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ATHOS BULCÃO - 90 ANOS ( 02 de
julho de 2008 ) - Feliz Aniversário!
ATHOS BULCÃO
Entrevistado por Theresa Catharina de Góes
Campos
Entusiasmo e dedicação ao trabalho são as
qualidades de ATHOS BULCÃO que mais se
destacaram, durante a entrevista que nos
concedeu, à qual compareceram o Diretor da
Secretaria de Informação e Documentação, Paulo
Afonso Lustosa de Oliveira, e a Chefe do Serviço
de Museu do Senado Federal, Tânia Toledo
Tenório.
Fomos recebidos com muita cordialidade, apesar
do artista e mestre de 83 anos estar doente, em
cadeira de rodas, necessitando da ajuda de um
secretário. As dificuldades impostas por sua
condição física não o impedem de continuar
desenvolvendo novos e múltiplos projetos, como
os painéis encomendados pelos Centros de
Reabilitação Motora do Hospital Sarah Kubitschek
– em Brasília, São Luís, Salvador e Fortaleza.
Quando o material utilizado é cerâmica, manda os
azulejos serem feitos no Rio de Janeiro,
enviando cuidadosamente as especificações, de
acordo com o seu planejamento artístico.
Seu trabalho individual caracteriza-se, também,
pelo fato de que está sempre realizando mais de
um projeto artístico ao mesmo tempo.
Se lhe fosse necessário encontrar um movimento
estético para se enquadrar, ATHOS BULCÃO diria:
"concretista/abstrato".
Com humildade nos explicou o porquê de uma
característica surpreendente, reveladora de sua
atitude humilde face às obras que ele não cessa
de criar:
"Não assino os painéis, nem muros escultórios,
por questão puramente gráfica. Acho que
registrar o meu nome seria interferir na obra."
E assim criou sua própria marca, não assinando
seus trabalhos.
Segundo enfatizou, o painel tem a função de
acabamento, pois completa a obra arquitetônica,
com elementos decorativos que humanizam a
construção, ao complementá-la. A motivação é a
integração da arte com o espaço arquitetônico,
resultando na harmonia da obra.
"Por liberdade poética", deu títulos aos
quadros.
Mas "O sol faz a festa", de 1966, somente ganhou
título em 1999.
Por iniciativa própria, fez questão de
esclarecer que, embora se acredite serem de sua
autoria os azulejos em forma de revestimento das
paredes nos edifícios das SQS 108, 308 e 114,
isso não é verdade.
Falou com simplicidade sobre a sua mais recente
exposição, onde apresentou serigrafias, desenhos
e máscaras. Mostrou-nos a montagem fotográfica
do seu último trabalho para um consultório de
neurologista, obra em estilo surrealista, usando
cristais porque o médico gosta muito dessas
pedras.
As atividades de ensino, que igualmente exerce,
superando os obstáculos da idade avançada e dos
problemas de saúde, têm a orientação de motivar
os alunos a mostrarem determinação na vontade de
criar.
Autor de painéis e muros escultórios para a
Câmara e o Senado, ATHOS BULCÃO nasceu em 1918,
na cidade do Rio de Janeiro, então capital
federal, no bairro do Catete. Em 1939 deixou o
curso de Medicina para dedicar-se à pintura.
Soube conviver e se tornar amigo de outros
artistas, com Carlos Scliar, Enri Bianco e
Roberto Burle Marx. Freqüentava grupos de
jornalistas, escritores e poetas, artistas,
músicos, arquitetos e intelectuais cariocas,
demonstrando espírito aberto, alegria,
entusiasmo pela vida. Entre suas inúmeras
amizades, podemos citar o poeta Murilo Mendes.
Selecionado, em 1941, para o Salão Nacional de
Belas Artes – Divisão Moderna, foi premiado com
a Medalha de Prata em desenho e pintura.
No ano seguinte, apresentado por Murilo Mendes,
tornou-se amigo de Maria Helena Vieira e Arpad
Szènes, exilados no Brasil por causa da Segunda
Guerra Mundial.
Juntamente com jovens artistas egressos que se
negavam a estudar na Escola de Belas Artes,
participou de Grupo Dissidente.
Realizou sua primeira exposição individual em
1944, a convite de Oscar Niemeyer, por ocasião
da inauguração do Instituto de Arquitetos do
Brasil.
O pintor Cândido Portinari convidou Athos Bulcão,
em 1945, para trabalhar como assistente na
execução do painel de São Francisco de Assis, na
Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Até o
final daquele ano fez estágio no ateliê do
mestre, no Rio de Janeiro.
A sua segunda exposição individual foi, também,
realizada na sede do Instituto de Arquitetos do
Brasil (1946). As obras exibidas provocaram
controvérsia de avaliação, resultando em
opiniões antagônicas de Santa Rosa e Quirino
Campofiorito.
Do governo da França obteve bolsa de estudos, em
1948, viajando para Paris, onde freqüentou os
cursos de desenho da Academie de la Grande
Chaumière e de litografia no ateliê de Jean
Pons. Em novembro do ano seguinte, voltou ao Rio
de Janeiro, depois de receber Menção Honrosa em
concurso de desenho na Cité Universitaire, do
júri formado por: André Lothe, Dennys Chevalier,
Emmanuel Auricoste e Marcel Grommaire. O álbum
organizado por Carlos Scliar – Dix Artistes de
l´Amérique Latine, contou com a participação de
Athos Bulcão.
ATHOS BULCÃO NO CINEMA
O crítico cinematográfico e
cineasta Sérgio Moricone realizou o documentário
de Curta-metragem "Athos", sobre a vida e a obra
de Athos Bulcão.
Vladimir Carvalho produziu, escreveu e dirigiu o
longa-metragem "Barra 68" (Brasil,2000), onde
Athos Bulcão é focalizado, em 1995, ao
comparecer à cerimônia em que o idealizador da
Universidade de Brasília, Senador Darcy Ribeiro,
recebeu a homenagem de seu nome ser dado ao
campus da UnB, meses antes de morrer.
Na cena, vê-se a satisfação de Athos Bulcão,
demonstrando sua alegria de cidadão e
consciência de artista e mestre.
Artigo publicado na
Revista "Senatus", Secretaria de Informação e
Documentação / Senado Federal. Vol. 1, n. 1,
dez. 2001, Brasília-DF. |
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