Theresa Catharina de Góes Campos

  FROST-NIXON

A dramatização de uma série de entrevistas concedidas por
Richard Nixon a um inexpressivo apresentador da televisão britânica,
três anos após sua renúncia à presidência dos EUA, adaptada para o
cinema em Frost/Nixon, de Ron Howard,, se constitui num verdadeiro
instrumento de reabilitação de sua imagem - como também o foi o filme
de Oliver Stone -, mais oportuno, porém, diante da desastrada
administração de George W. Bush.

A película de Howard, que mereceu cinco indicações ao Oscar e ao
Globo de Ouro, além de outras premiações, se baseia na peça teatral
homônima de Peter Morgan, responsável também pela elaboração do
roteiro. Ao adaptar o argumento para a linguagem cinematográfica,
Morgan - roteirista de A Rainha, de Stephen Frears - insere nele
fatos reais e ficcionais a fim de estabelecer o dualismo do
entrevistado e do entrevistador de forma que ambos saiam, ao final da
contenda, com ligeira sensação de vitória.

Depois de deixar a Casa Branca, em 9 de agosto de 1974, Nixon (Frank
Langella) guardou absoluto silêncio, apesar das inúmeras propostas que
recebia para se pronunciar sobre o rumoroso caso Watergate, que
causara sua renúncia. Por isso, foi com estranheza que se soube haver
ele escolhido, no verão de 1977, o apresentador de programas de
entretenimento David Frost (Michael Sheen) para entrevistá-lo.

A escolha fora motivada, como fica evidente, não só pela
proposta de cachê de meio milhão de dólares, feita por Swift Lazar
(Toby Jones), preposto de Frost, mas também pelo fato de Nixon, hábil
no trato com a imprensa e, ao mesmo tempo, desejoso de poder voltar à
política, acreditar que lhe seria fácil dominar o inexperiente
entrevistador a fim de poder fazer a defesa do seu governo, tanto no
plano interno como no externo, e evitar assim que se desse destaque ao
famigerado caso Watergate, que ele preferia esquecer.

Para Frost, a entrevista com Nixon seria a oportunidade de ele
dar uma guinada em sua carreira, já em pleno declínio. Por isso, além
de procurar financiamento para o projeto – orçado em US$ 2 milhões -,
Frost constitui uma equipe de profissionais para auxiliá-lo, integrada
pelo produtor John Birt (Matthew Macfadyen) e por dois jornalistas que
se diziam conhecidos de Nixon, como James Reston Jr. (Sam Rockwell) e
Bob Zelnick (Olivier Platt). Todos, porém, se mostram pouco confiantes
no êxito do entrevistador.

Correm então as negociações em torno do estabelecimento de normas
para a efetivação da entrevista, das quais participa como assessor de
Nixon o general Jack Brennan (Kevin Bacon), ficando acertado que a
questão Watergate só seria abordada ao final do programa. Nixon, ao
chegar à casa alugada especialmente para cenário da gravação, já causa
profundo constrangimento aos jornalistas, contratados por Frost, ao
lhe serem apresentados: Prazer em conhecê-los!...

Antes de a câmara ser ligada, Nixon também irrita Frost ao lhe
perguntar se não achava afeminado o sapato que ele usava, de
procedência italiana, ornado por um par de fivelas... Em seguida,
comunica-lhe que vai utilizar um lenço a fim de enxugar o suor que às
vezes lhe surge sobre o lábio superior. Em contrapartida, Frost inicia
a entrevista, fazendo-lhe uma pergunta sobre Watergate: - Por que o
senhor não mandou queimar as fitas?... Nixon, porém, não se perturba.
Reclama da pergunta feita, de forma intempestiva, mas esclarece
satisfatoriamente a questão e vai adiante, tomando quase todo o tempo
do entrevistador.

A direção de Howard (Uma Mente Brilhante) se caracteriza
principalmente por soberba composição de planos pela fotografia, rica
em contrastes, de Salvatore Totino. Mas Howard também não descura de
realizar marcações inteligentes, em curtos espaços, para os atores
poderem efetivamente brilhar. E é isso realmente o que acontece. As
interpretações, todas marcantes, são o grande trunfo do filme, a
começar das de Langella e de Sheen, como Nixon e Frost, atores
egressos da montagem da peça, de Morgan, na Broadway, que Howard fez
questão de aproveitar.

De Sheen, pode-se dizer que está perfeito especialmente ao
transmitir, na dosagem exata, a insegurança de Frost. Observe-se, por
exemplo, a cena em que ele, na noite que antecede a gravação do último
bloco da entrevista, sozinho no hotel – a bela namorada, Rebecca Hall
(Caroline Cushing), saíra para comprar comida -, recebe, por telefone,
a aterradora ameaça de Nixon, pela qual antevê o fracasso total do
dispendioso projeto, que lhe consumira dinheiro do próprio bolso.

De Langella, embora o físico não lhe seja favorável – cabe aqui a
observação de um crítico americano de que sob esse aspecto ele se
parece mais com Leonid Brejnev do que com Nixon -, pode-se considerar
que sua interpretação é magnífica. Talvez seja ostentosa demais, a meu
ver, para o cinema, mas, certamente, muito apropriada para o palco. De
qualquer forma, Langella outorga a Nixon, de acordo com o objetivo do
filme de Howard - como já o fizera igualmente Anthony Hopkins no de
Oliver Stone -, um impressionante ar de estadista que a personagem, na
vida real, lamentavelmente, não deixava evidente.

Os atores Sam Rockwell, Caroline Cushing, Toby Jones, Matthew
Macfadyen e Olivier Platt apresentam atuações também de muito bom
nível, particularmente o primeiro, que sustenta a narração. É ele quem
afirma que J. Kennedy transava com qualquer coisa que mexesse!... Mas,
entre os coadjuvantes, a melhor interpretação é inegavelmente a de
Kevin Bacon, como sempre brilhante, no papel de Jack Brennan,
diligente assessor de Nixon. É dele a cena mais dramática do filme, ou
seja, quando Brennan sabiamente interrompe a gravação no momento em
que Nixon, pela emoção, poderia perder o jogo no seguinte diálogo:
Frost – O senhor está dizendo que o presidente pode fazer algo
ilegal?... Nixon – Eu estou dizendo que, quando o presidente faz, não
é ilegal!... Frost – Desculpe-me!...

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
FROST/NIXON
EUA/ Reino Unido / França / 2008
Duração – 122 minutos
Direção – Ron Howard
Roteiro – Peter Morgan com base na peça teatral homônima de sua autoria.
Produção – Tim Bevan, Eric Fellner, Brian Grazer e Ron Howard
Fotografia – Salvatore Totino
Trilha Sonora – Hans Zimmer
Edição – Daniel P. Harley, Mike Hill
Elenco – Frank Langella (Richard Nixon), Michael Sheen (David Frost),
Kevin Bacon (Jack Brennan), Sam Stockwell (James Reston Jr.), Caroline
Cushing (Rebecca Hall), Toby Jones (Swift Lazar), Matthew Macfadyen
(John Birt), Olivier Platt (Bob Zelnick).

From: adfalcao
Date: 2009/4/6
Subject: Re:prioridade máxima)) FROST/NIXON - Reynaldo Domingos Ferreira
To: "theresa.files"


Theresa, obrigada por me enviar o comentário de nosso amigo que, como sempre, faz uma análise muito boa dos filmes em cartaz. Abraços Ana.

 

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