Theresa Catharina de Góes Campos

  O FIM DO ÓDIO

Flauzilino Araújo dos Santos

Parece-nos que é impossível passar pela vida sem sofrermos, em algum momento, a tentação de odiar alguém.

Mesmo que andemos "pisando em ovos"; mesmo que sejamos pragmáticos e prudentes, é impossível viver sem ser ferido e magoado. Na maioria das vezes não é preciso ir longe, porque a violência e a injustiça parecem andar de mãos dadas com a deslealdade enchendo de ódio o cálice do ser humano em seu próprio habitat; muitas vezes em seu próprio lar.

Você, por acaso, tem idéia de como se sente uma mãe que testemunha o sofrimento de uma filha, nas mãos de um genro violento e agressivo?

Como será que se processa o sentimento de alguém que foi traído por um sócio desonesto ou foi enganado em seu negócio por um fornecedor fraudulento, e que nada pôde fazer, e daí, perdeu economias ajuntadas por anos e anos de trabalho suado; economias do tipo "de grão em grão", e agora vê tudo que construiu durante a vida virar fumaça?

Como é que alguém pode reagir em relação ao autor, quando se torna vítima da violência ou de algum outro tipo de manifestação da maldade? Existem pessoas que sofreram estupro, mutilação; pessoas que presenciaram assassinatos de membros de sua própria família. Existem outros que tiveram suas vidas arruinadas perante a sociedade em que vivem, pela covardia da injúria, da calúnia e da difamação.

Pelo sentido geopolítico, como é que se forma o sentir de povos e nações que por várias gerações sofrem rejeição e injustiças?

Enfim, como é que podemos nos comportar em relação àquelas pessoas que no passado nos feriram tanto ou ainda nos ferem no presente?

Diante dessas e outras realidades dolorosas da vida, como é que a pessoa pode manter-se em relação ao seu algoz?

Bom! No passado, o próprio direito penal repousava na lei do talião. Moisés orientou sua gente o ter o seguinte comportamento. Ele disse: "A regra é: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe" (Êxodo 22:24).

Em contraposição, aparece Jesus de Nazaré e em Seu primeiro ano de pregação (cerca de 30 d.C.), ao proferir o Sermão da Montanha, Ele define um novo código de conduta para situações que já se encontravam sedimentadas por força das leis e dos costumes, porém, agora o Mestre apresenta a fé no perdão, como um valor humano e cristão e com uma força social capaz de pôr em andamento uma dinâmica mais forte, mais regeneradora e mais libertadora que a vingança do «olho por olho e dente por dente». Ele inova dizendo:

"Ouviste que foi dito: 'Olho por olho, e dente por dente'. Eu digo-vos: Não oponhais resistência ao mau; se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E se alguém quiser pleitear contigo para te tirar a túnica dá-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pede, e não voltes as costas a quem te pedir emprestado."

Ele disse mais:

"Ouvistes que foi dito: 'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo'. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores. Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não o fazem já os publicanos? E, se saudais somente os vossos irmãos que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Sede, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste."

Então, se de um lado nós já sabemos que na nova ordem – o cristianismo - o odiar é errado e que a proposta é "vencer o mal com o bem" (cf. Romanos 12:21), por outro lado, surge uma questão crucial: Como é que nós podemos por fim ao ódio existente em nossos sentimentos? Será que existe algo que podemos fazer para que nos livremos dele?

Sim! Com efeito, é possível trabalhar nesse processo em cooperação com Deus, tendo presente que a base para destruir as cadeias do ódio é a reconciliação que começa, primeiramente, com Deus, e não com as partes humanas que foram ou são protagonistas do conflito. Obviamente, se houver condições favoráveis, poderá até haver reconciliação com essas, todavia, em etapa posterior, porque a reconciliação entre pessoas é um subproduto da reconciliação, primeiramente, com Deus.

Sim, meu caro amigo, como primeiro passo nesse ato de reconciliação com Deus, levante-se fale com Ele que há uma dor em seu coração; que você foi afetado pelo sofreu; que seu coração está partido; que você está zangado e que existem sentimentos difíceis de serem administrados, ou superados. Se tiver vontade de chorar, chore! Posso lhe dizer com a mais absoluta convicção que em razão de Seu coração paterno, Deus vai chorar com você, porque a dor que dói em você, dói nEle, também.

