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W.
Com a excepcional interpretação de Josh Brolin,
W., do cineasta
Oliver Stone, já três vezes premiado com o
Oscar, surpreende ao dar um
retrato de corpo inteiro de George W. Bush de
natureza até certo ponto
condolente em relação aos terríveis erros por
ele cometidos como
presidente dos EUA nos últimos oito anos, embora
mantendo, durante
quase todo o período, alto índice de aprovação
popular para o seu
governo.
Rico em informações sobre a vida privada da
dinastia dos Bushs,
do Texas, o roteiro de Stanley Weiser e Stone –
responsáveis também
pelo êxito de Wall Street – Poder e Cobiça, que
terá em breve
continuação – aborda principalmente a relação
conflituosa de W. (Josh
Brolin) com o pai, George Bush (James Cromwell).
E não há exagero em
aproximar esse conflito filial daquele que
existiu entre Alexandre, o
Grande, e Felipe da Macedônia, também abordado
por Stone num filme
anterior, porém, menos inspirado, ou talvez
menos bem interpretado.
O que primeiro deve ser destacado em relação a
W. é o fato de
ser uma película de linguagem documental que só
poderia ter sido
realizada nos EUA, onde foi lançada em período
eleitoral para a
escolha do sucessor de W. na Casa Branca, agora
ocupada por Barak H.
Obama. Aqui, onde qualquer juiz de primeira
instância passa por cima
de preceitos básicos da Constituição para
estabelecer censura a livro,
não se pode, com certeza, nem pensar em rodar um
filme dessa
envergadura.
Pois Stone deixa evidente que, dos Adams aos
Bushs, as dinastias
que muitas vezes se alternam no poder nos EUA
levam para a vida
pública as exacerbações de suas vidas
particulares tanto do lado dos
democratas, como dos republicanos, reduto por
sinal dos conservadores.
E, como já dizia o escritor Henry James, não há
ninguém mais
conservador, arraigado em preconceitos, do que o
conservador
americano.
Ao contrário de dois trabalhos mais remotos de
Stone, que
procuram dar figuração, bastante discutível, de
estadista a Kennedy e
a Nixon, em W., o protagonista é tratado na
exatidão do seu perfil,
isto é, o de um indivíduo instável, impulsivo e
pouco contemporizador
como a mãe, Bárbara Bush (Ellen Burstyn),
difícil de achar rumo na
vida, pois cresceu com a maldição de ser o
primogênito e considerado
pelo pai como ovelha negra da família.
Ao início da película, W. é preso depois de se
envolver numa
briga após uma partida de beisebol em New
Jersey. Pelo telefone, o
pai, parlamentar, diz que ele enxovalha o nome
da família. Ele se
desculpa e afirma que não voltará nunca mais
àquele Estado e que tudo
será, portanto, esquecido. Nos empregos de verão
que o pai lhe
consegue, W também não permanece. E de uma
homérica bebedeira não
escapa ao ser aprovado, com a ajuda do pai, para
ingressar na famosa
Universidade de Harvard.
Depois de, numa festa familiar, conhecer Laura
Welch (Elisabeth
Banks) e de sofrer um desmaio durante a corrida
de cinco km que
costuma fazer diariamente, W. se apóia na
religião para deixar de
beber e, assim, iniciar um processo de
auto-afirmação em relação ao
pai, que se encantava com o futuro promissor do
filho mais novo Jeb
(Jason Ritter), político de prestígio e depois
governador da Flórida.
Casado com Laura, durante as comemorações em
família de seu
aniversário, ao completar quarenta anos, W.
recebe convite do pai para
ir a Washington ajudá-lo na campanha a fim de se
eleger presidente,
pois, conforme ele acrescenta, o seu irmão Jeb
está muito ocupado.
Orientado por Karl Rover (Toby Jones), enquanto
o pai, eleito
presidente, promove a Guerra do Golfo, ele
decide concorrer ao governo
do Estado do Texas, apesar da oposição da
família.
