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LEMON TREE
Expostas a injunções diferentes em relação ao
conflito do Oriente Médio, duas mulheres – uma
palestina e outra, israelense - desenvolvem, em
Lemon Tree, de Eran Riklis, um tipo de
solidariedade invisível que lhes garante força
suficiente para enfrentar, cada qual à sua
maneira, as adversidades de suas vidas.
Com base em fatos reais, o filme de Riklis (A
Noiva Síria) faz o confronto – sem lhe dar
destaque porém - de uma corajosa viúva
palestina, Salma Zidane (Hiam Abbass), dona de
belo pomar de limões que lhe assegura a renda
mensal, com a infeliz esposa, Mira Navon (Rona
Lipaz-Michael), do ministro da Defesa de Israel.
Este, ao se mudar, com a mulher, para uma casa
vizinha à da viúva, deseja pôr abaixo, por
recomendação dos órgãos de segurança, a
plantação dela, herdada do pai.
O que alega o ministro Israel Navon (Doron
Tavory) é que, além da instalação do aparato de
segurança na casa em que vai morar (câmaras,
cercas de arame farpado, guardas e guarita),
também o limoeiro da propriedade ao lado terá de
ser eliminado, já que poderia servir de
esconderijo, a seu ver, para algum homem-bomba
atentar contra a sua vida.
- O meu pai sempre dizia – pondera Navon – que
só ganharemos tranqüilidade em Israel, quando
nossos vizinhos, os palestinos, tiverem, pelo
menos, esperança. De qualquer forma, porém, o
limoeiro terá de vir abaixo por recomendação dos
órgãos de segurança, com os quais não desejo
criar polêmica.
Ocorre, entretanto, que a inspirada e bela viúva
Zidane – numa das paredes de sua casa há uma
foto do charmoso jogador francês que tem o seu
sobrenome – decide enfrentar a decisão do
poderoso ministro israelense. Mesmo sem ter
condições financeiras, ela vai à procura de Ziad
Daud (Ali Suliman), advogado recém-chegado da
Rússia, também de boa estampa, para acionar o
ministro de Israel na justiça.
Vivo e esperto, embora não dê nota disso em
momento algum, Daud, já prevendo a projeção que
o processo lhe proporcionará em termos
profissionais, concorda em aceitar a causa,
deixando para mais tarde o acerto de contas com
a viúva Zidane. É claro que, como parte desse
acerto, Daud se permite logo, vestido com o
camisolão do esposo de Zidane, passar uma noite
com ela, que vive solitária, desde que se
enviuvou, honrando o nome do marido, como é da
tradição dos palestinos.
Enquanto isso, Mira Navon, embora tenha se
mudado para a nova casa dotada de todo o aparato
de conforto e de segurança, leva vida infame,
também solitária, como a da vizinha Zidane. Pois
o marido, Israel, bem mais autêntico que o
advogado Daud e boa pinta como ele, se compraz
em realizar grandes festas, trazendo para
participar delas algumas de suas amantes, até
mesmo uma Carla Bruni israelense que,
acintosamente, o beija na boca na frente de
Mira.
Com todos esses ingredientes, o drama está
formado, atingindo o ápice, porém, quando, para
defender sua propriedade, a viúva Zidane, que
encanta à sua já então admiradora Mira,
enfrenta, em luta corporal, os seguranças do
ministro da Defesa, não se intimidando mesmo em
atirar por cima da cerca de arame farpado vários
limões para atingi-lo pessoalmente.
A narrativa de Riklis, sem ser rebuscada, flui
naturalmente sem preocupação de apuro
estilístico. Nada daquela linha que o cineasta
procurou impor em A Noiva Síria de cenas curtas,
bem marcadas, com diálogos breves e de gradação
de tonalidade fotográfica. Nada, nada. Pelo
contrário, algumas cenas de tribunais, de tão
corriqueiras, acabam se tornando
desinteressantes.
O que é bom na direção de Riklis, além da bela
seqüência alegórica final, é o trabalho de
orientação dos atores. Ele consegue com isso
extrair do elenco interpretações marcantes, como
a de Hiam Abbass, grande atriz que, no papel da
viúva Zidane, esbanja competência. Ali Suliman,
um dos homens-bomba de Paradise Now, que com
Hiam contracena durante todo o filme, tem também
bons momentos, como aquele em que diz, para os
jornalistas, que a luta de sua cliente "é
semelhante à de David contra Golias narrada na
Bíblia de vocês!..."
Os dois atores estreantes, Rona Lipaz-Michael e
Doron Tavory, são, entretanto, as boas
surpresas. Rona está esplêndida, quando,
reagindo à condição de Mira, de esposa enganada
do ministro, concede explosiva entrevista a um
jornal de Tel-Aviv, comentando os excessos da
política de Israel em relação aos palestinos. É
evidente que, como qualquer esportista
brasileiro, ela vai ter de desdizer logo, logo,
tudo o que afirmara. Mas, ao assinar a carta ao
jornal, preparada pelo marido, Mira já está de
malas prontas para deixar o lar de uma vez por
todas.
Doron Tavory é o ator perfeito para transmitir o
tipo do político que acha que tudo pode, como
tantos conhecidos por aqui, mas que soçobra ao
perceber que a mulher o abandonou para sempre e
que a construção do muro pelo Estado de Israel,
na fronteira da Faixa de Gaza, acabou por
assegurar à viúva Zidane a merecida vitória, já
ganhada em parte na justiça, de cuidar em paz do
seu belo pomar de limões...
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
LEMON TREE
ETZ LIMON
Israel, França, Alemanha / 2008
Duração – 106 minutos
Direção – Eran Riklis
Roteiro – Suha Arraf e Eran Riklis
Produção – Eran Riklis, Moshe Edery, David
Silber e Betine Brokemper
Fotografia – Rainer Klausmann
Música Original – Habib Shadah
Edição – Tova Asher
Elenco - Hiam Abbass (Salma Zidane), Doron
Tavory (Ministro da Defesa de Israel), Ali
Suliman (Ziad Daud), Rona Lipaz-Michael (Mira
Navon), Tarik Kopty (Abu Hassam), Amos Lavi
(Com. Jacob), Amnon Wolf (Leibowitz)
From: adfalcao
Date: 2008/9/16
Subject: Re:PRIORIDADE MÁXIMA) LEMON TREE -
Reynaldo Domingos Ferreira
To: "theresa.files"
Theresas, obrigada por enviar-me o ótimo
comentário de nosso crítico e amigo. Realmente,
trata-se de um excelente filme que, lançando mão
de algo aparentemente insólito, mostra a
prepotência de uns em confronto com a
persistência e a sensibilidade de outros.
Abraços, Ana |
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