Aliás, uma das razões porque Jesus veio a terra, foi para levar sobre si nossos pecados e os pecados daqueles que pecaram contra nós; os pecados dos nossos agressores.

Então eu pergunto a você o seguinte: "Se seus agressores se arrependerem, você concorda que Deus deve perdoá-los?"

Por favor, pense um pouco a respeito dessa questão e você vai concluir que se Deus os perdoou, você também deve perdoá-los, como um segundo passo de fé.

Obviamente não é fácil perdoar, porém, a força necessária para liberar o perdão (inclusive o perdão unilateral para ofensores que não estão arrependidos e que continuam a nos ofender) será produzida de forma sobrenatural em seus sentimentos por ação do Espírito Santo, a partir do momento em que você concluir que deve liberar o perdão, já que por exercício puramente mental, é tarefa impossível.

Perceba que basta uma espécie de querer, querer. É como se você falasse o seguinte: "Eu gostaria de perdoar, mas não consigo". Então esse "querer", é suficiente bastante para que o Espírito Santo, efetivamente, concretize em seu íntimo tanto o "querer" (perdoar), quanto o realizar o perdão.

Na verdade, se pensarmos o quanto já fomos (e somos) perdoados por Deus, nós nos tornaremos campeões em liberar o perdão para aqueles que nos feriram.

Assim, caro amigo, além de não fazer nenhum tipo de justiça com suas próprias mãos, para o efeito de vingar o mal, por mal, procure abster-se de desenvolver algum exercício de juízo contra os seus agressores. Deixe com Deus o julgamento, pois Ele julga com reta justiça. Assim, "pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça". Enfim, "não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem" (Romanos 12:20-21).

Ao concluir esta mensagem eu o convido para concretizar o seu relacionamento com Deus, mediante a afirmação de um pacto com Cristo, ou a reafirmação de seu pacto com Cristo, e por esse ato, levar ao pé da cruz todas suas dores, tristezas, decepções e ódio e, deixá-los ali. A cruz de Cristo, caro amigo, é o único lugar onde podemos levar e deixar nossas desventuras e mágoas, a fim de que haja descontinuidade no sofrimento e na dor, e possamos experimentar um novo tempo em nosso viver: um tempo de saúde, alegria, amor, paz e prosperidade.

Há, inclusive, uma antiga canção cristã que diz: "Quão bondoso amigo é Cristo, carregou a nossa dor. E nos manda que levemos tudo a Ele em oração." (Harpa cristã, 200).

Sim, caro amigo, Jesus Cristo quer e pode tirar a dor que está em seu coração e lançá-la no mar do esquecimento.

Oração: "Oh Senhor Jesus Cristo! Verdadeiramente o Senhor já levou para a cruz todas as nossas dores, amarguras, tristezas e decepções. Agora, oramos pela concreção em nossas vidas do Teu sacrifício, pedindo que toda tristeza, amargura, ódio, ira e desesperança sejam desalojadas do coração dessa pessoa que ora comigo neste momento, e que sejam lançadas no mar do esquecimento, e que a Tua doce paz, Oh, Senhor, possa ser o árbitro desse coração. Com o auxílio do Espírito Santo, perdoamos a todas as pessoas que direta ou indiretamente praticaram qualquer tipo de agressão contra nossas vidas e contra os nossos interesses, inclusive, Senhor, aqueles que não estão arrependidos e que continuam a nos ferir, aos quais oferecemos o perdão unilateral. Rogamos que todos eles sejam abençoados e visitados pelo Espírito Santo, a fim de que conheçam, verdadeiramente, o Teu grande amor e participem da Tua graça, de sorte que possam emigrar da morte para a nova vida que existe em Ti. Oh, Senhor Jesus Cristo, por tudo graças Te damos e assim em Teu nome oramos ao Pai, com nossos corações agradecidos. Amém. Amém".

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