ano, juntamente com um botânico alemão, 
								Ridel, iniciou uma longa e arriscada viagem de 
								pesquisa: partindo de são Paulo iriam até Goiás 
								realizando levantamentos e estudos a respeito da 
								flora do sertão. Após um ano, quando já estavam 
								no estado de Goiás, doenças e cansaço 
								interromperam a viagem, o que fez com que 
								entrassem em Minas Gerais, dirigindo-se a 
								Paracatu. A fim de regressar ao distante Rio de 
								Janeiro, a martirizada expedição atravessou o 
								São Francisco e prosseguiu ao longo do percurso 
								do Rio das Velhas, caminho natural para 
								atingirem Ouro Preto. Desde lá a viagem 
								prosseguiria com a comodidade da Estrada Real.
 Foi por acaso que Lund encontrou em Curvelo um 
								compatriota, Peter Claussen, ficando hospedado 
								na fazenda do mesmo. Claussen mostrou-lhe, 
								então, uma série de ossos frágeis coletados em 
								diversas cavernas das numerosas que havia na 
								região, os quais vendia para alguns museus da 
								Europa.
 Iniciavam-se, desta maneira casual, três 
								ciências até então desconhecidas na América: a 
								paleontologia, a arqueologia e a espeleologia. 
								Todas elas relacionadas com as grutas que, em 
								grande número, espalham-se por diversos 
								municípios de Minas Gerais, especialmente os 
								situados à margem esquerda do Rio das Velhas.
 Lund tivera contato durante sua estada na Europa 
								com uma nova ciência, a paleontologia, que 
								estuda a vida do passado por meio de fósseis. Ao 
								perceber a novidade que estava escondida à beira 
								do Rio das Velhas, o naturalista dinamarquês foi 
								intuitivo e radical: mudou de especialidade, 
								abandonando o trabalho de pesquisa botânica, 
								acompanhou Ridel até Ouro Preto, de onde este 
								seguiu para o Rio de Janeiro, e regressou à 
								bacia do Rio das Velhas para realizar sua 
								primeira escavação em uma gruta. Ao longo de dez 
								anos acabaria explorando mais de duzentas e 
								cinqüenta, sempre no entorno do Rio das Velhas, 
								em territórios dos atuais municípios de 
								Vespasiano, Pedro Leopoldo, Matozinhos, Confins, 
								Prudente de Morais, Cordisburgo e Lagoa Santa, 
								cidade que escolheu para residir e onde viveu 
								até sua morte em 1880.
 A primeira escavação, na mágica Gruta de Maquiné, 
								ocorreu em 1835. Ela situa-se no município de 
								Cordisburgo e ficou eternizada nos escritos de 
								um filho da terra, o genial e inimitável 
								Guimarães Rosa. Lund narrou a nova experiência 
								redigindo longo trabalho no qual já citava as 
								três ciências das quais, na América, deve ser 
								considerado como o pioneiro.
 Assinalou, nesse trabalho, que a gruta 
								encontra-se à beira de um regato chamado Córrego 
								do Cuba, que desemboca no Ribeirão do Onça o 
								qual, por sua vez, é afluente do Rio das Velhas.
 No amplo trabalho interpreta que o Córrego do 
								Cuba, num distante passado, teria escavado a 
								rocha calcária compacta formando a gruta. 
								Descreveu com precisão os magníficos salões e 
								formações (espeleotemas) que neles encontrou e 
								chega a confessar "que nunca meus olhos viram 
								nada de mais belo e magnífico nos domínios da 
								natureza e da arte". Chegou a denominar um dos 
								salões, admirado pela beleza que presenciava, de 
								Castelo das Fadas. Além de descrever o entorno 
								da Lapa e o calcário de que foi formada, 
								calculou a sua localização e atitude, fez 
								observações relacionadas com a atividade da água 
								na caverna, a respeito da umidade, da 
								conformação dos solos, da orientação dos salões, 
								forneceu medidas e, inclusive, realizou o 
								desenho de um mapa. Foi o primeiro registro 
								topográfico de uma caverna na América. O 
								trabalho a respeito de Maquiné pode ser 
								considerado como a primeira publicação sobre a 
								espeleologia americana.
 Ainda nesse seu primeiro trabalho da nova fase 
								de pesquisador encontra-se, também, a sua 
								primeira observação arqueológica ao indicar que 
								achou no salão de entrada na gruta um objeto 
								lítico "trabalhado com arte, o que prova que a 
								entrada da caverna foi visitada por habitantes 
								selvagens". Posteriormente, faria registros de 
								pinturas rupestres (uma figura publicada por ele 
								seria a primeira do gênero) e descreveria 
								ossadas humanas. Voltaremos a este ponto mais 
								adiante.
 
 Cástor Cartelle
 Lund, o coletor do passado
 em Navegando o Rio das Velhas das Minas aos 
								Gerais
 volume 2: Estudos sobre a Bacia Hidrográfica do 
								Rio das Velhas
 org. por Eugênio Marcos Andrade Goulart
 Projeto Manuelzão – Faculdade de Medicina da 
								UFMG.
 Belo Horizonte. 2005.
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