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From: Tereza
Lúcia Halliday
Date: 2009/4/13
Subject: BURNOUT
Amigos Seletos:
Em tempos de médicos agredidos em serviço, a
matéria em anexo se fez
mais que oportuna.
Um grande abraço, Tereza
Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
www.terezahalliday.com
Publicado no Diário de Pernambuco, 13/04/2009,
p.A-11:
MÉDICOS E ENFERMEIRAS SEM SAÚDE
Tereza Halliday – Artesã de Textos
O que policias, jornalistas, médicos e
enfermeiras têm em comum?
Estão no grupo das profissões mais estressantes
do mundo. Diferem em
anos de estudo, renda, status, reconhecimento
público e aspirações,
mas se irmanam no alto risco de contrair uma
doença chamada burnout.
Este verbo inglês significa “destruir por
excesso de força ou
calor, causar colapso devido a excessiva demanda
de força”.Tornou-se
substantivo para designar o esgotamento físico e
mental de uma pessoa
submetida a condições de trabalho extenuantes e
frustrantes.
Cuidadores na área da saúde sofrem de burnout. E
se trabalham na saúde
pública, a doença vira um bicho enorme. Assim o
constataram as
médicas-pesquisadoras Kátia Feliciano, Maria
Helena Kovacs e Silvia
Sarinho ao entrevistar médicos e enfermeiras que
trabalham na Saúde da
Família (o PSF) - novo modelo de atenção à saúde
dos mais necessitados
de cuidados, dinheiro e respeito.
Histórias tragicômicas do quotidiano desses
profissionais são
relatadas no livro Burnout na Saúde da Família –
(Edição Instituto
Materno Infantil de Pernambuco – IMIP). Como a
da enfermeira que não
bebe água no trabalho para não precisar fazer
xixi porque, para chegar
ao banheiro tem de atravessar uma sala
abarrotada de gente que lhe
salta ao pescoço com pedidos, queixas e gritos
de socorro. Ou o médico
que recebeu um recado do chefe dos bandidos de
certa comunidade: “não
dá pra poupar ninguém daqui porque eles não
estão conseguindo muito
dinheiro nos assaltos e estão tendo de pegar
vocês também [do PSF] e
não vão aceitar que ninguém da comunidade
proteja o senhor”. O medo
faz parte do dia-a-dia desses médicos e
enfermeiras.
Apesar de tudo, nesse trabalho insalubre e
arriscado, eles
redescobrem a dimensão social da medicina e
passam a questionar
valores de consumo ante a carência ingente da
população atendida. O
dia-a-dia com o Brasil pobre derruba
preconceitos e constrói empatias.
Também reconhecem outro aspecto positivo: ao
assumir esse emprego bem remunerado e em tempo
integral, não precisam mais correr de plantão em
plantão. Mas a falta de condições mínimas de
trabalho, a animosidade por parte de alguns
pacientes, sobrecarga de funções, escassez de
material e medicamentos e o abandono em que se
sentem face à estrutura organizacional que os
colocou ali para fazer o bem, causam desgaste de
energias, derrubam a auto-estima e esgarçam o
devotamento. Tudo isto os arrasta
sorrateiramente para o burnout. Médicos e
enfermeiras em clinicas e hospitais particulares
também são atacados de burnout, mas por outras
razões.
Como aumentar a qualidade do trabalho desses
dedicados
profissionais do PSF sem diminuir sua qualidade
de vida? Como uma
política pública benfazeja, mas cheia de
deficiências, como a Saúde da
Família, pode efetivamente manter a saúde dos
atendentes e dos
atendidos? Não cabe a uma mera artesã de textos
responder. |
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