Theresa Catharina de Góes Campos

  A DESCOBERTA MAIOR

Descobri que,
se eu estou a perder,
posso até sair ganhando.
Os soluços podem quebrar grilhões!
Se fiquei livre é porque
vivi a plenitude do pranto,
tomando as lágrimas
para construir o meu canto.

Por trás de cada soluço
encontrei vitórias não-planejadas.
Foram se tornando visíveis...
depois que aceitei
e confessei a derrota
que veio gerar a vitória.

O que perdi, não mais me prende...
O que não tenho mais,
não mais me preocupa.
Quando perdi,
sempre me libertei
porque me desprendi
de tudo que não me pertencia;
me libertei de verdade,
nos mínimos detalhes,
em toda a plenitude.

Quando escuto os meus
lamentos de dor,
tenho o conhecimento
fortalecido
da amplitude do amor.
Se estremeço, é que eu sinto.
Se me dói, é que estou viva!

Quando reconheço as derrotas,
identificando minhas perdas
mais dolorosas,
mostro-me consciente
dos passos necessários
para a vitória tecida
nas lágrimas e nos soluços.

Quando não vejo,
percebo e sinto;
quando não posso tocar,
eu sonho além dos limites;
quando não tenho a benção do sonho,
imagino sem barreiras...

Nas perdas, consigo
nos obstáculos me encontrar;
perdendo, eu ganho;
o que perdi, me enriquece;
o meu choro, o meu lamento
vira canto...
ainda que um canto de dor!

Se eu fico, não devo partir;
se eu parto, não posso ficar.
Se eu perco as forças,
entendo a energia que eu tive...
Se eu vivo é porque...
não morri dentro do pranto!

Se não aceito chorar,
eis que não posso aprender!

O que perdi, abriu as portas
de minha prisão temporária.
Quando eu me perco,
me vou encontar;
quando me encontro, percebo
os pontos de luz e sombra.

Se recusamos o pranto,
por que cantar a canção?!

As minhas perdas
me transformam
e me vão levar
a momentos de coragem;
quando estou vulnerável,
reúno todas as forças;
quando sou magoada,
eu me ponho a caminhar...

Se eu choro, posso fugir;
na fuga, posso vencer.
Se eu choro, posso mudar;
se eu mudo, posso vencer.
Se eu choro, depois sorrio...

Da lágrima, faço janela;
do pranto, faço canção;
da canção, faço arco-íris;
da perda, faço caminho.

Nas minhas lágrimas,
eu me purifico, me afasto,
dessa maldade do mundo!
Com os meus versos enfrento
toda a calúnia do mundo.
A minha canção me liberta
dessa arrogância do mundo.

E quem zombou
não me viu,
a sorrir
por entre as lágrimas...
E quem fugiu,
depois das maldades,
vitoriosa não me viu
vencer o mal
com a canção dos meus versos!

Se amo
é porque te quero
nos teus versos e
no teu pranto
a construir os teus sonhos.

Se recusamos o pranto,
como fazer a canção?

De que me serve o choro
que não me leva à canção?
De que me serve a lágrima
que não me dita o poema?

Do choro, faço meu barco;
do pranto, faço acalanto;
do choro, faço uma porta
e uma janela escondida.

Nas lágrimas, eu vejo as estrelas;
no pranto, eu sinto o luar.
Das lágrimas não quero fugir
porque refletem os teus olhos.
Da prisão de teu olhar,
eu já consegui voar.

Se aceito perder, eu ganho
o riso que eu não perdi;
se aceito chorar, eu ganho
o poema de meu pranto
e a canção que me procura,
e me encontra,sem falhar,
nas rugas do meu coração.

De que me serviria vencer,
se não pudesse cantar?
Perder também é ganhar,
a lágrima conduz ao riso;
o riso pode ser um lamento,
um grito disfarçado de dor.
No choro, posso encontrar
o riso, o sorriso, a canção
que se escondiam de mim!

E quem quiser descobrir
a descoberta maior,
aceite as lágrimas do canto;
vá chorando, vá sofrendo
e aprenda a se conduzir
à vitória do viver.

O que não tenho me enriqueceu.
Descobri que o sucesso
também pode derrotar
e que as resistências talvez tragam
muitas afirmações corajosas.

Se choro, é porque senti;
se canto, é porque chorei;
se eu vivo é porque morri
na dor , em cada uma das dores;
se venço é porque aprendi
com as perdas, os golpes
do meu viver desprotegido.

E perdendo, vou ganhando;
nas quedas, me levantando;
sofrendo, vou conseguindo
viver sem desistir;
e amando, caminhando
no amor e na dor,
vou construindo o meu SER.

Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília - DF, 24/07/1989.

From: Luci Tiho Ikari
Date: 2009/1/29
Subject: És delicada, sensível e corajosa
To: Theresa Catharina de Goes Campos


Theresa Catharina:
És uma pessoa sensível, delicada como porcelana, mas muito corajosa.
Além de ser uma filósofa. Luci


From: bere bahia
Date: 2009/2/1
Subject: Re: A DESCOBERTA MAIOR
To: Theresa Catharina de Goes Campos


Amiga,

(...), adorei este poema, já o incorporei à tua pasta...
Abração, Berê Bahia

 

Jornalismo com ética e solidariedade.