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A DUQUESA
A Duquesa, de Saul Dibb, narra a história de uma
mulher que, tendo aceitado, na juventude, o que
lhe impôs a sociedade patriarcal inglesa, se vê
obrigada, mais tarde, a se sacrificar a fim de
manter as aparências de dignidade da nobreza num
momento de ebulição política, marcado pela
Revolução Francesa e pela Independência dos EUA.
O filme faz implícito paralelismo entre
Georgiana Cavendish (1757-1806), Duquesa de
Devonshire e Diana Frances Spencer (1961-1997),
Princesa de Gales, como é óbvio, até porque são
ambas integrantes da mesma linhagem familiar. O
roteiro, bem elaborado pelo próprio Dibb, em
colaboração com Jeffrey Hatcher e Anders Thomas
Jensen, é baseado no livro Georgiana: Duchess of
Devonshire de Amanda Foreman.
Pelo belo tratamento cinematográfico dado por
Dibb às seqüências iniciais - concomitantes à
exibição dos créditos - tem-se a impressão de
que não se está assistindo a um mero filme de
época, mas a um trabalho de fôlego e de
originalidade tanto no que diz respeito à
ambientação, à beleza do figurino, à justeza das
interpretações e principalmente à eficiente
composição de cenas e de planos fotográficos.
Pois, enquanto Georgiana (Keira Knightley) se
diverte nos jardins de sua residência com
amigos, entre os quais se encontra o jovem
Charles Grey (Dominic Cooper), seu flerte
casual, sua mãe Lady Spencer (Charlotte Rampling),
num dos salões de recepção da propriedade,
trata, como era costume na sociedade patriarcal
inglesa, de seu casamento com um homem mais
velho do que ela, o Duque de Devonshire (Ralph
Fiennes).
Concluídos os acertos pré-matrimoniais, o Duque
parte sem ter contato com Georgiana. Esta,
deixando os amigos no jardim, atende ao chamado
da mãe para, no salão, receber dela, com agrado,
a notícia de seu noivado. Meio sonsa, ela indaga
à mãe: - Então o Duque me ama?... Mas ele só me
viu uma vez! Porém orgulhosa, já se sentindo
como futura Duquesa de Devonshire, Georgiana faz
expressiva caminhada em direção à sacada da
residência para assim sugerir a despedida aos
amigos. E, na cena seguinte, ela caminha em
sentido contrário, ingressando na igreja para a
solenidade do casamento.
Pena que a promessa fique nisso, ou melhor, que
sejam apenas nesses breves momentos iniciais que
Dibb acerte na condução de sua narrativa, de
certo charme e agilidade. A partir de então, seu
trabalho mergulha no convencional, arrastando
temas por demais explorados em filmes do gênero
como a exigência do marido de a esposa ter filho
varão para perpetuar o nome da família ou a
obrigação dela de aceitar a criar uma criança,
nascida de antiga relação dele com uma
empregada, já morta.
De qualquer forma, porém, o cineasta não deixa
cair o ritmo, apoiando-se para tanto num bom
trabalho de edição de Masahiro Hirakubo, na
fotografia esmerada de Gyvia Pados, no
apropriado comentário musical de Rachel Portman
e principalmente nas primorosas interpretações
do elenco, em que se destaca, naturalmente, o
trabalho de Ralph Fiennes, digno de elogios.
O Duque de Devonshire, segundo a máscara que lhe
empresta Fiennes, ganha uma dimensão humana que
certamente o roteiro, escrito para destacar as
desventuras da personagem-título, a Duquesa, não
lhe atribui. No papel, o Duque não deve passar
de um déspota, machista, autoritário e
inflexível em suas decisões, que traz num
cortado a pobre esposa, obrigada sempre a
cumprir estritamente suas vontades. Mas não é
esta a figura que Fiennes encarna. Ele sabe
transmitir a sutil compreensão de que o Duque
aprecia e valoriza a atuação política da Duquesa
– um século antes de ser concedido o direito de
voto às mulheres inglesas -, a qual, como a
princesa Diana, conseguiu atrair para si grande
prestígio em meio aos seus súditos.
Fiennes esmera-se ainda na percepção de que ele
continua amando e admirando a esposa, mãe de
seus filhos, embora as circunstâncias – criadas,
na verdade, pela própria Duquesa – o levem a se
tornar amante de Bess Foster (Hayley Atwell),
também moradora em sua residência. E, por outro
lado, a sensível reação do Duque ao saber que a
Duquesa traz no ventre um filho que não é seu,
pela forma com que a exterioriza a personagem,
consagra realmente o trabalho de um grande ator.
Quanto a Keira Knightley, fica evidente por essa
sua atuação que, apesar de ter rosto bonito, boa
presença em cena, como intérprete, ela se repete
muito. Em alguns momentos, como Duquesa, ela
está muito bem. Mas em outros poderia, com
certeza, explorar mais as oportunidades.
Charlotte Rampling e Hayley Atwell apresentam
excelentes interpretações, o mesmo acontecendo
com o novo e promissor talento do cinema
britânico, Dominic Cooper, que, dado o seu
inegável preparo técnico, vem sendo apontado,
nos meios cinematográficos da Inglaterra, como
provável sucessor de Daniel Craig na série do
Agente 0007, James Bond.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.theresacatharinacampos.com
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FICHA TÉCNICA
A DUQUESA
THE DUCHESS
Reino Unido, Itália, França / 2008
Duração – 110 minutos
Direção – Saul Dibb
Roteiro – Jeffrey Hatcher, Anders Thomas Jensen,
Saul Dibb, com base no livro Georgiana: Duchess
of Devonshire, de Amanda Foreman
Produção – Alexandre Arlango, Carolyn Marks
Blackwood e Amanda Foreman
Fotografia – Gyvia Pados
Música Original – Rachel Portman
Edição – Masahiro Hirakubo
Elenco – Keira Knightley (Duquesa de Devonshire),
Ralph Fiennes (Duque de Devonshire), Charlotte
Rampling (Lady Spencer), Dominic Cooper (Charles
Grey), Hayley Atwell (Bess Foster), Simon
McBurney (Charles Fox), Aiden McArdle (Richard
Brinsley Sheridan). |
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