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O CAOS NACIONAL E OS MILITARES
From: REYNALDO
FERREIRA
Date: 14/05/2008 20:35
Subject: FW: O caos nacional e os militares
To: Theresa Catharina Campos
Repassando.
Fronteiras e limites
Sérgio Paulo Muniz Costa,
Consultor empresarial e historiador
Causou repercussão nacional a palestra do
Comandante Militar da Amazônia, general Augusto
Heleno, proferida no Clube Militar, no Rio de
Janeiro. Dela, foram pinçados os termos
"lamentável" e caótica", aplicados à política
indigenista brasileira. Não há novidade alguma
aí, pois experimenta-se diariamente o caos
nacional em diversas frentes, ao qual o
brasileiro vai se acostumando bovinamente. A
novidade é que dessa vez foi um general de
quatro estrelas a apontá-lo. Os brasileiros,
informados distantemente sobre os problemas no
extenso arco limítrofe do País com dez vizinhos,
agora se deparam com uma modalidade nova de
problema fronteiriço. Eles são criados pelo
Brasil, de dentro para fora.
Vozes apressadas já tentam questionar as
palavras do general, sob o argumento falsamente
civilista de que os militares não devem se
pronunciar em público sobre assuntos polêmicos,
em nome da sua subordinação ao poder civil. Não
é a fala do general - dirigida a militares em
uma agremiação que tem longa tradição no debate
das questões nacionais - que deve causar
sobressalto, mas sim o fato de não ter ocorrido
também nos fóruns políticos onde a sociedade
espera que seja deliberado o interesse do
Brasil. Neutralizado por uma política suicida, o
Congresso foi ultrapassado pelos acontecimentos
nesse e em outros assuntos cruciais para a
Nação, reduzindo-se a mero espectador da cena
que deveria ser sua. Interveio, mais uma vez, o
Superior Tribunal Federal que vem acompanhando
de perto os acontecimentos políticos nacionais e
preservando a constitucionalidade do País.
Em uma sociedade onde se abrem tantos espaços a
especialistas em Defesa, a fala dos seus
profissionais não deve surpreender, pois, a
exemplo de outras atividades sensíveis, é
impossível separar o pensamento da palavra e da
ação. Esperar que os militares não pensem e não
falem sobre o seu dever de ofício quando se
avizinha uma crise na esfera de suas
competências é garantir que não a impeçam. A não
ser que surja um outro problema mais grave e
inusitado - alguém com responsabilidade de
governo afirmar que o assunto não diz respeito
aos militares. Mas não se deve esperar tamanha
insensatez.
O tema é de interesse nacional, cuja abordagem
demanda coragem, em qualquer área, porquanto se
sobrepõe aos interesses, conveniências e
aparências do momento. A sociedade espera que
seus militares formados na escola da coragem,
defendam-na. Em contrapartida, eles esperam que
a sociedade tenha a coragem de ouvi-los,
institucionalmente. Os estados democráticos
educam seus militares na ética da obediência,
onde a disciplina é uma disposição interior para
submeter-se voluntariamente às normas e a
lealdade é a obrigação moral de, na posição de
sentido, falar tudo. Parece simples, mas não é,
nem aqui nem pelo mundo afora.
Antes da Segunda Guerra, os franceses não
ouviram De Gaulle, os ingleses ignoraram Fuller
e Stalin fuzilou parte da elite do exército
soviético, facilitando, por anomia política,
caduquice institucional ou delírio ditatorial, o
trabalho de Hitler. Seis anos atrás, o poderoso
secretário de Defesa Donald Rumsfeld deu bilhete
azul ao general Shinzeki, chefe do Estado-Maior
do Exército, quando este insistiu que não seria
possível, com as tropas disponíveis, manter a
paz no Iraque após a invasão já então decidida
pelo governo e imposta pelo rolo compressor do
Pentágono. Muitos generalatos depois, o desastre
virou tema de campanha presidencial e polarizou
uma audição no Congresso americano.
Aqui vamos criando nosso desastre, devagar, como
convém. Inviabilizamos economicamente um estado
da federação situado numa fronteira sensível,
desumanizamos essa fronteira e assinamos uma
controversa declaração internacional que atribui
responsabilidades a populações indígenas para as
quais elas não estão preparadas, nem perante a
Nação, nem perante elas próprias. Completando o
quadro surrealista, um ministro de Estado, ao
comparecer à assembléia indígena no Surumu,
recusou-se a se fazer acompanhar pelo governador
e pelos representantes federais e estaduais,
todos eleitos, e pelo general comandante da
brigada ali desdobrada.
A questão indígena na fronteira de Roraima é na
verdade uma questão de limites, criados ou
transpostos. Artificialmente, criam-se limites
entre brasileiros por meio de uma política
racial sectária e não nacional; criam-se limites
que inviabilizam a ação integrada de órgãos e
instituições do governo em prol da paz social; e
criam-se limites à própria cidadania.
Transpuseram-se os limites do bom senso.
As fronteiras do Brasil estão onde sempre
estiveram desde que o Barão Rio Branco
protagonizou e inspirou vitórias diplomáticas
que dispensaram as armas para conquistá-las, mas
que ele nunca duvidou que devessem estar lá para
garanti-las. Para que se as preserve, em
atendimento a supremo interesse nacional,
observem-se os limites na política, nas relações
internacionais e no funcionamento saudável das
instituições nacionais, mantendo-se a ideologia
ao largo. Afinal, uma vez iniciado o
desrespeito, não há mais limites, nem mesmo para
um aprendiz de ditador arvorar-se a mediador da
questão. Esse pode ser o limite do ridículo, mas
há outros mais graves que fariam Rio Branco
tremer de indignação. |
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