Theresa Catharina de Góes Campos

  SEM FÔLEGO


Sem fôlego, tal a vastidão
que percorro do alto, embevecida,
o imenso espaço de árvores e rios,
durante o vôo no pequeno Cessna
para chegar a Aragarças.


Aperta-me agora o coração
na aterrissagem sem problemas
de nosso pequeno pássaro,
habilmente tripulado por jovem piloto,
experiente e conhecedor dessa rota.


Em terra como no ar,
parece-me que os colegas
não se sentem como eu.
Ou talvez escondam
seus reais sentimentos.
Ou, mais experientes,
se controlem sem dificuldade.
Nada lhes parece inusitado.
Nada consideram insólito.
Cumprem suas funções regulares
com tranquilidade, apesar
do muito que é preciso fazer.
Acostumados demais à rotina
ou talvez já bastante desiludidos.


Quando esqueço a beleza do vôo,
a visão das distâncias
sem ocupação demográfica,
o peito me dói sem cessar,
ao perceber o chocante abandono,
com tantas carências da população
em suas necessidades básicas
de habitação ,saúde, educação...
ao ver o povo sem os seus direitos
elementares pelo Estado negligenciados.


Impossível, porém, não constatar
com muita admiração,
a dignidade de valores fundamentais,
a coragem de nossa gente indômita,
embora resignada e tão sofrida.


Em casa e na escola,
tudo parece faltar,
menos a responsabilidade dos professores,
tão humildes quanto determinados,
dia após dia trabalhando
com o mínimo disponível
(com frequência, falta até o mínimo!).

Deverei voltar outras vezes,
com meus olhos de jornalista
buscando se houve melhorias
para esses meus compatriotas.
Estremeço, já angustiada,
antevendo seus rostos
precocemente envelhecidos,
sua aflição envergonhada,
a índole bondosa, hospitaleira,
com certeza esperando
(mas tão longe da realidade!)
que sejamos nós a trazer
as mudanças com que tanto sonham...


Descerei do Cessna ainda mais
sem fôlego, já angustiada,
com o coração doendo, mais
apertado do que na primeira vez.


Meus textos fazem perguntas...
As soluções demoram.
Mal poderei, sem angústia,
na próxima viagem, abrir os olhos ...
porque talvez eu vá me deparar
com a mesma situação deplorável.


Anseio profundamente por essas mudanças,
por melhorias na vida das pessoas
que agora estão a me rodear,
me oferecendo um sorriso aberto,
silencioso e desdentado.


Voltarei a ficar sem fôlego,
de coração apertado, doendo,
porque a Faculdade não me preparou
para situação tão dolorosa.
Mas essa minha desculpa,
embora verdadeira, não é desculpa,
nem me exime de responsabilidade.


Theresa Catharina de Góes Campos
Aragarças-Goiás, 1966.

From: Theresa Catharina de Goes Campos
Date: 2008/12/29
Subject: Ficou muito melhor o meu verso, realmente, Ana, revisado com
a sua sugestão - obrigada, mais uma vez! Re: SEM FÔLEGO
To: adfalcao


Estimada Ana:

Muitíssimo obrigada! Revisado de acordo com a sua ótima sugestão, o verso ficou muito melhor, realmente.
Aliás, as suas sugestões estão sendo registradas nos meus sites e no cd-rom Existe Vida sem Poesia?
Abraços afetuosos da amiga
Theresa Catharina
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2008/12/29 adfalcao

Theresa, sua preocupação com os outros vem de longa data.
Fico sem graça de apresentar sugestões, tão belos são seus versos, mas, como lhe disse, quero o melhor para você.
Pense em "ao ver o povo sem seus direitos". Abraços Ana


From: Virginia Silva
Date: 2008/12/29
Subject: Re: SEM FÔLEGO
To: Theresa Catharina de Goes Campos


Lindo!!!! Catharina,você retratou muito bem o sofrimento do nosso povo que mora tão longe,mas que sabe lutar com muita garra pra sobreviver.Parabéns!!! Gostei. Abçs,Virginia

 

Jornalismo com ética e solidariedade.