O
lado humano de Wilson
Simonal
As
reportagens sôbre
artistas quase sempre
focalizam dois aspectos:
a sua vida amorosa e
privada, e a sua
riqueza, real ou
pressuposta.
No primeiro caso, as
publicações escandalosas
se fartam no devassar de
intimidades, dando
dimensões
extraordinárias a fatos
que seriam corriqueiros
na vida do homem, comum,
que dessas vicissitudes
ninguém se livra.
As publicações
regulares, em suas
colunas especializadas,
se fazem mensageiras da
cegonha que vai chegar,
cupidos de amôres nem
sempre verdadeiros,
arautos da elegância e
do bem-vestir, e também
profetas agourentos de
desquites e separações.
No segundo caso, a
prosperidade do artista,
quando levada a público
através de qualquer meio
de comunicação, traz
sempre objetivo oculto.
Raramente essa
prosperidade, muitas
vêzes vista através de
poderosas lupas, é
exposta e alardeada com
a alegria dos que se
sentem bem sabendo
alguém vitorioso. Pelo
contrário, nas
entrelinhas há um travo
de despeito, de inveja,
de amargor.
Partindo dêsse
princípio, o artista que
se tornou um vitorioso,
se compra um automóvel
ou um apartamento, se
procura garantir o
futuro, a velhice, e
arruma o chamado
pé-de-meia, ao público
logo se informa a marca
do automóvel, o preço, a
área do apartamento em
todos os seus detalhes e
respectivo custo, o
número de letras de
câmbio que foram
compradas.
Dir-se-á que o artista
famoso pertence mais ao
público que a si mesmo,
e que, por isso, ao
público devem ser dadas
certas informações. Em
têrmos. Porque a
insistência em tôrno dos
muitos milhares ganhos,
dos cachês fabulosos,
dos contratos
astronômicos - na
maioria irreais e
fermentados, também,
pela máquina
publicitária - deixa a
impressão de que os seus
veiculadores são, na
realidade, refinados
dedos-duros da
fiscalização tributária.
O OUTRO LADO
Se o açodamento
publicitário em tôrno da
vida privada do artista
e de sua prosperidade
não tem limites, em
contraposição o silêncio
sôbre os seus atos de
bondade e de
desprendimento, também é
uma constante. Certo que
determinados artistas
seguem o preceito de
fazer o bem sem saber a
quem, escondem quanto
podem as suas
benemerências, não
desejam sôbre elas
qualquer tipo de
publicidade. Mas, se
êsses gestos magnânimos,
se essas atitudes
raramente encontradas
até em indivíduos que já
nasceram sob as bênçãos
da fortuna, são
conhecidas do público,
lamentàvelmente ninguém
bate palmas, ninguém
abre a roda, ninguém
grita ôba!
WILSON SIMONAL
Simonal foi um menino
pobre. Deu duro, foi
tudo na vida, até
cobrador fantasiado de
vermelho pelas ruas.
Hoje, Wilson Simonal é
artista famoso e o seu
nome lota estádios.
Simonal é um artista
caro. Quem o contrata
sabe que vai ganhar
dinheiro, muito
dinheiro. Êle paga o seu
conjunto musical, os
Simonautas, constituído
de excelentes músicos.
Mas, quando se publica
que o cachê de Simonal é
de 30.000 cruzeiros, há
o espanto!
O que não se diz, o que
não causa espanto, é que
Simonal, sendo um
artista caro, é também
uma excelente figura
humana, apresentando-se
sem ganhar um centavo,
quando se trata de
cantar para os que
precisam. E queremos
aqui dar o nosso
testemunho, de público.
Procuramos Simonal para
fazer um número - um só
número - no Programa
Flávio Cavalcanti.
Simonal impôs condições:
- Só se fôr um show de
quarenta e cinco
minutos, sem interrupção
produzido pela minha
própria agência, a
Simonal Produções. Sairá
um espetáculo da
pesada...
- Tá bem, Simona, mas
quanto vai custar isso
tudo?
- Precinho camarada, de
amigo: 30.000
cruzeiros...
A equipe de produção
estremeceu. Não havia
essa verba. Estava
estourada. Mas aí entrou
a Shell. Deu o dinheiro
a Flávio Cavalcanti para
pagar ao Simonal.
Simonal recebeu o
dinheiro e devolveu a
Flávio Cavalcanti: para
a Casa dos Meninos de
Petrópolis.
Oitenta crianças
desvalidas foram
beneficiadas por Wilson
Simonal. Os artistas que
ganham muito, que ganham
bem, que ganham o que
realmente merecem,
também têm dessas
coisas. Mas o silêncio é
profundo. Mas Deus acaba
sabendo de tudo.
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