Quando George Bush perde a reeleição, em 1992,
para Bill Clinton
– a cena é cômica, pois mostra a família unida
chorando
desbragadamente diante do televisor -, W.,
governador, atribui a
derrota do pai ao fracasso de não haver
conseguido pôr abaixo a
ditadura de Saddam Hussein (Sayed Badreya). Ele
confessa então ao
pastor Earle Hudd (Stacy Keach), de sua Igreja,
que recebera anúncio
divino de que deveria se candidatar à
presidência da República para
cumprir missão importante em benefício do país.
Todos esses fatos são narrados por meio de
dinâmicos flashbacks,
tomados pela câmara manual de Phedon Papamichael,
enquanto W. faz
consecutivas reuniões, na Casa Branca, com o seu
corpo de assessores –
o vice-presidente Dick Cheney (Richard Dreifus),
o secretário de
estado Colin Power (Jeffrey Wright), o
secretário de segurança Donald
Rumsfeld (Scott Glenn), o diretor da CIA George
Tenet (Bruce McGill),
a assessora de segurança nacional Condoleezza
Rice (Thandie Newton) e
o secretário de comércio Donald Evans (Noah Wyle)
– para decidir sobre
a invasão do Iraque sob a alegação de que Saddam
Hussein desenvolvia
poderoso arsenal de armas químicas em seu
território.
Dominado por sentimento de vingança contra
Hussein que, a seu
ver, fora o causador da derrota de seu pai em
92, W. se mostra pouco
preocupado em concentrar forças no Afeganistão,
onde provavelmente se
encontram os terroristas da Al Qaeda, liderados
por Osama Bin Laden,
preferindo, ao invés disso, obter de seus
incompetentes assessores
prévias comprovações da existência de armas
químicas no Iraque, país
que pretende atacar. E assegura: - Com ou sem
resolução da ONU,
invadiremos o Iraque!...
Josh Brolin domina a cena do começo ao fim,
sendo secundado
apenas pelos experientes James Cromwell, Ellen
Burstyn e Toby Jones e
por Elisabeth Banks, pois todos os demais
praticamente desaparecem
ante o brilho de sua atuação, que supera mesmo a
de Onde os fracos não
têm vez, dos Irmãos Coen.
Usando bem o sotaque texano, Brolin transfere
para W. um ar de
pessoa fanática por esporte, meio atarantada,
meio cômica, capaz de se
complicar em situações simples como a de perder
o rumo, enquanto
caminha em companhia de assessores, em sua
propriedade particular, ou
a de procurar diferenciar Guantânamo de
Guantanamera.
É, portanto, à atuação de Brolin que Stone deve,
sem dúvida, a
boa qualidade desse seu novo trabalho, também
pontilhado por bela
trilha sonora, de Paul Cantelon, rica em country
music e que não deixa
de incluir a canção What A Wonderful World, de
Louis Armstrong.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.theresacatharinacampos.com
www.arteculturanews.com
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www.cafenapolitica.com.br
FICHA TÉCNICA
W.
EUA/2008
Duração – 129 minutos
Direção – Oliver Stone
Roteiro – Stanley Weiser e Oliver Stone
Produção – Moritz Borman, Jon Kilik, Oliver
Stone
Fotografia – Phedon Papamichael
Trilha Sonora – Paul Cantelon
Elenco – Josh Brolin (W), James Cromwell (George
Bush), Ellen Burstyn
(Bárbara Bush), Elisabeth Banks ( Laura Bush),
Toby Jones (Karl Rove
), Richard Dreyfus (Dick Cheney), Jeffrey Wright
(Colin Power), Scott
Glen (Donald Rumsfeld), Thandie Newton (Condoleezza
Rice), Noah Wile
(Donald Evans), Bruce McGill (George Tenet),
Jason Ritter (Jeb Bush) |
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