Theresa Catharina de Góes Campos

  ASSÉDIO ORAL NOS SUPERMERCADOS

From: Tereza Lúcia Halliday
Date: 2009/8/3
Subject: Assédio Oral nos supermercados


MATRACA NOS SUPERMERCADOS
Tereza Halliday – Artesã de Textos

Três expressões populares descrevem o assédio oral
praticado por supermercados em seus recintos: “Tomou chá de chocalho”,
“Fala feito uma carretilha” e “É uma matraca”. A primeira se diz de
criança quando aprende a falar e não para mais – badala, badala como
chocalho de vaca desembestada. A segunda significa discurso sem fim. E
um dos significados de matraca nos dicionários é “tagarela, pessoa
faladora”.. Matraquear quer dizer insistir em algo com impertinência,
repetir monotonamente. Pois supermercados da cidade adotaram a idéia,
ou política de marketing, de matraquear apelos de vendas em suas
lojas.

Vamos fazer compras e somos azucrinados por mensagens
sobre produtos e promoções que já estão suficientemente anunciados nas
folhas volantes, distribuídas semanalmente nos edifícios e disponíveis
à entrada dos próprios supermercados. O locutor usa os mesmos bordões
do discurso publicitário de rádio, TV, bicicletas e carros de som: “Vá
logo!, Compre agora! Promoção espetacular! Não perca!”. Invoca a
urgência, exagera nas vantagens, apela para o desejo universal de
economizar. “Sen-sa-cio-nal!” Já viu promoção que não seja
sen-sa-cio-nal? Quando não é uma matraca ao microfone, é a própria
emissora de rádio interna que preenche o espaço com alguma música,
certas informações de utilidade pública e numerosas mensagens de
utilidade privada dos donos: compre, compre.

Fui ao supermercado no intervalo de almoço da matraca, a
fim de comprar confortavelmente, prestando atenção aos produtos e à
minha lista. Mas o almoço dele foi curto. Logo sua voz voltou a
invadir o espaço com o lero-lero de ofertas. Ouvi de um passante: “Nem
ligo. Nem sei o que ele está falando!”. Alguns caixas me disseram que
aprendem a “desligar”, não prestam mais atenção a fim de proteger-se
do estresse de conviver com aquele bla-bla-bla durante as longas horas
de trabalho. Passo lá dentro bem menos tempo do que os funcionários
e, quando termino o percurso pelos corredores da casa, estou esgotada,
ansiando por silêncio e sossego.

Alguma pesquisa de marketing séria constatou que
matraquear mensagens publicitárias dentro do supermercado realmente
aumenta as vendas? Em quantos reais? O assédio oral pode estar
provocando evasão de clientes que procuram sair do recinto o mais
rápido possível, em vez de ficar mais tempo comprando, ao som de
música suave e baixinha. Outro detalhe importante: música de
supermercado deve ser “de fundo” e não “de frente”. Excesso de
decibéis faz adoecer. Se o ambiente for confortável e agradável,
também em termos auditivos, aumentam as chances de fidelização.

Pensando em seduzir compradores pelo discurso de suas
matracas, os supermercados que embarcam nessa prática estão, na
verdade, gerando fregueses e funcionários estressados, por excesso de
estímulos sonoros e verbais. Está na hora de discutir o assunto em
reuniões de diretoria e ver se prevalecem o respeito, a sensibilidade
e o bom senso que essas empresas sabem tão bem aplicar em outras áreas de relacionamento com o cliente.

(Publicado no Diário de Pernambuco, 03 de agosto 2009, p.A-11)
 

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