Theresa Catharina de Góes Campos

  O GUERREIRO GENGHIS KHAN

Um épico magistral, com muitas e violentas cenas de batalhas,
ambientadas no Cazaquistão, na China e na Mongólia: assim é O
Guerreiro Genghis Khan, de Serguei Bodrov, que narra a legendária
história da juventude de um dos maiores conquistadores de todos os
tempos, dominador da metade do mundo conhecido, até mesmo da Rússia,
por volta do ano de 1206.

Para escrever o roteiro, Bodrov, de 61 anos, em colaboração com
Arif Aliyev, se inspirou no provérbio mongol que adverte: não desfaça
de um filhote porque ele pode se tornar um tigre feroz. Pois, de fato,
o garoto Temudjin (Odnyam Odsuren), criado com regalias pelo pai
Esugei (Ba Sen), após a morte dele, se torna escravo, perseguido por
todos os seus inimigos, dos quais, mais tarde, ele irá se vingar.

Ao completar nove anos, Temudjin é levado pelo pai a uma aldeia
a fim de escolher sua futura noiva. Ao contrário do que queria Esugei,
o filho se enamora de Borte (Bayertsetseg Erdenebat), que não pertence
à sua tribo Merkit. Ele reclama disso, mas, Temudjin finca o pé e
acaba convencendo-o de que será ela a sua preferida, quando, daí a
cinco anos, se dará o noivado.

Com a morte de Esugei, a situação se complica para Temudjin, que
assume a chefia (khan) dos Merkit. Ambicioso, Targutai (Amadu
Namadakov) deseja matá-lo a fim de lhe tomar o lugar de líder.
Temudjin só se livra de morrer porque existe uma tradição entre os
mongóis, levantada, aos gritos, por sua mãe, Oelun (Aliya), e
respeitada por seu algoz, de que não se pode matar uma criança.

Para se livrar de seu perseguidor, Temudjin se esconde no
deserto. Depois de sofrer uma queda num lago congelado, ele é salvo
por um jovem, Jamukha (Amarbold Tuvinshibayar), de quem se torna amigo
de sangue, de acordo com um ritual cumprido à risca por ambos. Os
reveses da vida, porém, fazem com que Temudjin caia novamente
prisioneiro de Targutai, que lhe coloca, na altura do pescoço, uma
canga.

Alguns anos se passam e Temudjin se torna então um jovem
(Tadanobu Asano) desejoso de ir procurar Borte (Khulan Chuluun) para,
com ela, noivar e casar. Os dois se encontram, mas ficam juntos por
pouco tempo porque os perseguidores voltam ao encalço de Temudjin que,
atacado por uma flecha, regressa a casa, enquanto Borte é presa pelos
Merkit.

Para libertar Borte, Temudjin pede ajuda a Jamukha (Sun Honglei),
que tenta dissuadi-lo da idéia, lembrando-lhe a tradição dos mongóis
de não guerrearem entre si por causa de mulher. Mas Temudjin insiste e
Jamukha, solidário, o acompanha no resgate de Borte, o que se dá com
sucesso. Não tardará muito, porém, os dois amigos vão se desentender,
originando-se desse desentendimento uma grande batalha que envolve
várias tribos. Ao final, Temudjin se sagra vencedor, recebendo o
título de Genghis Khan, grande líder de todos os mongóis.

A linguagem de Bodrov é de modelo clássico, absorvido dos grandes
mestres russos e japoneses. A característica é a valoração dos planos
panorâmicos por um excepcional manejo de câmara a cargo de Sergey
Trofimov e de Rogers Stroffers, que dão às cenas de sanguinárias
batalhas uma autenticidade impressionante. A ambientação de Dashi
Namdakov, os figurinos de Karin Lohr e a música de Tuomas Kantelinen
contribuem para o êxito do trabalho de Bodrov, que só se ressente de
alguns efeitos especiais um tanto bisonhos.

Os atores Tadanobu Asano e Khulan Chuluun estão muito bem como
Temudjin e Borte. Mas o grande desempenho do filme é o do ator chinês
Sun Honglei, intérprete de Jamukha, que tem uma atuação brilhante. Ele
dá a Jamukha um ar de ingenuidade no trato da amizade que tem por
Temudjin digno de nota. Depois de perder para o amigo uma batalha, que
ocorre durante um temporal, Jamukha, surpreso, lhe indaga: - Por que
você não teme os trovões, como todos os mongóis? Ao que o Temedjin lhe
responde: Porque, quando criança, eu não tinha onde me proteger
deles...

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
O GUERREIRO GENGHIS KHAN
MONGOL
Alemanha, Cazaquistão, Rússia e Mongólia/2007
Duração – 125 minutos
Direção – Sergei Bodrov
Roteiro – Arif Aliyev e Sergei Bodrov
Produção – Sergei Selianov, Sergei Bodrov e Anton Melnik
Fotografia – Sergey Trofimov e Roger Stroffers
Música – Tuomas Kantelinen
Edição – Valdís Oskarsdóttir e Zach Sataenberg

Elenco – Tadanobu Asano (Temudjin), Khulan Chuluun (Borte), Sun
Honglei (Jamukha), Amadu Namadakov (Targutai), Oelun (Aliya),
Bayertsetserg Edenebat (Borte criança) Ba Sen (Esugei), Odnyam Odsuren
(Temudjin criança), Amarbold Tuvshinbayar (Jamukha criança).

NOTAS DA EDITORA

A violência extrema de muitas cenas me impediria de assistir ao filme
"O guerreiro Genghis Khan". No entanto, um casal de amigos em São
Paulo me incentivou a mudar de idéia.

Ambos me ressaltaram a história de amor de Temudjin e Borte.

O futuro Genghis Khan fez uma escolha com determinação, indicando,
desde a infância, um sentimento duradouro que, logo na primeira
separação, já exigiu uma promessa da jovem: esperar por ele...
De fato, a partir daquele momento, o compromisso entre os dois estava
firmado. Mais de uma vez Temudjin foi resgatá-la dos que a levaram
contra a sua vontade. Com o seu amor fiel, demonstrado nas condições
mais adversas, aceitou as crianças que Borte gerou com os seus
captores, chamando-os sem dificuldade de "filhos", se apresentando a
eles como "pai", ignorando os risos irônicos dos que o cercavam.
Outra informação sobre a história de "O guerreiro Genghis Khan"
refere-se à defesa de crianças e mulheres, um dos princípios do
código de leis que implantou entre os mongóis.

Preparei-me, então, para ver e apreciar o filme. Mas nem imaginava
que, logo no início, eu me deixaria arrebatar e me sentiria
deslumbrada com a fotografia, dizendo baixinho: "isto é cinema
realizado por quem entende do assunto!".

Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 31 de julho de 2009.

 

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