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Publicado no Diário de Pernambuco,
02/02/2009, p.A-11:
C O I S A S Q U E S U B S I S T E M
Tereza Halliday - Artesã de Textos
Ela era bem jovem, noiva, recém-nomeada
professora do ensino
público. Morava com o pai viúvo e os irmãos.
Poucos dias antes do
casamento alegremente preparado, morre-lhe o
pai. Entre adolescentes
e quase bebês, ela se vê cercada de oito irmãos
para acabar de criar.
Apesar da pouca idade, fibra nunca lhe faltou.
Chamou o rapaz, os pais
dele e declarou seu intento de romper o noivado,
a fim de assumir a
responsabilidade pelos irmãos órfãos, dever que
não podia impor ao
futuro marido como projeto de vida.
O amado e os futuros sogros não aceitaram tal
decisão, no que
foram secundados pelo pastor, que lhes deu a
maior força,
lembrando-lhes de suas qualidades pessoais e da
inquestionável
presença divina a sustentá-los naquela missão.
Na data do casamento,
uma parente ficou com as crianças. No dia
seguinte à noite de
núpcias, lá chega ela para devolver os
pimpolhos, alegando que estavam
com saudades da irmãzinha mais velha. Romântica
lua de mel, quem dera!
Com a grandeza dos cheios de bondade, a coragem
dos fortes e a
fé que remove montanhas, criaram 15 filhos: os
oito irmãos/cunhados e
os sete que geraram. Dificuldades? Muitas.
Alegrias? Também.
Aperreios? A lista foi longa. Canseiras?
Imaginem o que é trabalhar e
trabalhar para que não faltasse nada a essa
populosa família, orientar
todos eles na trilha do bem e no respeito às
diferenças de cada um.
Ainda tiveram garra para, mais adiante, cursarem
faculdade, ela
formando-se em Pedagogia, ele em Ciências
Contábeis.
E lá se foram eles pela vida, numa aliança
inquebrantável,
amparando-se nas perdas (como a morte de uma
filha) e curtindo juntos
os ganhos: realizações e carinhos de filhos e
netos. Pelo exemplo,
ensinaram a fé abraçada e o amor vivenciado, tal
qual descrito na
epístola: "o amor é paciente, é benigno, não é
invejoso, não se ufana,
não se ensoberbece, (...) não busca seus
próprios interesses, não se
irrita, não suspeita mal. Tudo desculpa, tudo
crê, tudo espera, tudo
suporta". (1 Coríntios, 13, 4-8).
Recentemente, certo hospital viu uma onda de luz
envolver aquele
rapaz que aceitara casar com sua amada,
assumindo, de saída, uma
família por criar. Filhos, cunhados-filhos,
netos e a companheira em
tudo, num mutirão de cuidados e carinhos, mais
eficiente que os tubos
da UTI. Até o médico reconheceu o papel
terapêutico daquela mistura
de forças - as três coisas que subsistem,
segundo o apóstolo Paulo: a
fé, a esperança e o amor. "Sendo que a maior
delas é o amor".
Depois de quase um ano de hospitalização,
foi-lhe concedida a
dignidade de morrer em casa. Na cerimônia do
adeus, ela evocou os 55
anos de casada com um homem que foi muito mais
do que ela desejou e
esperou. E ele diria o mesmo dessa mulher
biblicamente forte, doutora
em companheirismo.
Esta história merece ser contada para edificação
de todos. Eu o
faço em admiração e afeto por Dulce e em memória
de Edgar.
From: raquelc
Date: 2009/2/10
Subject: RES: COISAS QUE SUBSISTEM - Tereza
Halliday
To: Theresa
Muito bonita, a história!! Raquel. |
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