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O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON
Uma aborrecida lamúria no sentido da
transitoriedade das coisas
da vida é o que faz, usando recursos de
tecnologia, David Fincher, em
O Curioso Caso de Benjamin Button, baseado numa
novela de Francis
Scott Fitzgerald, que narra a história de um
indivíduo nascido aos
oitenta e poucos anos, mas que rejuvenesce a
cada dia que passa até
morrer como criança de colo.
Embora seja da década de vinte a novela de
Fitzgerald – incluída
no livro Contos da Era do Jazz (1922) -, o
caudaloso roteiro de Eric
Roth insere no argumento retratos pessoais de um
relojoeiro (Elias
Koteas), de uma nadadora noctívaga (Tilde
Swinton) e de um comandante
de barco rebocador (Jared Harris). O objetivo é
o de atualizá-lo para
focalizar fatos mais recentes como o ataque a
Pearl Harbor (1941) e a
ocorrência do furacão Katrina (2005), que
praticamente destruiu a
cidade de Nova Orleans, onde se passa a
história.
A receita é, portanto, a mesma que Roth usara no
roteiro de
Forrest Gump, O Contador de Histórias, com o
qual ganhou o Oscar da
Academia (1994). Desta feita, as coisas, ao que
parece, não funcionam
como era de se desejar. Isto porque os episódios
históricos – muitos
incorretos pela inobservância, por exemplo, de
que, no período
(1920-1932), vigorava a Lei Seca nos EUA -, não
se encaixam bem com a
narrativa central. Esta se estrutura nos dramas
pessoais de Benjamin
(Brad Pitt), apesar de ser ele cercado durante
toda a vida por pessoas
extremamente bondosas, sinceras e cordiais.
Como Benjamin revela em seu diário secreto -
lido por Carolina
(Julia Ormond) para sua mãe, Daisy (Cate
Blanchett), moribunda, no
leito de um hospital, às vésperas da chegada do
destruidor furacão -
ele nasceu justo no dia do encerramento da I
Guerra Mundial (1918).
Foi deixado pelo pai, Thomas Button ( Jason
Fleming) na porta de um
asilo de idosos, Nolan Hause, e criado pela
administradora Queenie
(Taraji P. Henson). Segue-se por isso, a fim de
funcionar quase como
preâmbulo, a sequência do protesto de um
relojoeiro, sr. Bolo, contra
a guerra, que constitui, na verdade, o único bom
momento do filme.
Pois o sr. Bolo, chamado a construir o grande
relógio da estação
central da cidade, surpreende o presidente
Theodore Roosevelt,
presente ao ato inaugural, ao colocar seu
mostrador a trabalhar ao
contrário. Indagado sobre o motivo da
extravagância, ele esclarece que
o relógio fora feito durante a guerra, que lhe
levara embora para
sempre seu único filho. Então, segundo explica,
o sentido de os
ponteiros girarem para trás seria o de fazer com
que o tempo voltasse
a fim de ter ele o filho de novo em casa.
Aos que conhecem a filmografia de Fincher causa
estranheza, desde
o início da película, o caráter passivo do
protagonista. Pois Benjamin
difere bastante das personalidades focalizadas
em outros trabalhos
dele, como Seven – Os Sete Crimes Capitais,
Clube da Luta e Zodíaco,
principalmente o último, em que um cartunista,
Robert Graysmith (Jake
Ghillenhaal), arrisca tudo, a própria família,
para continuar
investigando intensivamente a identidade do
serial killer que assombra
a região da Baía de São Francisco.
A personagem que tem essa característica
desafiadora dos outros
filmes de Fincher é o Capitão Mike. Ele se
insurge contra a autoridade
paterna para fazer inúmeras tatuagens no corpo,
que, a seu ver, são
suas obras de arte. E se considera um artista.
Só ao final da vida,
segundo Mike, o indivíduo tem de aceitar o que
lhe é imposto porque,
no decorrer dela, é próprio que ele se revolte,
fale mal, esperneie
contra o destino até encontrar o caminho que
deseja seguir.
Se bem que a direção de Fincher tenha o mérito
de dissimular o
uso de efeitos especiais para tocar a narrativa
– o que também não é
grande novidade -, esta se ressente da
morosidade com que é por ele
conduzida. O ritmo, arrastado, cai feio por
diversas vezes. E há
descuidos na ambientação, na reconstituição de
época – a trilha sonora
não é, como se esperava à causa do jazz, de boa
qualidade - e
principalmente na orientação aos atores, que,
contidos em demasia,
mais parecem autômatos. Brad Pitt e Cate
Blanchett, por exemplo, estão
absolutamente inexpressivos.
O melhor ator em cena é, sem dúvida, Jared
Harris no papel do
Capitão Mike, que mesmo em situações
inverossímeis, como a do
enfrentamento de seu barco rebocador contra um
submarino, dá ao filme
tom de otimismo mais consentâneo com frase de
Mark Twain, inspiradora
do conto de Fitzgerald, autor muito explorado
atualmente pelo cinema :
A vida seria infinitamente mais feliz se
pudéssemos nascer aos 80 anos
e gradualmente chegar aos 18. O que parece,
afinal, ser um grande
equívoco.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON
THE CURIOUS CASE OF BENJAMIN BUTTON
EUA/2008
Duração –
Direção – David Fincher
Roteiro – Eric Roth com base no conto homônimo
de Francis Scott Fitzgerald
Produção – Kathleen Kennedy, Frank Marshall e
Ceán Chaffin
Fotografia – Claudio Miranda
Trilha Sonora – Alexandre Desplat
Edição – Kirk Baxter, Anges Well
Elenco – Brad Pitt (Benjamin Button), Cate
Blanchett (Daisy), Jason Fleming (Thomas Button),
Elias Koteas (sr. Bolo), Tilde Swinton
(Nadadora), Jared Harris ( Capitão Mike), Taraji
P. Henson (Queenie), Julia Ormond (Carolina),
Elle Faning (Daisy aos seis anos) |
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