Theresa Catharina de Góes Campos

  MINUTOS

Para os meus adorados pais, com todo o carinho de sua filha Therezita
Recife-Pernambuco, 07 de janeiro de 1961

Sentada na areia,
contemplando o mar,
a moça embebia-se do verde
que, na areia, em ondas se derramava.

O menino foi ficando triste,
começou a chorar,
e ninguém conseguiu a ele consolar,
porque ninguém sabia,
ninguém compreendia,
ninguém se detinha a meditar
que não pode ser alegre
um garoto de orfanato.

Olhou o rio que seguia silencioso,
ora calmo, ora revolto,
todos os dias sempre o via.
Olhou tanto a profundeza de suas águas,
tanto a sua magia, seu encanto,
que parecia mesmo ter achado nele
a coragem que lhe faltava.
Entretanto, depressa sentiu:
não tinha a coragem
que possuía o rio.
Jogou nele sua vontade de morrer,
lançou nele seus planos de fuga da vida,
seu desespero, sua angústia, sua fraqueza,
sua covardia,
e calmamente recebeu
a lição de coragem que lhe comunicava -
continuou seu caminho,
continuou a viver...

Após longo tempo de separação encontraram-se.
Olharam-se com o mesmo amor de outrora,
sentiram tudo que costumavam sentir,
todo o amor que dedicavam um ao outro.
E seus olhares juraram,
em muda e perene promessa
que, daquele dia em diante,
onde um estivesse,
o outro estaria também.

Descansava no peito do pai,
confiante, a cabecinha do garoto;
seu narizinho roçava aquele rosto,
suas mãos envolviam-no docemente.

Chegando, então, a que era esposa e mãe,
e contemplando tão bela cena,
nada disse,
porque não sabia transformar em palavras
a ventura que sentia.
Aproximou-se dos dois
e os abraçou com carinho,
assim ficando por longo tempo.

Ele não estava ali,a seu lado.
Lutava pela liberdade em sua pátria,
estava bem longe...
Entretanto, o retrato que deixara
consolava um pouco sua noiva,
a ela ficava acompanhando,
dando-lhe apoio.
O sorriso do noivo até viu
quando a moça, depois de contemplá-lo
tão demoradamente a suspirar,
começou-lhe uma carta,
quase chorando,
tentando naquelas linhas colocar
todo o seu afeto de juventude.
Toda a tristeza e vazio despertados
por sua angustiante ausência.
Todo o desejo vão que tinha de revê-lo!

Theresa Catharina de Góes Campos
Recife-Pernambuco, 10 de dezembro de 1960
 

Jornalismo com ética e solidariedade.