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CAMISAS DE TIME - Tereza
Halliday
From:
Tereza Halliday
Date: 2009/5/25
Subject: Camisas de time
Mesmo se for não for torcedor(a), certamente tem
um monte de amigos e parentes que o são.
Um abraço, Tereza.
Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
www.terezahalliday.com
Publicado no
Diário de Pernambuco, 25/05/09, p.A-9:
MAIOR QUE PAIXÃO DE TORCEDOR
Tereza Halliday – Artesã de
Textos
Facílimo identificar: a TV transmitia um jogo de
futebol entre Cimento Nassau e Samsung. Noutros
gramados e telas, partidas entre Batavo e
Minasgás, Banrisul e Hipercard, ou quem quer que
seja o patrocinador da vez. Nomes mais
destacados nas camisas do que os dos times pelos
quais o torcedor pensa que torce. A verdadeira
torcida é pelo maior faturamento da empresa que
exige sua marca desmedidamente visível no peito,
costas, braços e até no bumbum do jogador. Pois
é, lá estava a vitoriosa logomarca a bambolear
no traseiro do capitão do time, toda vez que ele
mexia os glúteos. O corpo dos jogadores
transformou-se em outdoor móvel, de alto preço
por centímetro quadrado.
Costábile Nicoletta (Gazeta
Mercantil, 28/4/09, p.A3), contou que um
jogador tirou a camisa e a enrolou ao fim de uma
partida na qual seu time fora derrotado. E o
técnico o repreendeu por ter privado os
torcedores de verem a identidade do patrocinador
que, ainda assim, continuava escancarada nas
outras dez camisas. Aliás, em campo, técnicos e
imparciais juízes também são usados como
propagandistas de produtos. Nicoletta adverte: “A
exposição exagerada das marcas dos
patrocinadores tende a causar antipatia,
exatamente o oposto daquilo que as corporações
esperam quando investem significativas quantias
em algum tipo de entretenimento”. O enfado é
bem expresso por um telespectador: “Lá vem o
porre do marketing”, referindo-se ao excesso
de imagens de marcas.
Os símbolos dos clubes são
relegados a segundo plano. O leão do Sport Club
do Recife baixa a juba, o galo do Atlético
Mineiro não canta de galo, os respeitáveis
escudos do Fluminense, Palmeiras, Corinthians,
Náutico, Santa Cruz, Vasco, Flamengo,
Internacional, encolhem-se, diminutos, nos
uniformes onde o patrocinador reina e impera. E
ainda reclama por não ser citado pelo repórter
que transmite jogo em rádio ou TV. O torcedor
também virou garoto propaganda, não remunerado e
otário, ao gastar na compra da camisa do time
querido e sair exibindo por aí o nome do
patrocinador. Até a Libertadores exagerou na
exibição acrescentando o nome do “marido” que a
mantém, por enquanto: Copa Santander
Libertadores.
Algumas empresas alegam investir
em esportes como ato de responsabilidade social.
É louvável que incentivem o futebol - profissão
capaz de tirar meninos da pobreza para a riqueza
e o estrelato. É socialmente útil financiar a
psicoterapia de multidões nos estádios. Mas a
preponderância de anúncios nas roupas dos
participantes em todas as modalidades
esportivas, no mundo inteiro, cheira a falta de
bom senso e de bom gosto. Os uniformes dos
atletas parecem páginas amarelas da Lista
Telefônica. Alguns são mais enfeitados do que
árvore de Natal. O resultado é uma barafunda de
logomarcas. Tostão, comentarista esportivo e
ex-craque, explica: “é a força da grana”.
Torce, torcedor, torce! A força da grana é
maior que a tua paixão, maior que o valor do teu
time. |
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