Theresa Catharina de Góes Campos

  INIMIGOS PÚBLICOS

Ambientado durante o período da grande depressão da década de
trinta, Inimigos Públicos, de Michael Mann, é um thriller envolvente,
de forte intensidade dramática, que trata da incansável ação
empreendida pelo agente policial Melvin Purvis, do FBI, a fim de
capturar John Dillinger, tido então como o maior assaltador de bancos
dos EUA.

Com base no livro Public Enemies: America´s Greatest Crime Wave
and the Birth of the FBI, 1933-34, de Bryan Burrough, o roteiro,
escrito por Ronan Bennett, em colaboração com Michael Mann e Ann
Biderman, estabelece um curioso paralelo entre a personalidade do
perseguidor e a do perseguido. Eles têm em comum, além do alto sentido
de profissionalismo, pelo menos, duas características: a de querer
cultivar constantemente a opinião pública e a de tratar bem seus
homens de confiança.

Dillinger (Johnny Depp) criou aura de defensor das vítimas da
depressão ao assaltar bancos e ao desafiar o governo, uma vez que
nenhum tipo de prisão, mesmo a Estadual de Indiana, mostrada ao início
do filme, conseguia detê-lo. Seu charme – era homem de apurado bom
gosto na maneira de se trajar – e suas audaciosas fugas dos presídios
de segurança máxima conquistam as massas, como o fez Jesse James no
passado.

Por sua vez, Purvis (Christian Bale) conseguiu se promover
diante da opinião pública e do próprio J. Edgard Hoover (Billy
Grudup), o então jovem diretor do FBI, comandando a perseguição a
Pretty Boy Floyd (Channing Tatum), um marginal de bela estampa, morto
por ele num pomar de maçãs, em East Liverpool, Ohio. Depois de
considerar Dillinger como Inimigo Público Número 1 dos EUA, Hoover
decide colocar Purvis no seu encalço.

No intervalo de vários assaltos a bancos, Dillinger conhece, num
restaurante – onde Diana Krall canta a balada Bye Bye Blackbird -,
Billie Frechette (Marion Cotillard), por quem se apaixona. Mas não a
ponto naturalmente de deixar de frequentar outras amigas, como a
cafetina Anna Sage (Branka Katic), que o trai, dando indicação a
Purvis sobre o local onde ele poderia ser encontrado na fatídica, para
ele, noite de 22 de julho de 1934.

Como já o fizera em Miami Vice, Mann consegue extrair belo
efeito das imagens captadas, dessa vez, por Dante Spinotti, em vídeo
digital de alta definição. A reconstituição de época, a cargo de
Nathan Crowley, também é outro elemento que contribui para a perfeição
de inúmeras sequências, como as que ocorrem, ao final, no interior e
nas adjacências do cinema Biograph, em Chicago, Illinois. E, como
aconteceu em Colateral, Mann soube explorar de forma magnífica a
seleção de músicas da época e principalmente o belo tema composto
especialmente para a película por Elliot Galdenthal.

O elenco, liderado por Johnny Depp, Christian Bale e Marion
Cotillard, é excepcional. Depp – que substitui Leonardo DiCaprio,
primeiro interessado no papel de Dillinger – compõe bem o homem, o
janota, o dândi, o amante, enfim, o mito, melhor do que o bandido
meticuloso, frio e sagaz. Na sequência em que os agentes do FBI cercam
a hospedaria Little Bohemia, numa pequena localidade do Wisconsin,
onde se encontram Dillinger e sua gangue, o ator mostra um bom momento
reflexivo deitado na mesma cama em que sua personagem se deitara em
1934.

Christian Bale faz questão de destacar, em sua estupenda
atuação, a integridade moral do agente Melvin Purvis. É notável como o
ator, detalhista ao extremo, consegue aprofundar na personagem a
certeza de que tem um dever profissional a ser cumprido, embora se
posicione muitas vezes em sentido contrário ao que lhe é imposto pelo
rígido esquema, comandado por Hoover, a que é submetido. Marion
Cotillard, a premiada intérprete de Piaf – Um Hino Ao Amor, de Olivier
Dahan, reaparece agora, de rosto limpo, bonito, lembrando a linha de
Natalie Wood, numa atuação discreta, mas de muita força dramática.

Billy Grudup, como J. Edgard Hoover, retrata, com correção, a
figura histórica do visionário criador do FBI. E há entre os
coadjuvantes – comparsas de Dillinger e agentes policiais sob o
comando de Purvis – vários atores internacionais, como Stephen Graham
(John “Red” Hamilton), Stephen Dorff (Homer Van Meter), Stephen Lang
(Charles Winstead) e principalmente David Wenham (Harry “Pete”
Pierpont), que se destacou em Austrália, de Baz Luhrmann.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
INIMIGOS PÚBLICOS
PUBLIC ENEMIES
EUA/2009
Duração – 140 minutos
Direção – Michael Mann
Roteiro – Ronan Bennett, Michael Mann e Ann Biderman, com base no
livro Public Enemies: America´s Greatest Crime Wave and the Birth of
the FBI – 1933-34, de Bryan Burrough
Produção – Kevin Misher e Michael Mann
Fotografia – Dante Spinotti
Música Original – Elliot Goldenthal
Edição – Paul Rubell
Elenco – Johnny Depp (John Dillinger), Christian Bale (Melvin Purvis),
Marion Cotillard (Billie Frechette), Billy Grudup (J. Edgar Hoover),
David Wenham ( Harry “Pete” Pierpont), Stephen Dorff (Homer Van
Meter), Stephen Lang (Charles Wistead), Branka Katic (Anna Sage),
Stephen Graham (John “Red” Hamilton) e Channing Tatum (Pretty Boy
Floyd)
 

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