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From: Tereza Lúcia Halliday
Date: 2009/6/27
Subject: UMA HISTÓRIA REAL
Compartilhando este impressionante artigo.
Tereza.
No Diário de Pernambuco
de sexta-feira. 26-JUN-2009:
COTAS RACIAIS
Meraldo Zisman // Médico e Psicoterapeuta de
Jovem
meraldozisman@uol.com.br
Quando estudante de Medicina, ele foi apelidado
de Chá Preto. Era
filho de um guarda de tráfego e residia com a
família em um barraco,
perto do lixão da Muribeca. Apesar de a
faculdade ser gratuita, seu
pai jamais poderia sustentá-lo no curso de
Medicina, se não fosse por
um extra que ganhava, dando aulas particulares
de direção e atuando
como despachante.
Quando chegou o quarto ano da faculdade, todos
nós começamos a
disputar um lugar de estagiário em serviços
especializados. Residência
Médica ainda não existia. E, para Chá Preto,
jamais haveria vaga
porque ele não possuía um "pistolão", não tinha
um importante nome de
família, e era preto e pobre. O rapaz,
entretanto, estudou muito, e
foi aprovado em um concurso para acadêmico
estagiário da Maternidade
da Encruzilhada. Lá, ele aprendeu a fazer
partos, curetagens, fórceps,
entre outros.
Por outro lado, tornou-se amigo de um obstetra -
o Dr. Aprígio - que
lhe conseguiu um contrato de médico na
prefeitura de uma pequena
cidade. Chá Preto era, agora, o Dr. Alcebíades
Bezerra. Quando chegou
à tal cidadezinha, foi chamado às pressas para
atender uma parturiente
em um barraco. Rapidamente, pegou as colheres do
fórceps e conseguiu
retirar a criança, ainda com vida. Do lado de
fora, a multidão dava
vivas ao doutor. A popularidade de Chá Preto foi
crescendo tanto, que
ele foi convidado para entrar na política. Sua
vocação, porém, era a
Medicina. Apesar do parco salário que a
prefeitura lhe pagava, ele
procurou frequentar congressos médicos e assinar
revistas
estrangeiras.
Casou com a filha de um comerciante local, uma
moça branca, bonita, e
educada em colégio de freira. A vida passava,
nasceram-lhe dois filhos
e morreu seu sogro. Ele vendeu as terras do
falecido e, com o dinheiro
da herança da esposa, mudou-se com a família
para o Recife, montou o
consultório, comprou a casa de um usineiro,
constituiu uma vasta
clientela, e adquiriu um automóvel - uma
"limusine" - que era dirigido
por um motorista alto, branco e de olhos azuis.
Certa tarde, o carro estancou em plena Rua Nova.
E, havia pressa para
chegar à maternidade, porque uma das grávidas
tinha entrado em
trabalho de parto. Desceram do automóvel,
nervosos, o motorista e o
profissional de Saúde. Nisto, passou pela rua um
mecânico. Ao que o
médico falou: acho que o defeito é o motor de
arranque.
O mecânico levantou o capô do carro e percebeu
que o cabo da bateria
estava frouxo. Porém, ao ouvir o comentário do
médico, ele ficou
aborrecido e, dirigindo-se ao motorista, disse
com raiva: se não
mandar esse nego calar a boca, eu deixo o senhor
ir a pé! Quem já se
viu um nego dar pitaco em assunto de branco?
Na hora, fez-se um silêncio constrangedor.
Apertado o cabo da bateria,
o carro pegou na primeira tentativa. Pensativo,
o Dr. Alcebíades
concluiu: não há diploma no mundo que vença o
preconceito!
Agora, eu pergunto: as tais cotas raciais, que
estão sendo apregoadas,
não contribuem para aumentar o racismo? E
lembrei o sacrifício dos
pais de Chá Preto para formá-lo em Medicina.
Quando dei por mim,
estava com os olhos cheios de lágrimas. E os
esforços que meus
próprios pais fizeram para me formar? Ah! Que
saudade danada eu tenho
dos meus velhos! |
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