Theresa Catharina de Góes Campos

  SARTRE E O EVANGELHO

From: artemis coelho
Date: 2009/4/11
Subject: Sartre e o Evangelho
To: Theresa Catharina de Goes Campos

Sábado,11 de Abril de 2009

SARTRE E O EVANGELHO

Sartre nos diz que o 'Homem está condenado a ser livre'.
Eu digo que o 'Homem está - abençoadamente - condenado a ser livre'.
Sim, e é essa liberdade que permite a ele fazer escolhas.No entanto,
nenhuma escolha é tão fácil; muitas tornam-se, até, a coisa mais
difícil de se fazer na vida, posto que toda escolha implica abrir
mão de algo. Implica uma perda. Ainda que seja uma perda benéfica
-pois ganhamos algo. Mas não estamos acostumados a encarar perda como ganho.
É contra-senso, afinal, perda é perda e ganho é ganho. Ao menos na
lucidez dos vocábulos...

'O inferno são os outros', também nos afirma Sartre, e é a mais pura
verdade, posto que construimos um mundo dentro de nós onde o outro
quase sempre vira senhor de nossa existencia. Nos movemos sob o olhar
do outro. Para o bem e para o mal. Ora queremos sua aprovação - se o
respeitamos ou se o amamos; ora queremos legitimar nossas verdades a
fim de ter o direito de odiá-lo confortavelmente, agindo ou pensando
contra ele como melhor nos aprouver. Mas essas verdades, no entanto,
têm nascedouro na nossa antipatia, portanto, já vêm manipuladas pelo
outro. É sempre o outro nos norteando para o nosso melhor ou para
nosso pior.
Viramos sombra ou reflexo... do outro!

Daí vem o Evangelho e nos propõe uma única verdade. A verdade do Amor,
a verdade de Jesus. O único Outro que é a síntese suprema do bem de
todos os outros. Este sim, pode nos nortear sem nenhum risco de
pendularmos para um lado ou para o outro, a mercê de nossas carencias
e antipatias.
Todas as possibilidades de atalho na verdade deixam de existir no
Caminho, onde todos os outros são como eu. Desejosos de não mais serem
algozes ou reféns.Assim, nosso olhar, não será mais para o lado, mas
para o alto, de onde provém todo o Bem. Nossos modelos e arquétipos
não estarão mais ao sabor de nossas paixões tiranizadas pelo olhar do
outro, dos big-brothers da vida, mas do único Olhar que vê para além
da eternidade.

Assim, se o inferno é o outro e eu o inferno para o outro, só nos
resta abrirmos mão de nosso eu imediato que nos propõe múltiplos eus
em múltiplas pulsões e direções em busca de equilíbrio, para nos
aproximarmos do portal do Paraíso, onde há descanso numa única escolha
que nunca falha, e jamais pode estar errada.
A do amor. Nela cessam todas as divergencias e diferenças culturais ou
emocionais, porque o modelo será sempre o do bem supremo. Para nós e
para todos os outros.

Mas para isso, é imprescindível a escolha, para que o inferno deixe de
ser o outro, mas apenas uma triste lembrança de antes do Paraíso - eu
em paz, com o outro.

Artemis Coelho
 

Jornalismo com ética e solidariedade.