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NOS DIAS DE CINEMA
Meus pais me deram um nome comprido. É bem
lindo, eu penso...Quando
perguntei o porquê dos meus nomes, mamãe
explicou em detalhes...
-"Princesas e rainhas, reis e príncipes, têm
mais de um nome. Você,
para nós, filha querida, é uma princesa, além de
uma rosa ainda em
botão."
Disseram também que eu nem preciso usar
perfume...porque já sou uma flor.
Falaram que os filhos são especiais para todos
os pais, que colocam as
crianças sob a proteção de santas e santos de
sua devoção.
Ah, que palavras tão bonitas de ouvir e guardar
no coração!
Hoje, vamos todos ao cinema. Sim, é uma alegria
e tanto, das maiores
que conheço!
Tenho só 5 anos. Acho que sou analfabeta.
Reconheço as letras, porém.
Aprendi também a conhecer, às vezes, alguns sons
escritos no papel.
Mas confesso que não sei ler.
Costumo fingir que sei ler - pego livros,
jornais e revistas...olho as
fotos, os desenhos, chamo as letras por seu
nome, depois me canso de
fingir. Queria muito saber ler de verdade.
Tudo isso contei porque me deu vontade...talvez
porque..não sei bem.
Hoje é sábado e vamos todos ao cinema. Eu, meus
pais, meus irmãos. Uma prima, que sabe ler bem
demais, também vai. Meus irmãos, mais jovens do
que eu, também não sabem ler. Mas eles não se
preocupam em fingir que sabem ...
No cinema, não podemos brincar nem fazer
barulho. Cinema tem
brincadeira e barulho na tela. Se eu não
obedecer as ordens de meus
pais, a babá tem autorização deles para me levar
de volta para casa.
Depressa, sem demora.
Na sala do cinema, vou olhar as figuras, pessoas
e coisas que aparecem
na tela. Não posso fazer barulho. Devo ficar
sentada, quietinha,
silenciosa. Não posso perguntar nada, "nadinha".
As perguntas ficarão
para depois da sessão. Também não podemos comer,
nem beber...só depois do cinema.
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Ah, que belo filme! Tão movimentado, com lindas
cores e muita gente.
O tempo vai passando...acontece, então, eu ficar
cansada de ler as
letras e os sons que consegui reconhecer. Estou
me deliciando com as
imagens bonitas. Outras, são divertidas. Aliás,
já aprendi algo muito
importante...o fim de um filme não é a cena que
parece ser o momento
final. Nós saímos da sala somente quando o filme
, de fato, termina:
quando não aparece mais na tela nenhuma
letrinha. Aí, deixamos a sala
de cinema com vontade de correr, já pensando na
sorveteria...onde vou
escolher sabores de picolé. Lá, poderei
conversar, perguntar tudo que
não sei sobre o filme.
Faço tantas perguntas que até me perco!
Ora, se eu vi, mas não sei, tenho que
perguntar...até compreender tudo.
Tudo isso contei porque hoje é sábado e, logo
mais, vamos todos ao
cinema e, depois, à sorveteria.
Um dia bem gostoso. Meu dia preferido. Bem
animado. Sempre uma
aventura deliciosa.
Theresa Catharina de Góes Campos
Belém de São Francisco - Pernambuco, novembro de
1962.
From: Tereza
Lúcia Halliday
Date: 2009/6/28
Subject: Re: NOS DIAS DE CINEMA
To: Theresa Catharina de Goes Campos
Olha aí a semente da futura crítica de cinema!
O fingir que lia, remeteu-me a uma cena de
Daniel, meu filho, com apenas dois anos: imitava
os pais abrindo uma revista e fazendo que lia.
Mas a revista estava de cabeça para baixo....
Ah, sim, sua recordação também me leva à
sorveteria, ponto alto após o cinema, mesmo na
jovem idade adulta.
Um beijo, Tereza Lúcia.
From: Luci Tiho
Ikari
Date: 2009/6/29
Subject: Re: NOS DIAS DE CINEMA - Theresa
Catharina de Góes Campos
To: Theresa Catharina de Goes Campos
Theresa Catharina:
Seus escritos fazem muito lembrar a nossa
infância também. Bons tempos. Tudo era novidade
e um mundo repleto para conhecer. Hoje, chegam
infinitas coisas para a criançada de maneira
fácil, mas elas não se interessam. Ficam
empolgados, se podem gritar, dançar e ligar
aparelhos eletrônicos. Luci
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