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A PARTIDA
Ganhador do Oscar, deste ano, de Melhor Filme de
Língua
Estrangeira, A Partida, de Yojiro Takita, é obra
de imagens
convencionais, mas de linguagem lírica,
competentemente dirigida, que
recorre a uma tradicional cerimônia fúnebre
japonesa para mostrar,
mesmo com certa ironia, como se deve, pela
superação das perdas
afetivas, valorizar cada momento da vida.
O roteiro, de Kundo Koyama, baseado no livro
Coffinman: The
Journal of a Buddhist, de Aoki Shinmon, embora
esquemático, é rico em
simbologia. É disso um exemplo a seqüência em
que o protagonista Daigo
Kobayashi (Masairo Motoki), estando às margens
de um rio, nos
arredores de Yamagata, sua terra natal, observa
a persistência dos
salmões em nadar contra a corrente até chegar ao
encontro com a morte.
Daigo moldou a sua personalidade pela do pai,
Toshiki Kobayashi
(Toru Mineghishi), que o incentivou, desde
criança, a tocar violoncelo
e a dar atenção às tradições japonesas, como a
da compreensão de
mensagens das pedras-cartas. Seus sonhos, porém,
foram sempre
alimentados pelo lado da música. Quando
Kobayashi abandonou a família,
a mãe de Daigo teve de montar um pequeno negócio
para custear as
despesas domésticas e educá-lo.
O filme se inicia em Tóquio, onde Daigo integra
uma orquestra
sinfônica em dificuldade, que acaba por ser
dissolvida. Sem ter como
pagar as dívidas, o músico vende o violoncelo e,
tendo a concordância
da mulher Mika (Riyoko Hirosue), decide retornar
à sua cidade para
morar na própria casa, vazia desde que sua mãe
morrera, há algum
tempo, sem que ele pudesse estar presente aos
funerais.
Instalado, Daigo procura emprego pelos jornais.
E se entusiasma
com o anúncio de uma organização, Agência NK,
que cuida de partidas.
Sua dedução é a de que se trata de uma empresa
de turismo, que lhe
poderá dar oportunidade, tantas vezes também
sonhada, de viajar pelo
mundo afora.
A grande surpresa de Daigo, entretanto,
acontece, quando ele
descobre que o trabalho que lhe é oferecido, com
pagamento de
compensador salário antecipado, é o de
assistente de um profissional,
Shoei Sasaki (Tsutomu Yamasaki), preparador de
cadáveres para o ritual
familiar que antecede à cremação.
A direção de Takita é pródiga em criar elementos
visuais para
imprimir certo tom impressionista à narrativa,
como o que se observa
nas seqüências em que ele enclausura Daigo no
estreito corredor de sua
residência a fim de expressar o quanto a
personagem se sente
angustiada por não poder dizer à mulher, Mika,
temendo reação
desfavorável dela, qual é o tipo de trabalho a
que se dedica.
Da mesma forma, Takita usa a imagem de Daigo
tocando o seu
violoncelo dos tempos de criança sobreposta à
dos campos que circundam
a sua região, captada pela lente de Takeshi
Hamada, para simbolizar a
tormentosa dúvida em que vive a personagem sobre
o possível paradeiro
do pai, cuja lembrança, ao decorrer do tempo,
sob vários aspectos, por
mais que negue, passou a atormentá-lo.
Para envolver mais o espectador na evolução do
tema, difícil,
pois que de caráter lúgubre, Takita não só soube
dosar a narrativa com
algumas situações cômicas, como conseguiu tirar
proveito da magnífica
trilha sonora de Joe Hisaishi, composta – além
da bela canção-tema de
sua autoria - de peças como o Hino à Alegria, da
Nona Sinfonia, de
Beethoven, com coro e orquestra, a Ave Maria, de
Gounod, e o
Wiegenlied, de Brahms, em solo de violoncelo.
Mais que tudo, porém, o elenco, estupendo,
reunido por Takita,
merece os louros por inúmeros prêmios
conquistados pela película,
principalmente o veterano Tsutomu Yamasaki, de
muita categoria, e o
jovem ator Masairo Motoki, que impressiona por
seu perfeito domínio de
jogo facial. Histriônico, Motoki se sai muito
bem nas cenas cômicas e,
nas dramáticas, usa os músculos da face com uma
habilidade tal que não
há como deixar de reconhecer nele um perfeito
seguidor da arte de
interpretar de Toshiro Mifune.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
A PARTIDA
OKURIBITO
Japão/2008
Duração – 130 minutos
Direção – Yojiro Takita
Roteiro – Kundo Koyama, inspirado no livro
Coffinman: The Journal of a
Buddhist, de
Aoki Shinmon
Produção – Yojiro Takita
Fotografia – Takeshi Hamada
Música Original - Joe Isaishi
Edição – Akimasa Kawashima
Elenco – Masairo Motoki (Daigo Kobayashi),
Tsutomu Yamasaki (Shoei Sasaki), Riyoko Hirosue
(Mika Kobayashi), Toru Mineghishi (Toshiki
Kobayashi), Kimiko Yo (Yuriko Uemura).
From: manoel
craveiro
Date: 2009/5/24
To: Theresa Catharina de Goes Campos
Sra. Theresa Catharina,
Considerei 'A PARTIDA", filme japonês,
extraordinário. O enfoque, inusitado, por certo,
merece reflexão. No filme, o respeito dado à
profissão chegou a mudar relacionamentos, o que
é sumamente importante.
Um abraço.
Manoel Craveiro
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